Austin — A futurista Amy Webb disse que a tecnologia poderá gerar uma nova biologia. Em painel neste sábado (9) no South by Southwest (SXSW), em Austin, nos Estados Unidos, ela afirmou que, em algum momento na próxima década, a Inteligência Artificial (IA) vai trabalhar ao lado da IO (Inteligência Organóide) para ir além dos sistemas de computação baseados em silício, com uso de fato de material biológico.
“Organóide é basicamente um minúsculo tecido que se qualifica e é estruturado como um órgão. Os cientistas começam com o tipo especial de célula-tronco - você pode pensar nisso como um espaço em branco. Eles começam a adicionar moléculas para incentivá-lo a se tornar um tipo de qualquer coisa, e então é como se fosse um órgão cerebral, é real”, disse Webb, fundadora e CEO do Future Today Institute e uma das pensadoras mais influentes e respeitadas do mundo em tecnologia e futuro.
Segundo ela, pesquisadores já desenvolveram um cérebro em miniatura que funciona como um computador. “Fizeram o organóide, anexaram-no a alguns elétrons e os ensinaram a jogar o videogame Pong”, disse.
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Webb explicou que a Inteligência Organóide utiliza materiais biológicos e células cerebrais para o processamento de informações, aproveitando suas capacidades inerentes além dos sistemas baseados em silício. Ela disse enxergar a existência de biocomputadores no horizonte, produzidos a partir de células cerebrais humanas.
“Isso não é ficção científica. Isso já foi feito há algumas semanas, havia um sistema de biocomputação feito de células cerebrais humanas vivas que aprendeu a reconhecer uma voz humana entre 240 vozes de pessoas usando clipes de áudio e alguma outra tecnologia de IA”, disse Webb, que também é professora na Stern School of Business da Universidade de Nova York (NYU).
“Vai demorar um pouco até que a IO possa competir com computadores tradicionais usando IA. Mas eventualmente os computadores biológicos serão mais rápidos, mais eficientes e mais poderosos do que temos hoje e eles consumirão uma fração da quantidade de energia para funcionar.”
Combinar IA e biotecnologia
Webb lançou neste sábado no South by Southwest em Austin, no estado do Texas, o Tech Trends Report, um estudo sobre as tendências de tecnologia que devem ser seguidas em 2024. A CEO do Instituto Future Today e professora da NYU Stern School of Business fez ainda uma provocação: “E se, em vez de encolhermos mais transistores em chips, nós aumentássemos nossos computadores?”.
Ela disse vislumbrar um futuro em que a produção de computadores biológicos envolverá a escolha de pessoas: isso significaria selecionar indivíduos com base em seu intelecto, conquistas acadêmicas e até mesmo características pessoais.
Mas alertou, contudo, para os dilemas éticos que podem surgir. Se a produção de computadores biológicos envolver seres humanos, questões como escolha, ética e até preconceitos podem surgir.
“Este GPU da Nvidia é o que há de mais moderno no momento para IA, ele é feito em uma fábrica. Isso seria diferente se fosse um cultivo biológico para células humanas em vez de uma fábrica manufaturada. E se, em vez de células-tronco anônimas, pudéssemos encomendar um biocomputador feito de uma pessoa?”, questionou.
“Você pode escolher, você pode ver o QI deles, você pode ver suas conquistas acadêmicas. E se a sua empresa encomendar um biocomputador de alguém que tiver publicado 200 artigos acadêmicos, um matemático reverenciado?”
Poder cada vez mais concentrado
Para Amy Webb, “não é a tecnologia que pode levar a resultados catastróficos”, dado o entendimento de que “a tecnologia não é boa nem ruim”.
“[O que importa] é como as pessoas usam a tecnologia: as pessoas que constroem e financiam a tecnologia e as suas empresas e o controle crescente que observam nas nossas vidas cotidianas.”
“E isso me traz de volta a esses ‘caras’, a super psicologia da tecnologia, que está concentrando o poder agora entre um grupo perigosamente pequeno de pessoas que detêm uma influência significativa na sociedade, no governo, na política, em nossas economias, porque controlam nossos recursos tecnológicos e porque acumularam grande riqueza, porque controlam a forma como comunicamos ideias uns com os outros. Alguns deles são famosos por comprar ilhas particulares onde as leis não importam.”
Segundo ela, algumas dessas pessoas estão trabalhando em lugares chamados de zonas econômicas especiais, que são basicamente três pequenas partes regulamentadas de cidades nas quais é possível realizar experimentos, testar novos genes e construir novos tipos de computadores.
Amy Webb também alertou para a necessidade de antecipação e de transição suave, especialmente na preparação para o que classificou como inevitável descontinuação de certos empregos e setores de negócios. A futurista propõe a criação de uma espécie de “departamento de transição que antecipe as mudanças econômicas resultantes da revolução tecnológica.
“Nossos líderes eleitos precisam olhar para frente, não para trás. Eu não me importo com a idade deles. Você precisa estabelecer um departamento de transição[...] É hora de reconhecer que certos negócios e empregos irão desaparecer e criar um pouso suave. Então isso não prejudica a economia.”
“Em vez disso, é preciso olhar para as áreas em que um ser humano será definitivamente necessário para o longo prazo, encanadores, eletricistas, dentistas, e parar de insistir que todos tenham que ir para uma faculdade de quatro anos. E lembrar às pessoas que os negócios são igualmente valiosos e tão importantes quanto. E, quando chegar a hora, fazer a transição para o que é preciso fazer.”
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