Por que o Pix, e não as criptomoedas, pode ser considerado o futuro do dinheiro

Criptomoedas podem ser atrativas, mas envolvem muita especulação e não trazem os benefícios de inclusão financeira do sistema de transferência do Banco Central brasileiro

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Bloomberg Opinion — Uma nova forma de dinheiro digital está se tornando viral, capturando dezenas de milhões de usuários, bilhões de transações e a atenção dos bancos centrais globais. Não, não é o bitcoin (BTC), negociado por cerca de US$ 68.000, próximo de um recorde histórico. Estou falando do Pix, que pode ter uma pretensão melhor de sinalizar o futuro das finanças que a criptomoeda.

Lançado em 2020, a ideia inicial por trás do Pix – como em todas as boas soluções de fintech – era aumentar a inclusão financeira, afrouxar o controle de um sistema bancário concentrado e tornar os pagamentos mais rápidos e eficientes.

O sucesso foi notável: foi usado por 160 milhões de pessoas, ou 80% da população adulta do Brasil, bem como por 13 milhões de empresas, e agora supera os cartões de crédito e débito como o método de pagamento preferido do país. O plano é torná-lo global em um momento em que os bancos centrais experimentam novas formas de pagamento e moedas digitais para manter-se atualizados sobre as inovações tecnológicas.

Esse seria o lado bom do “medo de ficar de fora” da onda do bitcoin, que está de volta com força total após a aprovação de fundos negociados em bolsa (ETFs) atrelados ao preço à vista – essencialmente um pacote brilhante e mais acessível para um token que ainda é muito mais adequado para acumular e especular do que para pagar contas ou gerar retornos previsíveis.

Enquanto o populismo do bitcoin está relacionado a ridicularizar parentes, amigos e especialistas que alertam contra a compra do que Warren Buffett apelidou de “veneno de rato ao quadrado”, o Pix é descaradamente institucional: é um sistema de pagamento fiduciário administrado pelo banco central; você precisa de uma conta bancária para usá-lo e a participação dos bancos comerciais é obrigatória. E não é necessário usar um blockchain.

No entanto o Pix ainda é futurista à sua maneira e, sem dúvida, é mais saudável para a economia do que a compra atual de tokens voláteis ou memecoins como Dogecoin ou Pepe, na esperança de que outra pessoa acabe por comprá-los de volta por um preço mais alto.

Um estudo do Fundo Monetário Internacional observou que as transações em Pix são liquidadas quase instantaneamente e a uma taxa mais barata do que outras alternativas: é gratuito para pessoas físicas e custa cerca de 0,33% para comerciantes – menos que as taxas de cerca de 1,13% para cartões de débito ou 2,34% para cartões de crédito e menos que a taxa de 3,99% proposta pelo sistema de pagamentos do WhatsApp, da Meta (META).

É claro que também há riscos, seja o vazamento de dados de transações pessoais expostos ao banco central, o risco de fraudes ou o fato de o sistema ainda não ter sido testado por uma grande crise financeira.

Mas seria uma grande cegueira ignorar os benefícios do Pix.

Um estudo citado pela revista The Banker constatou que os ganhos desse sistema de pagamento rápido e conveniente foram filtrados para pequenos bancos e empresas locais longe das grandes cidades, resultando em mais empréstimos para empresários e famílias e mais investimentos de capital.

O Banco Central também impulsionou a alfabetização digital para garantir que as pessoas não sejam deixadas para trás. Em um mundo em que as taxas de transação ainda estão em torno de 1% em muitos países e pesam sobre o crescimento, o Pix parece ser uma boa notícia.

Tudo isso nos leva de volta às notícias menos animadoras sobre o último aumento do bitcoin.

Apesar do sensacionalismo em torno dos ETFs, a ironia é que não há muita novidade aqui: é a mesma especulação de sempre, com os mesmos veículos listados de sempre, como a MicroStrategy, prontos para fazer mais compras (embora possa haver ameaças de receita para empresas como a Coinbase Global).

Os riscos que atormentam os mercados de criptos, no entanto, ainda estão presentes, incluindo o agravamento da fuga de capitais nos mercados emergentes: a Nigéria estimou que US$ 26 bilhões em pagamentos de criptografia não rastreáveis passaram pela entidade local da Binance no ano passado.

Esperamos que o Pix possa provar, a longo prazo, que esse medo de perder os benefícios do bitcoin não é páreo para a utilidade dessa forma de pagamento antes que a próxima bolha de cripto estoure.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Lionel Laurent é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre o futuro das finanças e da Europa. Já trabalhou para a Reuters e a Forbes.

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