Bloomberg — Em meio ao processo de reorganização promovido por Jane Fraser, CEO do Citigroup (C), com redução de equipe e mudanças na liderança para buscar maior lucratividade, a mais recente grande contratação do banco de Wall Street é um dealmaker conhecido por sua determinação constante.
Em uma de suas conquistas menos convencionais em quase 24 anos no JPMorgan (JPM), Viswas Raghavan ajudou o banco a conquistar o patrocínio do prestigioso campo de críquete Lord’s Cricket Ground do Deutsche Bank, em Londres, em um capítulo de sua rivalidade amigável com Anshu Jain, ex-CEO do banco alemão.
No JPMorgan, Raghavan deixava claro para os principais negociadores que estava focado em subir nas tabelas de classificação e superar o rival de longa data em investimentos bancários Goldman Sachs (GS), de acordo com pessoas familiarizadas com o executivo que falaram sob condição de anonimato.
Ele costumava repreender publicamente os banqueiros de investimento sêniores quando perdiam uma indicação de consultoria e exigia muito de sua equipe júnior. Sua pressão excessiva sobre os dealmakers chegava a irritar alguns.
Mas, depois de quatro anos co-dirigindo o setor de investment banking global do JPMorgan, Raghavan, 57 anos, está prestes a assumir toda a operação de Wall Street do Citigroup - o que inclui assessoria financeira, mercados de capitais, corporate e comercial -, como parte da reorganização na empresa liderada por Fraser, visando reforçar a rentabilidade.
A contratação do executivo dá uma visão inicial de como a cultura do negócio pode se moldar nos próximos anos.
Seu interesse em assumir o controle de uma divisão mais ampla também destaca suas ambições.
“Às vezes, você quer comandar o show em vez de fazer parte de uma equipe”, disse Mike Mayo, analista do Wells Fargo. A aposta do banqueiro veterano nas perspectivas do Citigroup é notável, segundo Mayo.
“A disposição de um executivo em passar de uma empresa de classe A para uma de classe B faz nos questionar se nossos números são conservadores demais.”
“Momento Decisivo”
Fraser - que está no meio de um processo de cortes que inclui a demissão de cerca de 20.000 funcionários no Citigroup - anunciou a nomeação de Raghavan em um memorando aos funcionários na última segunda-feira (26), chamando-o de “a pessoa certa para assumir neste momento crucial.”
Quando se juntar formalmente ao Citigroup, o que deve acontecer no verão do hemisfério norte, ele substituirá Peter Babej, que assumiu a divisão de forma interina quando Fraser dividiu o banco em cinco negócios “essenciais” no âmbito da reestruturação de setembro. Babej se aposentará.
Ainda não está claro se Raghavan - um fã do time de futebol do Reino Unido Arsenal e do restaurante Mayfair Scott’s - irá se mudar formalmente de Londres para a base do banco em Nova York, segundo um porta-voz da empresa, que se recusou a comentar mais sobre a nomeação.
No entanto, ele viajará frequentemente para as filiais ao redor do mundo e se reunirá com os clientes.
Antes de escolher oficialmente o executivo, o banco consultou várias mulheres sêniores de toda a indústria, segundo algumas das pessoas.
Desafios à frente
Raghavan está assumindo as rédeas de um negócio que sofreu nos últimos anos, à medida que as receitas permanecem mornas em meio a uma queda global na conclusão de deals e nas atividades nos mercados de capitais.
A divisão - que inclui consultoria, mercados de capitais, banco corporativo e comercial - é a menor das áreas do Citigroup.
Ela registrou uma queda de 15% na receita para US$ 4,6 bilhões no ano passado - contribuindo com menos de 6% do total. Com as despesas, a unidade teve prejuízo.
No Investor Day do Citigroup em 2022, os executivos estabeleceram metas para ganhar participação de mercado nas três principais divisões de banco de investimento: consultoria, coordenação de ofertas de ações e emissão de dívidas.
Dois anos depois, o Citigroup perdeu participação na consultoria e nos mercados de capitais de ações, enquanto a parcela do banco em emissão de dívida mal se moveu.
Fraser prometeu que suas medidas ajudarão a impulsionar um indicador-chave de rentabilidade conhecido como retorno sobre o patrimônio tangível para pelo menos 11% até 2027 no mais tardar. Nesse aspecto, a divisão de banking de Raghavan tem o caminho mais longo a percorrer.
Se Raghavan conseguir diminuir a distância em relação aos bancos concorrentes e às outras divisões do Citigroup - como serviços e banco de varejo nos EUA, nas quais as receitas aumentaram -, ele poderá se estabelecer como um possível sucessor de Fraser no futuro.
Pessoas que o conhecem disseram que não ficariam surpresas se ele trouxesse alguns de seus colegas mais próximos de seu ex-empregador para ajudar com a tarefa pela frente.
Em 2014, o chefe de Raghavan, Daniel Pinto - hoje CEO de Corporate & Investment Bank do J.P. Morgan, disse ao jornal Financial News: “Vis tem uma energia incrível e estimula todos a nunca ficarem satisfeitos.”
“Rei dos Bonds”
Raghavan não era um moneymaker, ou aquele que “faz chover dinheiro” no sentido tradicional da palavra. Em vez de ter uma vasta rede de contatos com CEOs aos quais pode recorrer para obter indicações de assessoria financeira, ele passou grande parte de sua carreira ajudando clientes a levantar dinheiro nos mercados de capitais.
Ele primeiro ganhou destaque como advisor na então maior venda de títulos conversíveis do mundo, ajudando o governo alemão a vender papéis que poderiam ser trocados por ações na Deutsche Telekom, a maior provedora de telecomunicações da Europa, em 2003.
Essas ações lhe renderam o apelido de “rei dos bonds conversíveis” pela imprensa europeia. Em um negócio posterior, ele aconselhou o bilionário indiano Anil Agarwal quando este adquiriu uma participação na empresa de mineração Anglo American em 2017 por meio de uma aposta complexa e estruturada.
O JPMorgan ganhou vários milhões de dólares apenas com essa transação. E, de maneira mais ampla, ele cultivou uma base de clientes sólida na Índia, de acordo com uma das pessoas.
Apesar de sua ascensão no JPMorgan, Raghavan nunca esqueceu suas raízes nos mercados de capitais.
Quando foi nomeado CEO das operações do banco na Europa, Oriente Médio e África em 2017, Raghavan disse a um repórter da International Financing Review que ele ainda era “um humilde banqueiro do CB.”
Fraser, que começou sua carreira como consultora da McKinsey dando conselhos a outros bancos sobre como melhorar seus negócios, chegou ao topo do Citigroup em 2021.
Após reduzir operações internacionais para simplificar o banco e dar aos trabalhadores mais flexibilidade para trabalhar em casa a fim de obter vantagem na contratação, ela iniciou uma reforma mais agressiva em 2023, quando as ações caminhavam para uma quarta queda anual consecutiva.
Em setembro, ela anunciou uma reformulação drástica das divisões da empresa e, pouco depois, alertou os funcionários para se alinharem com sua reforma ou saíssem.
Em janeiro, ela seguiu anunciando metas para reduzir a força de trabalho.
“Estou encorajado pelo fato de Jane estar disposta a fazer mudanças ousadas na trajetória do banco”, disse Daniel Babkes, gestor de portfólio da Pzena Investment Management, que detém ações do banco.
“O Citigroup está passando por uma transformação cultural, e isso é difícil de fazer se você mantém a mesma equipe.”
-- Com a colaboração de Katherine Doherty, Crystal Tse, Harry Wilson e Jenny Surane.
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