Bloomberg Línea — A indústria brasileira de fundos de ações teve um ano de inflexão em 2023, com a retomada das captações líquidas (aportes menos resgates) positivas nos quatro meses finais, na esteira do início do ciclo de queda dos juros. No dado fechado do ano, no entanto, houve resgate líquido de R$ 17 bilhões, segundo dados da Anbima, a associação que reúne entidades e empresas do mercado de capitais do país.
Foi também um momento em que alguns fundos puderam aproveitar oportunidades de compra de ações com preços descontados para montar safras que vão render resultados nos próximos anos, disse Florian Bartunek, sócio-fundador e CIO da Constellation Asset Management, à Bloomberg Línea.
“Essa safra, resultado de compras feitas em 2023, vai gerar um retorno muito bom nos próximos três anos. A economia brasileira é volátil, mas cresce. As boas empresas aumentam o lucro. Quando há momentos de juro alto e bolsa barata, você constrói as melhores safras”, disse Bartunek em dezembro depois do G4 Valley, evento em São Paulo do qual participou e que foi organizado pela G4 Educação.
O Chief Investment Officer da Constellation demonstrou uma visão positiva para as perspectivas da indústria de fundos com o processo de queda dos juros e a expectativa de continuidade mais à frente.
“Temos visto isso [a recuperação] nos números dos fundos que eu acompanho mais de perto: os bons fundos têm conseguido não só interromper os resgates como estão conseguindo captar. Nós temos visto aumento de procura por investidores estrangeiros. O ‘vale foi no momento de pico dos juros. Dado que agora os juros já estão caindo, acho que o pior já passou”, disse Bartunek sobre as ações brasileiras.
Segundo o gestor, aqueles fundos que conseguiram atravessar o momento de “vale” estão bem posicionados para o que classificou como uma boa recuperação. “Um dos principais atributos de um bom gestor é a paciência. O bom gestor e bom empresário é resiliente”, destacou.
Bartunek é um dos gestores mais experientes e respeitados do país. Depois de trabalhar de 1990 a 1998 no Pactual, em que chegou a sócio e que deu origem ao BTG Pactual (BPAC11) uma década mais tarde, ele foi um dos fundadores da Utor Investimentos para fazer a gestão dos ativos de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, o trio de empreendedores bilionários à frente de alguns dos maiores cases de negócios bem-sucedidos do país, notadamente a AB InBev (BUD).
Posteriormente, em 2002, a Utor se transformou em Constellation, com Lemann como sócio minoritário; e depois atraiu a Lone Pine Capital, uma gestora americana de fundos hedge, como sócia.
Segundo Bartunek, o investidor estrangeiro, diferentemente do brasileiro, é contracíclico. Portanto, quando o mercado está barato e quando há uma correção, ele tende a aumentar a alocação.
“O brasileiro fica desanimado com o país, mas, comparado com outros mercados emergentes, o Brasil é muito bom. Acho que muitos fundos fizeram ajustes e estão com estruturas mais adequadas. O vale pode ter sido ali lá no segundo trimestre [de 2023]”, disse o CIO da Constellation.
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