Como este gestor para países emergentes superou 99% dos rivais ao ignorar o Fed

Fundo da Fiera Capital, sediada em Montreal, obteve retorno de 29% nos últimos 12 meses, superando 4.383 fundos de seu grupo, de acordo com dados da Bloomberg

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Bloomberg — Um gestor para mercados emergentes que superou 99% de seus concorrentes diz que os investidores em ações podem ganhar dinheiro em 2024, quer o Federal Reserve (Fed) corte ou não as taxas de juros, concentrando-se em países que passam por transformações econômicas.

A Fiera Capital, sediada em Montreal, no Canadá, obteve retorno de 29% para o seu fundo EM Select nos últimos 12 meses, superando 4.383 fundos de seu grupo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Dominic Bokor-Ingram, que cogerencia o fundo com Stefan Bottcher, disse que os ganhos vêm da compra de ações em mercados com pouca representação, como Grécia, Arábia Saudita e Vietnã, onde as mudanças de política impulsionam transformações independentemente das condições monetárias globais.

Embora os cortes nas taxas do Fed criem um ambiente favorável para a tomada de riscos em geral e estimulem os fluxos de capital para mercados emergentes, a ausência desses cortes não deterá o rally impulsionado por essas histórias de recuperação locais, segundo Bokor-Ingram.

A chave, para ele, é olhar além dos mercados com grande peso nos índices da MSCI, como China e Índia, e assim reduzir a correlação com os fluxos relacionados ao índice.

“Nossa estratégia é muito insensível em termos relativos à política do Fed”, disse ele. “O fator predominante são as reformas domésticas e como elas se desenrolam. Por exemplo, se o Vietnã obtiver o status de mercado emergente da MSCI ou se a Grécia aumentar o turismo por meio de reformas, então o Fed não importa tanto.”

O Fiera Oaks EM Select Fund avançou quase cinco vezes mais do que o ganho de 7% do Índice de Mercados Emergentes da MSCI em 2023. Neste ano, o fundo já está em alta, enquanto o indicador de referência caiu mais de 5% para o pior início de ano desde 2016.

Países em processo de reformas de suas políticas econômicas continuam se destacando em 2024 e desafiam uma queda liderada pela desaceleração da China e dúvidas sobre o momento do afrouxamento do Fed.

Bokor-Ingram mencionou três países como suas apostas mais seguras: Vietnã, Grécia e Arábia Saudita. Os três implementaram reformas e são pouco representados por investidores internacionais.

Vietnã

O Vietnã tem buscado uma promoção para o status de mercado emergente nos índices MSCI e FTSE Russell há anos. Embora o progresso tenha sido lento, reformas econômicas e de estrutura de mercado, como uma revisão do índice de ações, podem aproximá-lo de um upgrade.

A melhoria dos volumes de negociação de ações sinaliza uma participação interna maior de varejo e pode apoiar uma futura mudança, disse Bokor-Ingram. O índice de ações do país subiu 4,6% este ano após um rali de 12% em 2023.

Grécia

As reformas estruturais da Grécia sob o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis receberam elogios de investidores globais e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os títulos gregos serão incluídos em índices de elite em 2024 após upgrades da Fitch Ratings e da S&P Global Ratings no ano passado, ajudando a atrair recursos dos trilhões de dólares focados em dívida com grau de investimento.

As ações da nação, embora ainda classificadas como mercado emergente, subiram quase 40% no ano passado.

Arábia Saudita

A atividade econômica não relacionada ao petróleo da Arábia Saudita continua se expandindo, com investimentos planejados nas indústrias de semicondutores este ano, após incursões na fabricação de carros elétricos, esportes e startups de tecnologia. Isso afeta outros países da região, como os Emirados Árabes Unidos, disse Bokor-Ingram.

Enquanto isso, um eventual fim da guerra entre Rússia e Ucrânia também pode impulsionar as ações do leste europeu, disse ele. Outros países que agora estão no radar de Bokor-Ingram incluem Argentina e Turquia.

O índice Merval da Argentina subiu 20% em termos de dólar este ano, à medida que os investidores apostam que o novo governo de Javier Milei conterá gastos e desregulamentará a economia em busca de sustentabilidade fiscal. Bokor-Ingram disse que a Fiera pode considerar investir nas ações do país este ano, após uma lacuna de seis anos, se o novo presidente avançar com as reformas.

“O problema é que, para a Argentina voltar a crescer, a população primeiro precisa ficar mais pobre e a espiral de aumento dos salários tem que acabar”, disse ele. “Se a nova administração de Milei tem capacidade suficiente para seguir adiante é algo que estamos observando de perto.”

Outros países

A Fiera também começa a olhar novamente para empresas turcas, à medida que Ancara busca uma ortodoxia econômica, revertendo anos de afrouxamento da política monetária. O país enfrenta “grandes ventos contrários” em termos macroeconômicos e suas reservas cambiais são baixas, mas a mudança de política melhorou a perspectiva do país, disse ele.

A estratégia seletiva da Fiera também inclui uma lista de mercados a serem evitados em 2024. No topo da lista estão Egito, Nigéria, Quênia, Bangladesh e Paquistão.

As razões de Bokor-Ingram: conflitos ao longo da rota de transporte do Mar Vermelho podem reduzir o PIB do Egito; as reformas da Nigéria travaram e a inflação permanece resistente; o problema da dívida do Quênia é muito pior do que o esperado devido a perdas no setor público; e o Paquistão enfrenta estresse no balanço devido a um problema de “dívida circular” decorrente de subsídios de energia não pagos.

“Não gostamos de países que criam um risco existencial para o nosso capital”, disse Bokor-Ingram.

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