Da América do Sul ao Sudeste Asiático, cidades estão menos conectadas por voos

Companhias aéreas reduzem a frequência de voos para cidades menos demandadas em favorecimento de hubs maiores diante da falta de aeronaves e das dificuldades financeiras

Turistas no destino conhecido como Wat Arun em Bangkok: capital tailandesa perdeu voos que chegam da Europa
Por Angus Whitley - Danny Lee
19 de Fevereiro, 2024 | 10:55 PM

Bloomberg — Cidades ao redor do mundo, de Bangkok a Detroit, estão desaparecendo das malhas de voos internacionais à medida que o boom das viagens pós-Covid concentra o tráfego em hubs mais tradicionais.

Os serviços diretos de toda a América do Sul para qualquer aeroporto de Londres caíram um terço neste mês em comparação com o mesmo período de 2019, o ano anterior à pandemia, de acordo com o provedor de dados de aviação Cirium.

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Em todo o Sudeste Asiático, as ligações pré-pandemia com a Europa praticamente desapareceram à medida que a Philippine Airlines, a Garuda Indonesia e a Thai Airways International reduziram os voos.

Manila e Jacarta, por exemplo, não possuem mais serviços diretos para Londres, Kuala Lumpur perdeu o acesso a Frankfurt e a conexão Bangkok-Roma evaporou, de acordo com o Cirium. Apenas Singapura, sede de uma grande feira aérea que começa nesta semana, está melhor conectada.

Os serviços que sobreviveram para destinos europeus principais operam quase todos com menos frequência.

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A situação é semelhante na América do Norte, onde os moradores de Detroit ou até mesmo da capital Washington D.C. têm menos opções para a Europa. Na Flórida, Fort Lauderdale tinha mais de 50 voos diretos por mês para Londres e Paris há cinco anos, a maioria deles operados pela Marabu Airlines e pela Norwegian Air Shuttle. Agora, a cidade não tem nenhum, mostram os dados da Cirium.

As conexões que estão desaparecendo para centenas de milhões de pessoas contradizem a recuperação mais ampla das viagens aéreas desde a pandemia.

Os “buracos na rede de rotas refletem desafios sistêmicos enfrentados pela indústria: as companhias aéreas não conseguem obter novas aeronaves nem peças sobressalentes suficientes para atender à demanda dos passageiros. Ao mesmo tempo, os custos crescentes estão apertando as margens das empresas aéreas, obrigando-as a cancelar rotas que eram economicamente viáveis antes do Covid.

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Comparação do número de voos mensais de cinco grandes cidades europeias para destinos no Sudeste Asiático (2024 vs 2019)

Os dados sugerem que os vencedores dessa recuperação incompleta são os hubs tradicionais, como Singapura e Nova York, que consolidaram seus papéis ao se tornarem ainda mais conectados.

A Delta Air Lines e a United Airlines estão operando ainda mais voos diretos do que antes da crise sanitária global de Nova York para os principais destinos europeus, como Londres e Paris. A Singapore Airlines está fazendo o mesmo a partir do Aeroporto Changi, sua base em Singapura.

Muitos países asiáticos reabriram suas fronteiras assim que os problemas globais na cadeia de suprimentos começaram a afetar a disponibilidade de aviões e componentes, disse Subhas Menon, diretor-geral da Associação de Companhias Aéreas da Ásia-Pacífico.

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“A conectividade, mesmo antes da covid, é uma função de demanda, oferta, economia e regulamentação do transporte aéreo”, disse. A região da Ásia-Pacífico provavelmente sofreu mais nesse aspecto, afirmou.

Efeito pós-covid

Em 2020, menos de um ano após o início da pandemia, cerca de um terço das 50.000 rotas aéreas do mundo havia sido eliminado devido ao fechamento de fronteiras e aos bloqueios nacionais. Mesmo naquela época, havia preocupações de que alguns serviços pudessem nunca mais ser retomados.

Executivos da indústria aérea e aeroespacial devem discutir a magnitude da recuperação e os atrasos na entrega de aeronaves quando se reunirem nesta semana para a feira bienal Singapore Airshow.

A queda no fornecimento de novos jatos foi agravada pelos problemas mais recentes da Boeing. Os reguladores de aviação nos EUA aumentaram a fiscalização da fabricante de aviões e limitaram a produção dos modelos 737 Max após uma explosão na fuselagem em um voo da Alaska Airlines em janeiro.

Mas não é apenas a Ásia e a América do Norte que estão perdendo conectividade.

O número de voos neste mês de nações do sul da África, grupo que inclui a África do Sul e a Namíbia, para Londres diminuiu cerca de 25% em relação a fevereiro de 2019, de acordo com a Cirium.

Com exceção de Nova York, outras grandes cidades americanas tiveram redução no número de voos para capitais e outros destinos da Europa

“Todo o cenário pós-recuperação tem sido muito irregular”, disse Adam Cowburn, diretor-gerente da Alton Aviation Consultancy. O sucesso dos hubs durante a recuperação tem dependido em parte de sua capacidade de encontrar mão-de-obra suficiente para funcionar e, em alguns casos, da quantidade de financiamento governamental, disse ele.

Embora as companhias aéreas em todo o mundo devam registrar uma receita recorde de US$ 964 bilhões em 2024, a margem de lucro líquido coletiva delas para o ano será pouco alterada, em 2,7%, de acordo com as últimas previsões da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Isso está abaixo do custo de capital das companhias aéreas, segundo a entidade.

As pressões financeiras e a falta de aviões novos podem estar favorecendo Singapura, de acordo com Lim Ching Kiat, vice-presidente executivo de desenvolvimento de hub aéreo e de carga no Aeroporto de Changi. Lim vem tentando convencer as companhias aéreas a priorizarem Changi em relação a outros aeroportos menos estabelecidos quando os recursos estão escassos.

“Essas são as conversas que temos com as companhias aéreas”, disse ele. “Embora a demanda do mercado pareça saudável, ainda existe uma escassez de aeronaves.”

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