Bloomberg Opinion — É tentador descartar a resposta aos dados de inflação de terça-feira (13) como uma reação exagerada a uma pequena falha nas projeções de indicadores que são especialmente suscetíveis a ruídos sazonais.
No entanto, o desenvolvimento também é indicativo de questões mais profundas cuja influência pode estar conosco nos próximos meses e trimestres.
Os preços ao consumidor subiram em janeiro mais do que o esperado tanto para a leitura geral quanto para as medidas dos núcleos, em um horizonte mensal e anual.
O resultado de fato indica uma pequena divergência do consenso das projeções que poderia muito bem ter refletido dinâmicas sazonais. Ainda assim, as reações da mídia e do mercado foram consideráveis.
Os rendimentos dos títulos do governo dos EUA dispararam em toda a curva, encerrando o dia mais de 10 pontos-base mais altos. O dólar se valorizou enquanto todos os principais índices de ações caíram mais de 1%.
Isso desencadeou uma considerável cobertura da mídia, incluindo um artigo do Wall Street Journal na parte superior da primeira página declarando “Inflação complica o caminho para cortes de juros”.
Em vez de chamar tudo isso de uma reação exagerada, os investidores devem se concentrar nos três sinais importantes nesta divulgação mensal.
Em primeiro lugar, os erros nas projeções chamam a atenção tanto dos participantes do mercado quanto dos economistas à persistência da inflação do setor de serviços.
Um subconjunto importante de preços - chamado supercore (super núcleo) - avançou o mais em quase dois anos.
Esta é uma área onde uma notável desaceleração nos aumentos de preços é necessária para que o Federal Reserve atinja sua meta de inflação de 2% de longo prazo. E a desaceleração deve ocorrer antes que parte da deflação atual no setor de bens se esgote.
Em segundo lugar, os dados servem como um lembrete de que o setor de serviços continua a ser menos sensível aos juros mais altos.
Isso é particularmente problemático para um mercado que vinha apostando em cortes de taxas de juros agressivos e precoces pelo Fed.
Também é um sinal de que a dinâmica da “última milha” na batalha contra a inflação pode se complicar nos próximos meses.
Em terceiro lugar, os economistas novamente são obrigados a enfrentar a questão analítica complicada do nível da taxa de juros neutra.
Ainda mais controversa e operacionalmente complicada é a questão do que constitui a melhor meta de inflação para uma economia que mudou da demanda agregada insuficiente da década passada para a oferta agregada insuficientemente flexível desta década.
Todas essas questões permanecerão conosco nos próximos meses. Como tal, e não obstante considerações válidas relacionadas à sazonalidade, devemos resistir à tentação de descartar as reações do mercado e da mídia como uma “tempestade em um copo d’água”.
Em vez disso, devemos ver as reações como um alerta para traders, investidores e economistas que abraçaram, com pouco pensamento crítico, a narrativa de um pouso muito suave, quase automático, que abre a porta para cortes de taxa do Fed grandes e precoces.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Mohamed A. El-Erian é colunista da Bloomberg Opinion. Ex-CEO da Pimco, é presidente do Queens’ College, de Cambridge, conselheiro econômico da Allianz e presidente da Gramercy Fund Management. Ele é autor de “The Only Game in Town”.
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