Bloomberg Opinion — Para os bilhões de pessoas em todo o mundo que vivem em países que ainda não estão totalmente desenvolvidos economicamente, tenho notícias preocupantes: a última chance de seus países alcançarem o status de desenvolvidas pode vir nesta geração. E realmente é a “última chance”.
Os economistas costumavam escrever sobre “convergência” – a ideia de que a diferença entre os países mais pobres e os mais ricos está diminuindo – e, de fato, ocorreu muita convergência, em lugares como Coreia do Sul, Irlanda e partes da China. Mas as condições para esse crescimento são cada vez mais raras. Já é fato que os países mais pobres não estão crescendo mais rapidamente do que os países mais ricos, ao contrário das tendências da década de 1990.
O principal culpado pode ser a crise de fertilidade. Na América Latina, por exemplo, as taxas de fertilidade estão sendo muito menores do que o esperado. Uruguai, Costa Rica, Chile, Jamaica e Cuba têm taxas de fertilidade de aproximadamente 1,3. Em uma década, o México teve uma queda de 24% nos nascimentos.
O Brasil, de longe a nação mais populosa da região, tem uma taxa de fertilidade de cerca de 1,65, e é provável que essa taxa caia ainda mais. A ONU previu que a população do Brasil seria de 216 milhões de habitantes este ano, mas acabou sendo de apenas 203 milhões. Com o passar do tempo, a maioria dos países latino-americanos pode esperar um encolhimento da população.
A maioria dos países de renda média está observando quedas semelhantes na taxa de natalidade, portanto, isso não está sendo impulsionado por forças culturais ou contingentes. As principais causas parecem ser o controle confiável da natalidade e a emancipação das mulheres em grande parte do mundo em desenvolvimento, fatores que provavelmente não serão (e nem deveriam ser) revertidos.
O resultado, para colocar em linguagem macroeconômica, é que a maioria dos países subdesenvolvidos observará contrações simultâneas na demanda agregada e na oferta agregada. Essa é uma má notícia para o crescimento econômico. Uma economia nacional pode lidar com uma população menor, mas uma população que diminui continuamente é muito difícil.
Mais concretamente, não haverá dividendos demográficos para ajudar a impulsionar o crescimento econômico. Em vez disso, o cuidado com os idosos se tornará uma atividade econômica importante. Os impostos e as transferências de renda necessários para sustentar as aposentadorias serão um ônus adicional para economias já fracas, o que, por sua vez, pode ajudar a manter baixas as taxas de fertilidade. Não será mais fácil ter filhos. Pode haver baixa fertilidade, ou até mesmo um círculo vicioso descendente. Como os jovens passam mais tempo cuidando de seus pais idosos, isso também pode reduzir o número de filhos que as mulheres desejam ter.
Países com populações em declínio produzirão menos inventores e empreendedores. Mercados domésticos menores dificultarão o acesso aos mercados de exportação. A Toyota foi bem-sucedida, por exemplo, porque primeiro teve sucesso no Japão (um país relativamente populoso), depois refinou a qualidade de seus produtos e competiu no exterior. Quando o mercado doméstico é menor, as economias de escala são mais difíceis e é mais difícil para as empresas conseguirem comprar.
As populações dessas economias outrora emergentes podem ser mais afetadas do que as taxas de natalidade indicam. Afinal de contas, a América do Norte, a Europa Ocidental, o Japão e a Coreia do Sul também estão com taxas de natalidade em queda. Muitos desses países acharão economicamente necessário receber mais imigrantes, nem que seja para pagar seus sistemas de aposentadoria ou para trabalhar como cuidadores. Isso poderia ser um dreno adicional para as populações dos países menos ricos. O Japão já está preparando seus planos de imigração.
Nada disso pode parecer um choque ou uma crise repentina. Assim como as economias mais pobres pararam gradualmente de se equiparar às mais ricas, elas podem apresentar taxas de crescimento cada vez mais lentas, inclusive para a renda per capita.
Nem tudo será ruim: os países mais pobres, assim como os mais ricos, se beneficiarão dos avanços biomédicos. E à medida que as sociedades envelhecem, seus índices de criminalidade podem cair. No entanto, embora a vida em muitos desses países possa parecer mais segura, eles não conseguirão seguir os caminhos dinâmicos do Japão e da Coreia do Sul, nem mesmo os da Grécia ou de Portugal. As lembranças do crescimento econômico radical podem começar a desaparecer, o que pode dificultar a retomada do crescimento.
Os próximos anos e décadas trarão outros desafios para os países em desenvolvimento, é claro – mudança climática e guerra, para citar dois. Além disso, a IA pode tornar mais difícil para as economias com baixos salários a realização de serviços básicos, como os call centers. Não são apenas as baixas taxas de natalidade que colocam em risco um crescimento mais rápido.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution.
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