Da América do Sul ao Sudeste Asiático, cidades estão menos conectadas por voos

Companhias aéreas reduzem a frequência de voos para cidades menos demandadas em favorecimento de hubs maiores diante da falta de aeronaves e das dificuldades financeiras

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Bloomberg — Cidades ao redor do mundo, de Bangkok a Detroit, estão desaparecendo das malhas de voos internacionais à medida que o boom das viagens pós-Covid concentra o tráfego em hubs mais tradicionais.

Os serviços diretos de toda a América do Sul para qualquer aeroporto de Londres caíram um terço neste mês em comparação com o mesmo período de 2019, o ano anterior à pandemia, de acordo com o provedor de dados de aviação Cirium.

Em todo o Sudeste Asiático, as ligações pré-pandemia com a Europa praticamente desapareceram à medida que a Philippine Airlines, a Garuda Indonesia e a Thai Airways International reduziram os voos.

Manila e Jacarta, por exemplo, não possuem mais serviços diretos para Londres, Kuala Lumpur perdeu o acesso a Frankfurt e a conexão Bangkok-Roma evaporou, de acordo com o Cirium. Apenas Singapura, sede de uma grande feira aérea que começa nesta semana, está melhor conectada.

Os serviços que sobreviveram para destinos europeus principais operam quase todos com menos frequência.

A situação é semelhante na América do Norte, onde os moradores de Detroit ou até mesmo da capital Washington D.C. têm menos opções para a Europa. Na Flórida, Fort Lauderdale tinha mais de 50 voos diretos por mês para Londres e Paris há cinco anos, a maioria deles operados pela Marabu Airlines e pela Norwegian Air Shuttle. Agora, a cidade não tem nenhum, mostram os dados da Cirium.

As conexões que estão desaparecendo para centenas de milhões de pessoas contradizem a recuperação mais ampla das viagens aéreas desde a pandemia.

Os “buracos na rede de rotas refletem desafios sistêmicos enfrentados pela indústria: as companhias aéreas não conseguem obter novas aeronaves nem peças sobressalentes suficientes para atender à demanda dos passageiros. Ao mesmo tempo, os custos crescentes estão apertando as margens das empresas aéreas, obrigando-as a cancelar rotas que eram economicamente viáveis antes do Covid.

Os dados sugerem que os vencedores dessa recuperação incompleta são os hubs tradicionais, como Singapura e Nova York, que consolidaram seus papéis ao se tornarem ainda mais conectados.

A Delta Air Lines e a United Airlines estão operando ainda mais voos diretos do que antes da crise sanitária global de Nova York para os principais destinos europeus, como Londres e Paris. A Singapore Airlines está fazendo o mesmo a partir do Aeroporto Changi, sua base em Singapura.

Muitos países asiáticos reabriram suas fronteiras assim que os problemas globais na cadeia de suprimentos começaram a afetar a disponibilidade de aviões e componentes, disse Subhas Menon, diretor-geral da Associação de Companhias Aéreas da Ásia-Pacífico.

“A conectividade, mesmo antes da covid, é uma função de demanda, oferta, economia e regulamentação do transporte aéreo”, disse. A região da Ásia-Pacífico provavelmente sofreu mais nesse aspecto, afirmou.

Efeito pós-covid

Em 2020, menos de um ano após o início da pandemia, cerca de um terço das 50.000 rotas aéreas do mundo havia sido eliminado devido ao fechamento de fronteiras e aos bloqueios nacionais. Mesmo naquela época, havia preocupações de que alguns serviços pudessem nunca mais ser retomados.

Executivos da indústria aérea e aeroespacial devem discutir a magnitude da recuperação e os atrasos na entrega de aeronaves quando se reunirem nesta semana para a feira bienal Singapore Airshow.

A queda no fornecimento de novos jatos foi agravada pelos problemas mais recentes da Boeing. Os reguladores de aviação nos EUA aumentaram a fiscalização da fabricante de aviões e limitaram a produção dos modelos 737 Max após uma explosão na fuselagem em um voo da Alaska Airlines em janeiro.

Mas não é apenas a Ásia e a América do Norte que estão perdendo conectividade.

O número de voos neste mês de nações do sul da África, grupo que inclui a África do Sul e a Namíbia, para Londres diminuiu cerca de 25% em relação a fevereiro de 2019, de acordo com a Cirium.

“Todo o cenário pós-recuperação tem sido muito irregular”, disse Adam Cowburn, diretor-gerente da Alton Aviation Consultancy. O sucesso dos hubs durante a recuperação tem dependido em parte de sua capacidade de encontrar mão-de-obra suficiente para funcionar e, em alguns casos, da quantidade de financiamento governamental, disse ele.

Embora as companhias aéreas em todo o mundo devam registrar uma receita recorde de US$ 964 bilhões em 2024, a margem de lucro líquido coletiva delas para o ano será pouco alterada, em 2,7%, de acordo com as últimas previsões da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Isso está abaixo do custo de capital das companhias aéreas, segundo a entidade.

As pressões financeiras e a falta de aviões novos podem estar favorecendo Singapura, de acordo com Lim Ching Kiat, vice-presidente executivo de desenvolvimento de hub aéreo e de carga no Aeroporto de Changi. Lim vem tentando convencer as companhias aéreas a priorizarem Changi em relação a outros aeroportos menos estabelecidos quando os recursos estão escassos.

“Essas são as conversas que temos com as companhias aéreas”, disse ele. “Embora a demanda do mercado pareça saudável, ainda existe uma escassez de aeronaves.”

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