Títulos da Braskem recuperam parte das perdas em teste para os investimentos ESG

Preço dos papéis da dívida da companhia petroquímica voltou a subir enquanto a empresa lida com a crise causada pelo desabamento parcial de mina de sal-gema em Maceió

Maceió
Por Vinícius Andrade - Giovanna Bellotti Azevedo - Mariana Durão
29 de Janeiro, 2024 | 03:00 PM

Bloomberg — Os investidores foram rápidos em se livrar da dívida da Braskem (BRKM5) depois que a mina de sal-gema da petroquímica brasileira desabou parcialmente em dezembro — uma situação que já forçou dezenas de milhares de pessoas a evacuarem a cidade de Maceió desde 2019.

A pressão vendedora sobre os títulos de dívida em dólar durou menos de um mês até os preços começarem a se recuperar.

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Foi uma recuperação que lembra o ocorrido após o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco em 2015 e o rompimento de uma barragem da Vale (VALE3) em Brumadinho, que matou 270 pessoas: qualquer punição imposta pelos mercados de dívida durou pouco.

Novamente, o Brasil demonstra a rapidez com que os gestores estão dispostos a minimizar os desastres, levantando questões sobre a eficácia das diretrizes ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês). É um exemplo do entusiasmo cada vez menor pelo que deveria ser uma nova era de investimento responsável.

Os fundos que focam em ESG registaram saídas globais líquidas pela primeira vez no ano passado, à medida em que os investidores foram rápidos em transferir seu dinheiro para outras classes de ativos tradicionais.

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No caso da Braskem, eles olharam além de preocupações ambientais e de governança.

“Depois que você atravessa isso e realmente começa a investigar a qualidade e o calibre da empresa, este é um jogo totalmente diferente”, disse Jennifer Gorgoll, gestora de portfólio da Neuberger Berman Group, com sede em Atlanta, que detém títulos da Braskem.

A dívida da Braskem deu um retorno de 7% este ano, mesmo com o episódio ameaçando bairros inteiros de Maceió. Em certo ponto, uma parte da cidade estava afundando até 5 centímetros por hora, segundo comunicado da Defesa Civil.

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O desastre ambiental de Alagoas custou inicialmente à Braskem o seu status de grau de investimento e fez com que seus títulos com vencimento em 2030 perdessem até 12,5 centavos de dólar. No entanto, as notas reduziram as perdas, sendo negociadas em torno de 80 centavos, em meio a expectativas de que o balanço da empresa possa absorver quaisquer obrigações adicionais.

Títulos da Braskem

A empresa, que tem a Novonor (ex-Odebrecht) como maior acionista, acessou o mercado de dívida global em setembro e tem caixa suficiente para cumprir os próximos vencimentos de dívida.

As preocupações agora se concentram em outros fatores, como uma investigação do Congresso que deverá começar em fevereiro. As autoridades querem que a Braskem arque com até R$ 30 bilhões em possíveis passivos. A empresa, que realiza mineração em Maceió há cinco décadas, já se comprometeu a pagar R$ 14 bilhões em indenizações e custos de realocação.

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A falta de clareza em torno da dimensão total dos danos ainda afasta alguns investidores e provavelmente limitará uma nova alta de seus títulos em dólar.

“É muito difícil para um analista ir até seu gestor e dizer que há certeza suficiente para entrar neste momento”, disse Roger Horn, estrategista sênior de mercados emergentes da Mariva Capital Markets em Miami. Embora a maioria dos investidores acredite que a Braskem tenha liquidez suficiente para lidar com passivos adicionais, as perspectivas permanecem turvas, disse ele.

Mas se a história servir de guia, os compradores de títulos retornarão ao crédito.

Deficiências regulatórias

Foi o que aconteceu com a Vale. Mesmo depois de dois grandes desastres — um em sua própria barragem e outro em sua joint venture com a BHP — seus títulos com vencimento em 2036 são negociados com um prêmio, a cerca de 108 cents.

O Brasil, no entanto, não facilita aos investidores a precificação dos riscos ESG, devido a deficiências na supervisão regulatória do setor. A tragédia de Brumadinho, há cinco anos, deveria ter sido um ponto de virada. O governo proibiu as chamadas barragens a montante, que são a forma mais barata e perigosa de conter resíduos. Os reguladores determinaram o desmantelamento dessas estruturas, o que ainda está em curso, já que essas intervenções em barragens são arriscadas.

A maioria dos projetos de lei que visam melhorar os controles após os desastres, entretanto, ainda estão pendentes de análise no Congresso, incluindo um que estabelece regras específicas de licenciamento ambiental para mineradoras.

Além disso, os reguladores e autoridades locais continuam sobrecarregados com deficiências orçamentárias e de pessoal, de acordo com Suely Araújo, especialista sénior em políticas públicas do Observatório do Clima, uma rede de organizações ambientais.

“É impossível garantir que a mina será monitorada com frequência depois que a licença ambiental for concedida”, disse Araújo, que liderava o Ibama na época do rompimento da barragem da Samarco.

Para os investidores que olham o mundo através das lentes ESG, essa falta de supervisão regulatória representa um risco, disse Stephen Liberatore, chefe de ESG e impacto, renda fixa global da Nuveen. “Será que os regulamentos são apropriados e estão sendo aplicados?”

Por outro lado, a derrocada que segue um desastre pode ser uma oportunidade de compra, como demonstrou a Braskem.

A onda vendedora após a perda do estatuto de grau de investimento criou uma oportunidade para Eduardo Ordonez, gestor de carteira da BI Asset Management em Copenhagen, que também possui os bonds da Braskem.

“Nas semanas em que a fraqueza se instala, pode ser uma boa oportunidade para comprar um pouco”, disse ele. “O sentimento pode permanecer um pouco fraco, mas é fácil ver esse título performando bem em 2024.”

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