Private equity enfrenta novo desafio: devolver o dinheiro dos maiores investidores

Investidores como fundos soberanos do Oriente Médio ampliam lista de exigências para participar de novas captações, a começar pela devolução de capital de fundos mais antigos

Espaço do Public Investment Fund (PIF) da Arábia Saudita em evento em Riad
Por Laura Benítez - Silas Brown
13 de Janeiro, 2024 | 07:50 AM

Bloomberg — Alguns dos investidores mais influentes têm enviando uma mensagem às maiores empresas de private equity do mundo: se querem dinheiro para o próximo fundo, aqui está nossa lista de exigências.

Fundos soberanos e fundos de pensão estão entre os investidores que dizem aos gestores de recursos que só vão se comprometer em suas próximas captações se o capital investido nos fundos mais antigos for liberado, segundo pessoas com conhecimento sobre o assunto que falaram à Bloomberg News.

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Outras solicitações incluem descontos de taxas e mais oportunidades de coinvestimento, além de maiores direitos de informação e representação em comitês, disseram as fontes, pedindo anonimato porque as solicitações são privadas.

Alguns pedem até uma parte da taxa de gestão do fundo ou a oportunidade de comprar uma participação na empresa gestora do fundo, acrescentaram as fontes.

“Estamos passando por uma mudança cultural real agora”, disse William Barrett, sócio-gerente da Reach Capital, uma empresa de captação de recursos no mercado privado. “É a primeira vez que vemos os LPs [Limited Partners] sendo tão diretos e vinculando uma distribuição de um fundo a um novo compromisso em outro. Eles nunca foram tão precisos em suas demandas.”

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A relação entre empresas de private equity, como a Blackstone e a Apollo Global Management, e seus apoiadores é simbiótica. Grandes gestores de fundos não podem expandir suas plataformas sem dinheiro dos maiores chamados Limited Partners, enquanto os investidores precisam de gestores com capacidade para aceitar grandes quantias de capital.

Mas o equilíbrio de poder tem mudado dentro da indústria de private equity de US$ 8 trilhões, à medida que os fundos de buyout lutam para devolver dinheiro aos investidores em meio a discordâncias entre compradores e vendedores sobre os valuations corporativos. E isso proporciona mais poder aos LPs para ditar os termos do relacionamento.

Volume de saídas de investimentos realizados por empresas de private equity nos EUA é o menor desde a crise financeira de 2008

Com a entrada mais lenta de dinheiro no private equity no ano passado, a importância de alguns fundos que têm feito a maioria dos investimentos em mercados privados - como os fundos soberanos dos Emirados Árabes Unidos, da Arábia Saudita e do Catar - se tornou ainda mais persuasiva.

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Há apenas cinco anos, fundos do Oriente Médio não estavam entre os 10 principais investidores de governos em mercados privados, segundo dados da Global SWF. Até 2023, cinco eram do Golfo, incluindo o ADQ de Abu Dhabi e o ADIA (Abu Dhabi Investment Authority).

Em algumas circunstâncias, fundos como o ADIA e o GIC, um dos fundos soberanos de Cingapura, estão entre os investidores que estão especificamente pedindo distribuições de fundos mais antigos à medida que discutem captações futuras, disseram algumas pessoas.

Vale ressaltar que uma pessoa a par do assunto disse que o GIC faz investimentos seletivos em novos fundos sem retirar capital de fundos antigos.

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Outras solicitações de alguns fundos soberanos incluem exigências de mais divulgações sobre os ativos subjacentes nas carteiras, disseram as fontes. Os investidores pedem mais informações sobre seus investimentos do que nunca, com demandas às vezes semanalmente, disseram algumas fontes.

Representantes do ADIA e do GIC se recusaram a comentar.

A atividade de saída das empresas de private equity nos EUA atingiu uma baixa inédita no ano passado em relação ao grande volume de capital sob gestão da indústria, segundo o Pitchbook. O período médio de permanência de investimentos antes da saída chegou a 6,4 anos, o mais alto em mais de uma década.

A previsão para este ano indica que a captação de buyout deve ficar aproximadamente 30% abaixo de sua tendência linear atual, mostraram dados do Pitchbook, enquanto as distribuições de fundos de buyout nos últimos 12 meses até o primeiro trimestre de 2023 atingiram o menor nível desde a crise financeira global de 2008, dizem os dados.

“É um mercado difícil e os LPs estão usando a alavancagem que têm, especialmente os maiores investidores de crédito privado, como os fundos soberanos e os fundos de pensão estaduais”, disse Barrett. “Os gestores de fundos têm que lutar por seus dólares agora, e os investidores sabem disso.”

Fundos soberanos de países do Oriente Médio e de Singapura estão entre os maiores investidores de empresas de private equity (dados de 2023)

Um justificativa comumente usada para os LPs pedirem dinheiro de volta é o chamado efeito denominador. Enquanto os valores de muitos ativos, desde imóveis até ações de empresas públicas, têm mostrado volatilidade nos últimos anos, os valuations de private equity permaneceram em grande parte estáveis — pelo menos no papel.

Isso significa que, em alguns casos, investidores tiveram que liquidar participações privadas para evitar violar as diretrizes de alocação projetadas para proteger a segurança de longo prazo dos fundos. Isso se soma ao fato de que muitos investidores institucionais, de Singapura ao Canadá, têm se tornado mais conservadores.

No entanto os gestores de fundos têm sido lentos para vender ativos de fundos nos mercados incertos atuais, indicando uma relutância em cristalizar valores de ativos que podem ser mais baixos do que o esperado. Em vez disso, muitos estão usando alavancagem para liberar fundos.

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