Unicórnio brasileiro de pagamentos busca expansão global com estreia nos EUA

CloudWalk atingiu o break even no ano passado e conta com 1,1 milhão de clientes que geram cerca de US$ 400 mi em receita anual, segundo o CEO, Luis Silva

Última rodada da CloudWalk em 2021 avaliou a companhia em US$ 2,15 bilhões
Por Daniel Cancel e Giovanna Bellotti Azevedo
18 de Janeiro, 2024 | 02:48 PM

Bloomberg — Luis Silva, CEO e fundador da startup brasileira de pagamentos CloudWalk, tem grandes ambições.

Depois de lançar a empresa há uma década, ele agora leva o “tap-to-pay” e outras tecnologias a comerciantes nos Estados Unidos, com planos de expandir pelo globo — e depois pelo espaço — em uma inusitada forma de planejar o longo prazo.

A CloudWalk, com sede em São Paulo, atingiu o break even no ano passado e tem 1,1 milhão de clientes que geram cerca de US$ 400 milhões em receita anual, disse Silva em entrevista à Bloomberg News.

A empresa levantou um total de US$ 360 milhões em financiamento de capital de risco, sendo que a última rodada em 2021 avaliou a companhia em US$ 2,15 bilhões, contando com Coatue e Valor Capital entre seus investidores.

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Os EUA ficam atrás do Brasil em muitos aspectos quando se fala de pagamentos digitais e instantâneos, mas têm um volume de transações 10 vezes maior que o país sul-americano, o que fornecerá escala, disse Silva. Mais adiante, a CloudWalk olhará para outros mercados, como a Ásia e o Oriente Médio, acrescentou.

“Sabemos que os pagamentos instantâneos e tap-to-pay podem realmente ajudar os comerciantes americanos, especialmente neste momento em que os EUA enfrentam uma inflação elevada”, afirmou Silva.

“O que aprendemos no Brasil é que cada vez que você ajuda o cliente a melhorar seu fluxo de caixa, ele vende mais e cresce mais rápido.”

A empresa primeiro terá como alvo as cidades de Nova York, São Francisco e Austin com o aplicativo chamado Jim.com, que oferece aos comerciantes soluções de pagamentos para ajudar a expandir seus negócios e receber o dinheiro de suas vendas instantaneamente.

O maior desafio à expansão é educacional, disse Silva, já que muitos americanos ainda pagam algumas de suas contas usando cheques em papel enviados pelo correio, por exemplo.

No Brasil, o Banco Central lançou o Pix em 2020, que já ultrapassou os cartões de crédito e débito como o método de pagamento preferido, com mais de 66 bilhões de transações em três anos.

O Fed, dos EUA, seguiu recentemente os passos do Brasil com o lançamento do seu serviço de pagamentos FedNow.

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Peso da IA

A CloudWalk tem cerca de 500 funcionários e usa fortemente inteligência artificial para automatizar algumas atividades, incluindo o atendimento ao cliente e compliance.

A empresa precisaria de cerca de 1.100 funcionários para realizar o trabalho que seus atuais 10 “agentes” de IA realizam, disse ele.

“Definitivamente estamos usando IA de verdade. Não é apenas uma palavra da moda”, afirmou Silva. “Estamos realmente melhorando nossa eficiência e reduzindo o custo da nossa operação.”

Os funcionários estão espalhados por 15 países, com o diretor financeiro em Nova York.

No Brasil, a CloudWalk é conhecida pelo produto InfinitePay, que elimina a necessidade do uso de máquina de cartão ao converter qualquer smartphone em leitor de cartão para aceitar pagamentos.

Eles também oferecem soluções de e-commerce e já emprestaram “centenas de milhões” de reais como parte do seu braço de crédito, disse Silva.

Como a empresa atualmente é rentável, não precisa levantar mais capital, mas poderia considerar uma nova rodada antes de uma eventual oferta pública inicial. Um IPO poderia acontecer já no final de 2025, quando se espera que o mercado melhore, e quase certamente seria nos EUA, segundo ele.

Pagamentos “interplanetários”

O grande objetivo de Silva, de 39 anos, que nasceu em uma pequena cidade do interior de São Paulo e aprendeu programação sozinho, é que sua empresa se torne uma “solução de pagamentos interplanetários”.

Ciente das risadas que esse tipo de mantra pode causar, ele responde que dentro de 40 anos os humanos poderão precisar pagar por coisas em outros planetas, ao citar planos de bilionários, incluindo Elon Musk, para colonizar Marte.

Em 2014, Silva foi selecionado para morar e estudar no Ames Research Park, da NASA, no Vale do Silício, e lá frequentou a Singularity University, mergulhando em temas sobre o futuro e tecnologias disruptivas. Ele também se inspira na Long Now Foundation, que incentiva o planejamento para os próximos 10 mil anos.

“Queremos ser uma empresa com valor de mercado de US$ 1 trilhão, uma rede global de pagamentos. E depois disso queremos expandir nossa tecnologia para outros planetas”, disse Silva. “Esse é o grande sonho.”

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