De IA a green tech: como o Inteli quer se tornar também uma escola para CEOs

Instituto de Tecnologia e Liderança, fundado por André Esteves e Roberto Sallouti e liderado por Maíra Habimorad, avança com cursos executivos voltados a alta liderança e profissionais de empresas

Sede do Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança) em São Paulo (Foto: Divulgação/Inteli)
19 de Janeiro, 2024 | 05:05 AM

Bloomberg Línea — Quando planejavam um instituto que pudesse formar profissionais com competências não só de tecnologia mas também de liderança, com aprendizado com base em projetos, André Esteves, Roberto Sallouti e Maíra Habimorad visitaram diversas faculdades de referência no exterior. Entre os objetivos, aprender sobre as melhores práticas mas também entender como estruturar o projeto para que o conhecimento pudesse ser replicado de forma a ampliar o seu potencial de alcance.

Iniciando o seu terceiro ano de operação, o Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança) recebe no fim deste mês cerca de 160 alunos de uma nova turma selecionada para os cursos de graduação, enquanto os que entraram em 2022 começam a fazer estágios regulares.

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Será um ano também para avançar com os planos para pós-graduação (veja mais abaixo) e na frente de cursos executivos, para profissionais que já estão no mercado de trabalho. E um deles, em particular, mira o efeito multiplicador pretendido também no topo da pirâmide corporativa do país.

O curso em questão envolve tecnologias emergentes e é direcionado para a alta liderança das empresas, como CEOs, VPs e diretores que não são da área, mas experimentam a necessidade de busca de conhecimento diante do rápido avanço de inovações como a Inteligência Artificial (AI) generativa.

O curso é dividido em oito módulos com um tema específico em cada um, de Inteligência Artificial a Blockchain e cibersegurança, além de IoT (Internet das Coisas) e green tech, entre outros.

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“Discutimos tanto as oportunidades da aplicação das tecnologias nas respectivas áreas de negócios da companhias das altas lideranças como os riscos caso sejam adotadas por concorrentes que já existem ou que podem surgir”, disse Maíra Habimorad, CEO do Inteli, à Bloomberg Línea. “É um curso de compreensão de tecnologias emergentes e de estratégia de negócios”, resumiu.

Para esse curso, o Inteli buscou como professores profissionais que estejam na “fronteira do conhecimento”: para o módulo de green tech, por exemplo, o cofundador de uma das principais empresas de energia do país; para o de IoT, o fundador de uma companhia que desenvolveu sensores de dados com uso da tecnologia. E assim por diante, conciliando conhecimento técnico com acadêmico.

“São professores definidos pela coordenação acadêmica e que podem vir do networking, a partir dos nossos relacionamentos e da construção do Inteli, como doadores e executivos parceiros”, explicou Ana Beatriz Garcia, diretora de Operações do Inteli, na mesma entrevista à Bloomberg Línea.

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Em pouco mais de dois anos de operação, além do tempo citado de preparação, Sallouti, Esteves, Habimorad e Garcia, além do conselho e de outras pessoas envolvidas, avançaram com uma teia de relacionamento para a educação com algumas das maiores lideranças do país - e as respectivas empresas em que atuam.

“A Dell é um exemplo. Falamos muito com o Diego Puerta, que é o CEO. Há muita colaboração em projetos e com professores e eles usam a nossa estrutura e o nosso prédio, e os nossos alunos fazem estágio na empresa em temas como IA. São relações que se aprofundam”, disse Habimorad.

O outro curso executivo B2B é o de Ciência de Dados (Data Science) para decisão de negócios, voltado para o profissionais de média gerência, que não são da área de tecnologia, mas têm carreira consolidada e precisam de mais conhecimento da área para, justamente, tomar melhores decisões.

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Nesse caso, são turmas de quarenta alunos e duração de oito semanas. Esse curso já tem três turmas fechadas para o primeiro semestre, depois de duas que foram encerradas no ano passado. A meta é que, ao fim deste ano, cinco turmas tenham sido concluídas.

