Bloomberg — O presidente do conselho do Morgan Stanley, James Gorman, disse que as novas regras bancárias propostas no ano passado pelos reguladores dos Estados Unidos são “extremamente agressivas” e provavelmente serão “significativamente reduzidas” antes de serem implementadas.
“Elas definitivamente vão mudar”, disse Gorman em uma entrevista à Bloomberg Television na quarta-feira (3), observando que os reguladores receberam milhares de comentários sobre as regras propostas.
“Foi uma proposta extremamente agressiva e estabeleceu um marco. Não será aprovada dessa forma. Se fosse, acredito que teria consequências muito negativas para o empréstimo corporativo em todo o país, o que não é o que se quer. Isso não vai ajudar no crescimento da economia.”
O mundo financeiro tem debatido acaloradamente as propostas dos EUA relacionadas ao que é chamado de Basel III Endgame - uma reforma internacional iniciada há mais de uma década em resposta à crise financeira de 2008.
Se aprovadas pelas autoridades reguladoras dos EUA, as regras exigiriam que os grandes bancos aumentassem sua reserva de capital em quase 20% para garantir que possam sobreviver a uma nova crise.
O Federal Reserve e outros reguladores afirmam que as mudanças podem ajudar a evitar turbulências como os colapsos dos bancos de médio porte ocorridos no ano passado.
No entanto os banqueiros têm cada vez mais argumentado contra as propostas, dizendo que elas são desnecessárias e aumentarão as taxas de juros para compradores de imóveis de primeira viagem, assim como para mutuários com renda baixa a moderada e que são pouco atendidos.
Eles também dizem que os planos empurrarão a concessão de empréstimos mais arriscados para fora da supervisão dos reguladores.
“O que foi divulgado é altamente, altamente, altamente improvável de ser o que será regulado”, disse Gorman. “Acredito que essa seja uma proposta altamente agressiva que será significativamente reduzida quando finalmente se tornar lei ou regulamentação.”
Gorman anunciou em maio passado que estaria deixando o cargo de CEO, o que deu início a uma disputa entre os principais executivos para sucedê-lo.
Em outubro, o Morgan Stanley (MS) escolheu Ted Pick como sucessor de Gorman após um mandato de 14 anos que remodelou o banco de Wall Street. Pick assumiu como CEO neste mês, com Gorman, de 65 anos, permanecendo como presidente executivo do conselho.
O australiano Gorman, que um dia foi uma escolha surpreendente para CEO, salvou o Morgan Stanley da quase ruína após a crise financeira de 2008 e liderou uma transformação de vários anos com a gestão de patrimônio no centro dela.
Essa reformulação estratégica foi acelerada por dois acordos emblemáticos anunciados em 2020, transformando a empresa em uma potência de gestão de recursos em busca de uma meta de US$ 10 trilhões e catapultando seu valor de mercado acima do rival Goldman Sachs (GS).
Em uma estrutura rara, os dois homens que ficaram de fora da disputa pelo cargo de CEO concordaram em continuar no Morgan Stanley, com o co-presidente Andy Saperstein assumindo a supervisão de asset management além de sua função de liderar o wealth management, e Dan Simkowitz substituindo Pick como co-presidente da divisão de banco de investimento e trading.
Em outubro, o Morgan Stanley concedeu bônus especiais no valor de US$ 20 milhões cada a Pick e aos dois vice-presidentes. O comitê de sucessão do conselho “determinou que conceder os prêmios a cada um dos nossos futuros diretores executivos e co-presidentes é do melhor interesse da empresa e de seus acionistas durante a transição da empresa após 14 anos de liderança excepcional do Sr. Gorman”, disse o Morgan Stanley na época.
Na entrevista abrangente desta quarta-feira, Gorman disse que o Federal Reserve tem feito um bom trabalho gerenciando as taxas de juros, as quais ele espera que diminuam neste ano. A economia dos Estados Unidos está “indo bem” e uma recessão é “improvável”, disse ele.
“As taxas vão baixar”, disse Gorman. “A inflação caiu bastante rapidamente, a ponto de agora ser mais provável [a queda]. Então, no primeiro semestre do ano, eu suspeito que nada acontecerá, [mas] na segunda metade do ano elas poderiam se mover algumas vezes.”
Ele também abordou os planos de crescimento do Morgan Stanley para a Ásia, dizendo que seu negócio de gestão de patrimônio lá é “pequeno”, mas está crescendo rapidamente.
Sobre a China especificamente, Gorman disse que a segunda maior economia do mundo é “um fator-chave para a saúde econômica global”, mas enfrenta alguns “desafios fundamentais”, incluindo demografia. Devido à política de filho único que durou décadas no país, “justo quando você precisa de mais pessoas produtivas para sustentar a geração mais velha, eles têm menos delas e não têm uma boa imigração”.
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