Bloomberg Opinion — Os investidores obcecados pela eficiência da Meta (META) não gostam de ver a empresa gastar dinheiro. A menos que possam lucrar com isso.
O anúncio da empresa na quinta-feira (1º) de que pagará seu primeiro dividendo trimestral em ações a US$ 0,50 por papel – e aumentará seu plano de recompra de ações em US$ 50 bilhões – desencadeou comemorações de acionistas: na sexta-feira (2) a companhia teve alta de mais de 20% na bolsa, e a Meta foi a empresa com melhor desempenho dentre as big techs que divulgaram balanços esta semana.
Esses pontos positivos ajudaram a oferecer uma espécie de distração das realidades pouco atraentes da necessidade da empresa de acompanhar as concorrentes em inteligência artificial (IA) e no projeto do metaverso de Mark Zuckerberg.
Após um período de demissões, as despesas com folha de pagamento começarão a aumentar, disse a empresa, à medida que a empresa faz uma transição para ter uma força de trabalho com funcionários técnicos mais bem remunerados em um ambiente de contratação extremamente competitivo para os principais talentos de IA.
E à medida que a Meta investe na infraestrutura necessária para desenvolver e executar a IA, ela alertou que as despesas de capital poderão ser até US$ 2 bilhões maiores que o previsto anteriormente.
Poucos investidores questionariam as intenções da Meta em investir enormes quantias em IA, dado o imenso potencial de ganhar dinheiro que tem para as aplicações existentes – não apenas como ferramentas, mas como um meio de aumentar a utilização e o envolvimento.
A CFO, Susan Li, disse aos investidores que as recomendações de vídeos baseadas em IA ajudaram a aumentar o tempo de exibição diário em 25% em comparação com o período do ano anterior.
Há menos confiança, entretanto, de que os investimentos no metaverso valerão a pena. No último trimestre de 2023, o segmento Reality Labs ultrapassou pela primeira vez US$ 1 bilhão em receita, graças às novas versões do headset Quest VR e dos óculos inteligentes Ray-Ban. Ótimas notícias, certo? Infelizmente, as perdas operacionais continuaram a crescer cada vez mais ameaçadoras: US$ 4,7 bilhões no período de outubro a dezembro, em comparação com US$ 4,3 bilhões há um ano. Os investidores podem esperar que as coisas melhorem? Não, mas os custos do Reality Labs devem “aumentar significativamente”, disse a empresa.
Talvez uma leitura mais justa do entusiasmo dos investidores da Meta na quinta-feira tenha sido o fato de os dividendos só terem sido possíveis graças à execução bem-sucedida de uma recuperação notável por parte de Zuckerberg em 2023. A Meta hoje está muito longe do pavor sentido no início de 2022 – e agregou cerca de US$ 700 bilhões ao seu valor desde então.
Boa parte da responsabilidade por esse resultado é da redução do quadro de funcionários em 19.000 pessoas. Mas também foi necessário salvar seu modelo de negócios do que parecia ser um revés sério, alguns até mesmo existenciais: as mudanças de privacidade da Apple dificultaram a identificação de usuários na web para gerar anúncios direcionados.
A Meta conseguiu contornar isso. A receita do trimestre aumentou 25% em relação ao ano anterior. O lucro triplicou. As suas previsões para o trimestre atual estão confortavelmente acima do que Wall Street esperava.
Tudo ótimo. Mas as afirmações de que o “ano da eficiência” se prolongará até 2024, como argumentaram alguns analistas, não parecem muito corretas.
Provavelmente, será um ano de outros focos e otimismo. Zuckerberg ganhou tempo e boa vontade para perseguir seus objetivos sem que os acionistas reclamassem de cada pequeno movimento.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia dos EUA. Foi correspondente para o Financial Times e a BBC News.
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