“Entrevistamos mais de quarenta CEOs e CTOs e pudemos constatar que um dos desafios é fazer as duas áreas dialogarem, a de negócios e a de tecnologia”, disse Garcia. “O profissional de negócios precisa saber fazer as perguntas certas para o de tech para que possa tomar melhores decisões. E o de tech tem que ter mais condições de entender quais são as dores de quem é do business.”

Os cursos executivos atendem a objetivos como disseminar conhecimento na sociedade, ampliando o seu impacto, e ajudar a viabilizar financeiramente o Inteli de forma crescente.

O instituto foi idealizado em 2019 por Esteves e família e Sallouti como uma iniciativa sem fins lucrativos independente do BTG Pactual, banco do qual são os principais acionistas e executivos, inspirado em faculdades americanas como Stanford e MIT (Massachusetts Institute of Technology) depois de dois anos de estudo de benchmarks que melhor atenderiam aos objetivos.

Esteves e família viabilizaram a criação do Inteli com a doação de R$ 200 milhões, além do envolvimento e do corpo a corpo frequente com empresários e executivos para a doação de bolsas que bancam não só os quatro anos da gradução de um aluno como ajuda financeira para alimentação e moradia.

Em meados de 2023, 55% dos cerca de 340 alunos à época contavam com algum tipo de bolsa, dado que o objetivo é atrair e formar jovens promissores independentemente da condição socioeconômica.

Preparação para os cursos executivos

Os profissionais indicados pelas empresas que acertam os cursos executivos passam por um assessment para avaliar o nível de conhecimento. “Como o curso tem um componente importante de discussão de cases e de realização de desafios que são trazidos pelas empresas, ter um nível médio de letramento é importante para que os alunos sintam que estão conversando de igual para igual”, disse Habimorad, que anteriormente foi CEO da Cia de Talentos e diretora Acadêmica e de Inovação do Ibmec.

Entre as competências requeridas e mensuradas estão ferramentas de análise preditiva, gestão de projetos e pessoas e algoritmos, decomposição e reconhecimento de padrões. O assessment se divide em macro temas: análise de dados, pensamento matemático e conhecimento de negócios.

Segundo a CEO do Inteli, ainda que muitas empresas hoje tenham adotado estratégias digitais, não necessariamente possuem o mapeamento de tais conhecimentos entre os seus funcionários.

O objetivo é que esse teste aplicado e desenvolvido pelo Inteli possa se tornar uma referência como é o GMAT, exame internacional para raciocínio lógico e outras habilidades que é exigido em processos de admissão em escolas de negócios, entre outras.

Os alunos do curso executivo aprendem em cima de cases reais de escolas de negócios como a de Harvard e a da Insead com aulas semi-imersivas presenciais um dia inteiro a cada duas semanas. Assim como acontece com a graduação, um componente fundamental é a aplicação prática de casos estudados.

Os professores são nesse caso profissionais do mercado, que atuam em cargos de liderança em empresas como Serasa e IBM, entre outras.

Nova frente: pós-graduação

Para o ano que começa, há planos também para o lançamento de cursos de pós-graduação em áreas como cibersegurança e para a formação de professores no método conhecido como project based learning, ou aprendizado com base em projetos, que é justamente um dos pilares do Inteli.

“Como temos que fazer a formação de professores para a nossa metodologia, transformamos em uma pós-graduação. Mas ela é fechada para os nossos professores. E isso tem gerado muito interesse em professores de ensino superior e de ensino básico de outras instituições. Portanto estudamos oferecer isso de forma aberta ao mercado para educadores”, disse Habimorad.

Segundo ela, há um sentimento de responsabilidade de contribuir para disseminar conhecimento sobre essa metodologia, que existe há mais tempo, mas é menos difundida no país, diante dos resultados avaliados como excelentes dos alunos do Inteli.

“O Inteli é uma organização sem fins lucrativos e nosso sucesso é medido por impacto. Se mais escolas e instituições de ensino superior adotarem a metodologia em alguma escala, entendemos que contribuímos para a educação no Brasil, aproximando a teoria da prática”, disse.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.