Bradesco terá evolução gradual, sem apostar em ‘bala de prata’, diz novo CEO

Marcelo Noronha diz que o banco vai contratar até 4.000 profissionais em tecnologia para acelerar entrega de produtos; ação caiu 16% após resultado trimestral e anúncio de plano

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Bloomberg Línea — Nos últimos dois meses e meio, o Bradesco (BBDC4) promoveu mudanças em alguns de seus principais cargos, a começar pelo comando, com a nomeação de Marcelo Noronha como CEO. E se dedicou a preparar um novo plano estratégico. O objetivo: reverter a trajetória de deterioração de seus indicadores financeiros e se reforçar na disputa pelo cliente em um dos mercados mais competitivos da economia.

O novo plano estratégico, com duração de cinco anos (2024-2028), foi apresentado ao mercado nesta manhã de quarta-feira (7), junto com os resultados do quarto trimestre de 2023, que, em alguns casos, ficaram aquém das estimativas de mercado.

Em reação aos números do balanço e ao plano, a ação preferencial perdeu 15,90% nesta quarta, anulando os ganhos em 12 meses. O banco perdeu mais de R$ 23 bilhões em valor de mercado, sinalizando que um dos primeiros desafios será recuperar a confiança do investidor.

“Não é o resultado [do quarto trimestre] que queríamos entregar, mas essa mudança não acontece de uma vez em só um trimestre. A mudança ocorre paulatinamente”, disse o CEO do Bradesco em apresentação na Cidade de Deus, como é conhecida a sede administrativa em Osasco, na Grande São Paulo.

”Queremos entregar resultados melhores a cada trimestre, incluindo mais rentabilidade e retorno”, disse ele. “Não vamos reinventar a roda. Não tem bala de prata”, completou.

O plano de ações para execução, algumas das quais já adotadas, foi definido a partir de um diagnóstico produzido com a McKinsey nos dois meses desde que Noronha assumiu. E prevê mudanças de estrutura, de estratégias e de organograma.

Noronha classificou o plano como ambicioso, contextualizando com o tamanho e a história do banco - “mesmo dentro do banco houve quem duvidasse que conseguiríamos apresentar um plano dessa envergadura, que, em outras empresas, levaria seis meses para ser entregue”.

Com o diagnóstico em mãos, o Bradesco apontou que pretende se tornar uma empresa mais ágil, o que demanda mudanças na estrutura da organização - com a redução de níveis hierárquicos - e o crescimento do time de tecnologia.

Noronha disse que o banco vai aumentar o time de tecnologia com a contratação de 3.000 a 4.000 profissionais para acelerar a capacidade de desenvolvimento e de entrega de produtos ao mercado, o chamado time to market.

”Podemos nos mover muito mais rapidamente do que estamos fazendo”, disse o executivo.

O banco também vai montar equipes dedicadas a melhorar a experiência do cliente em cada uma das unidades de atendimento, do varejo à alta renda, retirando essa atribuição da área de produtos.

”Temos um desafio de ampliar o share of wallet com clientes que já estão na nossa base”, disse Noronha, que destacou em apresentação que o banco está no top 3 em diferentes segmentos, de PMEs [pequenas e médias empresas] a private banking e varejo.

O plano, portanto, é crescer no chamado critério da “principalidade”, em alusão ao relacionamento do cliente com diferentes instituições do mesmo segmento.

Ele ressaltou que a execução do plano acontece em um ambiente de crescente concorrência e de mudanças do mercado.

“Há uma mudança estrutural no mercado e desafios na receita com prestação de serviços, com pressão de novos entrantes”, disse o executivo ao citar essa frente de receitas.

Novo segmento ’acima’ do Prime

O executivo antecipou que o Bradesco vai lançar ainda neste ano um novo segmento para o atendimento a clientes com maior renda e patrimônio, descrito como “afluente”, sob uma nova liderança.

O novo segmento vai atender clientes com renda mensal acima de R$ 25.000 ou R$ 300 mil em investimentos, em em que o banco já conta com 1,7 milhão de clientes, mas que atualmente são atendidos pelo Prime - atualmente abaixo do Private.

O novo segmento vai ser alocado em uma unidade de negócios chamada de Wealth, que abrange também a área de private banking, gestão de ativos e de patrimônio e a corretora Ágora, sob a liderança de Guilherme Leal, um executivo com 20 anos de banco que foi promovido a VP. Ele já estava à frente dessa área há um ano, desde a reorganização dessas atividades.

“A reestruturação do atendimento ao afluente inclui também a reestruturação da área de investimento”, disse Cassiano Scarpelli, CFO do Bradesco, no mesmo evento.

Ele citou medidas já adotadas, como o investimento e o “rejuvenescimento” da Ágora e a capacitação de especialistas de investimentos para que consigam atender os clientes seja com produtos da “casa” ou de terceiros.

”Temos conseguido reter e exercer a ‘principalidade’ em investimento. Mas há um caminho maior com esse cliente que é afluente ou Prime para que possamos ganhar share of wallet”, apontou.

O CFO disse que iniciativas na área de investimentos têm sido tomadas há dois anos e meio - uma delas justamente a reorganização sob o guarda-chuva de Leal.

-- Matéria atualizada às 19h25 com os dados de fechamento de mercado.

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