Por que cada vez mais CFOs chegam ao cargo de CEO nas grandes empresas

Levantamento com companhias do S&P 500 e da Fortune 500 revela que 8,4% delas promoveram o executivo-chefe financeiro ao comando em 2023, o índice mais alto em dez anos

Foto de um homem andando na rua, ele veste camisa azul escuro e calça cinza e leva uma valise
Por Nina Trentmann
20 de Janeiro, 2024 | 07:30 AM

Bloomberg — A Newell Brands, empresa americana por trás de marcas como Rubbermaid e Sharpie, fez cortes profundos nos últimos anos para simplificar as operações. O movimento ajudou Chris Peterson a passar de CFO (Chief Financial Officer) a presidente e depois a CEO em maio de 2023.

Tal mobilidade o colocou em um grupo cada vez maior de CFOs que avançaram para o cargo mais alto. Um número recorde de CFOs ascendeu ao cargo principal nas maiores empresas dos Estados Unidos no ano passado. No Brasil e na América Latina essa trajetória também se faz presente.

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Entre as companhias que fazem parte do índice S&P 500 e da lista Fortune 500, 8,4% delas promoveram um CFO a CEO, de acordo com dados exclusivos da Crist Kolder Associates, uma empresa de recrutamento de executivos, divulgados pela Bloomberg News. Isso representa um aumento em relação aos 5,8% de uma década atrás e é o maior patamar dessa série histórica.

Gráfico

Para dar esse salto, contudo, os executivos da área financeira de uma empresa também precisam conhecer bem o que impulsiona o crescimento, de acordo com Peterson.

“Passei a maior parte do meu tempo em estratégia e operações”, disse ele, que trabalhou fora do setor financeiro anteriormente em sua carreira, inclusive na Ralph Lauren e na Revlon.

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Na América Latina, o então CFO do Mercado Livre (MELI), Pedro Arnt, deixou a empresa e anunciou dias depois que assumiria como co-CEO da dLocal (DLO), fintech uruguaia de pagamentos que é listada na Nasdaq. Arnt trabalhou 12 anos como CFO na maior empresa de e-commerce da região.

No Brasil, Gustavo Moscatelli assumiu no ano passado como CEO da Movida (MOVI3) vindo do cargo de CFO; anteriormente, ele havia sido CFO do Grupo Vamos (VAMO3) por seis anos.

Na Westwing (WEST3), com a saída do então CEO e fundador Andres Mutschler, o cargo máximo passou a ser acumulado interinamente, desde meados do ano passado, pelo CFO Marcelo Kenji.

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Historicamente, os CFOs são conhecidos por fazerem cálculos matemáticos, mas isso tem mudado.

“Os CFOs estão assumindo uma função mais operacional nessas empresas, tornando-se mais conhecidos”, disse Josh Crist, managing partner da Crist Kolder. “Quanto mais você conseguir conquistar como CFO, mais chances terá de conseguir o cargo mais alto”.

O recrutador espera que a tendência continue à medida que as empresas apertam o cinto em meio a uma perspectiva ainda incerta para a economia dos Estados Unidos, colocando assim os CFOs em uma posição de destaque.

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Apesar do sucesso crescente dos CFOs, trabalhar como COO (Chief Operating Officer) continua sendo o caminho mais evidente para chegar ao cargo de CEO. Quase 50% dos CEOs que vieram de dentro da companhia ocupavam cargos do tipo COO, de acordo com a Crist Kolder.

No ano passado, muitas empresas deram responsabilidades adicionais a seus CFOs. Isso incluiu a Marriott International (MAR), que entregou à CFO Leeny Oberg a função de aumentar o portfólio de hospedagem da rede, ajudando a garantir que a empresa tivesse os recursos financeiros para seguir sua estratégia de crescimento, disse ela.

A ascensão de CFOs também pode ajudar mais mulheres a chegar ao cargo mais alto, já que elas ocupam cerca de 19% dos cargos de CFO nas grandes empresas dos EUA, de acordo com Crist Kolder.

Há alguns anos, Julie Sloat estava dirigindo uma unidade da American Electric Power. Ela foi promovida a CFO em 2021 e depois a CEO no início de 2023.

“Trata-se de conhecer todos os aspectos do seu negócio”, disse ela, referindo-se à sua transição para o cargo de CEO.

De todo modo, o cargo de CFO está se tornando mais volátil, com o aumento da rotatividade e a diminuição da permanência.

No ano passado, houve 120 mudanças entre as cerca de 670 empresas do S&P 500 ou da Fortune 500, um salto de 50% em relação a dois anos atrás. Foram incluídas no levantamento empresas que vão desde a American Express (AXP) até a Tesla (TSLA).

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