Opinión - Bloomberg

Você acompanha dicas de finanças no TikTok? Algumas podem valer a pena

Embora nem tudo o que seja falado na rede seja condizente com o que as pesquisas econômicas, pode ser um bom primeiro passo para gerir suas economias

TikTok en la pantalla de un móvil
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Apesar de ser acusado de “envenenar” o pensamento da Geração Z, o TikTok não é o pior lugar para aprender sobre finanças pessoais.

Há alguns anos, James Choi, da Yale School of Management, comparou os conselhos dos livros de finanças pessoais mais populares com o que sugere a literatura acadêmica. Atualmente, contudo, é mais provável que os jovens acompanhem influenciadores de finanças nas redes sociais.

Inspirada pela pesquisa de Choi, recentemente assisti aos vídeos de alguns dos influenciadores de finanças pessoais mais populares no TikTok.

Embora nem tudo o que eles dizem seja condizente com o que as pesquisas econômicas e financeiras aconselham, algumas de suas dicas são úteis.

PUBLICIDADE

Há alguns problemas, como em todos os meios de comunicação, mas a maioria dos conselhos se parece com o conteúdo dos livros, embora voltados para as necessidades financeiras de jovens de vinte e poucos anos. Os conselhos mais comuns incluem:

  • Ter uma reserva de emergência em uma conta de poupança de alto rendimento – o suficiente para cobrir alguns meses de despesas;
  • Fazer um orçamento e certificar-se de economizar pelo menos um pouco;
  • Investir no mercado financeiro, de preferência em um fundo de índice (ETF), ou ações individuais se seu horizonte de tempo for mais longo;

Isso é um pouco diferente do que sugerem as revistas de economia e finanças. Em primeiro lugar, os economistas presumem que o objetivo não é necessariamente ficar rico – ter US$ 1 milhão antes dos 30 anos de idade – mas ter um consumo tranquilo e previsível ao longo da vida.

Quando você tem 22 anos e não ganha muito, economizar pode não ser sua maior prioridade. Os economistas também argumentariam que é aconselhável ter alguma proteção financeira em ativos de baixo risco, mas não necessariamente se você tiver muitas dívidas de cartão de crédito com juros altos, porque os juros dos cartões de crédito são muito mais altos do que em uma conta de poupança.

PUBLICIDADE

Outra diferença está em como investir. Economistas também favorecem a diversificação e o investimento em índices. Mas também acreditamos que uma parte importante da diversificação inclui ações estrangeiras.

Nos Estados Unidos, o público do TikTok tem um viés doméstico muito forte. Economistas argumentariam que isso diminui a diversificação ao concentrar o risco nas fortunas de seu país, cuja economia está altamente correlacionada com seus salários. O índice S&P 500, por exemplo, é altamente concentrado em algumas ações de grande porte.

LEIA +
Sem sonho da casa própria, geração Z prioriza desejos e gastos com luxo

De fato, no TikTok, o próprio conceito de gerenciamento de risco – além de ter ações do S&P 500 e ter uma reserva de emergência – está praticamente ausente.

A Teoria Moderna de Portfólio argumenta que os novos ativos devem ser avaliados segundo a forma como afetam o risco geral, e não apenas pelo dinheiro que podem render.

PUBLICIDADE

É preciso prestar atenção ao desempenho de sua carteira em uma recessão, quando as chances de desemprego são maiores (principalmente quando você é jovem) e a maioria das ações tende a cair.

Não é possível se tornar um milionário antes dos 30 anos – a menos que você seja herdeiro, celebridade ou atleta profissional – sem assumir muitos riscos. Os influenciadores não são francos sobre essa realidade.

Esse desconhecimento do risco pode explicar por que os influenciadores de finanças pessoais caíram na falácia da diversificação temporal, que é a ideia de que quanto mais longo for seu horizonte de investimento, menos arriscado será investir em ações.

PUBLICIDADE

Muitas das recomendações de investimento no TikTok se baseiam nos dados dos últimos 20 anos. No entanto, o futuro pode não ser como o passado e não há garantia de que as ações sempre voltarão a subir.

Quanto mais tempo você estiver nos mercados, maior será a chance de algo dar errado. A literatura sugere que se tenha mais ações quando se é mais jovem – não por ser menos arriscado, mas porque a maior parte do seu patrimônio líquido está em seus ganhos futuros, que são semelhantes a títulos e, à medida que você envelhece, eles se tornam uma parcela menor do seu portfólio. Portanto, o TikTok pelo menos aconselha a coisa certa, embora pelo motivo errado.

Outro aspecto curioso dos influenciadores de finanças é a sugestão de que morar com os pais é uma estratégia financeira viável – e não algo que se faz quando a vida está desmoronando. Suponho que morar com seus pais gera economias, mas viver por conta própria traz benefícios em termos de desenvolvimento pessoal.

Em geral, porém, encontrei muitas orientações financeiras boas no TikTok. Diferentemente dos artigos acadêmicos em revistas de economia, os vídeos da plataforma são atrativos e curtos e são práticos de uma maneira que a maioria dos economistas não é.

Um dos conselhos mais comuns que encontrei no TikTok, por exemplo, é que não basta simplesmente abrir uma conta em corretora – você também deve selecionar os fundos. Muitos influenciadores orientam seus seguidores nesse processo. Mostrar às pessoas a mecânica é extremamente valioso e, sinceramente, faz muitas das minhas preocupações parecerem secundárias.

LEIA +
A estratégia da LVMH para evitar a multiplicação de peças falsas no TikTok

Quando eu tinha 25 anos, estava estudando como parte de minha tese de doutorado sobre risco de aposentadoria, as melhores maneiras de investir e construir uma base financeira sólida. Eu gastava tanto com aluguel que não conseguia nem investir em um fundo. Naquela época, não havia TikTok, é claro, mas se houvesse, talvez eu tivesse repensado essa escolha.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Allison Schrager é colunista da Bloomberg Opinion. É pesquisadora sênior do Manhattan Institute e autora de “An Economist Walks Into a Brothel: And Other Unexpected Places to Understand Risk”.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também:

Jeff Bezos vende US$ 2 bi em ações da Amazon na maior operação desde 2021

Marcelo Claure se torna sócio de empresa de investimentos em tech Hedosophia