Bloomberg Opinion — No final de 2022, 85% dos economistas em uma pesquisa previram uma recessão para 2023 – e essa foi uma previsão otimista em comparação com a probabilidade de 100% de uma recessão prevista dois meses antes. Meses depois, em março, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, com base no trabalho de sua equipe, expressou o temor de que a redução da taxa de inflação custaria milhões de empregos americanos.
E, no entanto, nada disso aconteceu. Tanto a inflação quanto o desemprego caminham na direção certa, e a maioria dos economistas espera que os EUA evitem uma recessão em 2024. Os economistas ainda não descobriram por que as coisas correram tão bem, mas já está claro que um acerto de contas está chegando.
Como disse a secretária do Tesouro, Janet Yellen, na semana passada: “Muitos economistas estavam dizendo que não há como a inflação voltar ao normal sem que isso implique um período de alto desemprego, [ou] uma recessão. E, há um ano, acho que muitos economistas estavam dizendo que uma recessão era inevitável. Nunca achei que houvesse uma base intelectual sólida para fazer uma previsão desse tipo”.
Muitos desses economistas podem ter se baseado no próprio trabalho de Janet Yellen. Suas pesquisas macro (altamente conceituadas) focam na rigidez dos preços nominais e dos salários e nas compensações entre produção e inflação, prevendo que, se houver uma queda significativa na demanda agregada, o emprego também deverá cair, dando origem a uma recessão. Ela também é coautora (com muitos colegas renomados) de um artigo bem conhecido que argumenta que há uma compensação entre produção e inflação mesmo com altas taxas de inflação.
A economista Christina Romer (muitas vezes com coautores) forneceu algumas das evidências mais persuasivas de que choques negativos na política monetária induzem recessões na produção e no emprego. Seu trabalho foi especialmente influente porque não se baseia em um modelo matemático complicado da economia e foi aceito de forma bipartidária. Paul Krugman vem prevendo, durante a maior parte deste ano, que a recente desinflação não causaria uma recessão, e ele merece crédito por ter acertado. No entanto, ele não faz questão de nos dizer que, por muitos anos, ele alardeou as virtudes preditivas da macroeconomia keynesiana antiga, usando modelos que preveem que a desinflação levará a uma perda de produção e emprego.
Recentemente, Krugman explicou melhor sua posição sugerindo que o destravamento de cadeias de suprimentos em gargalos ajudou a reduzir a taxa de inflação. Esse ponto também está correto. Ele não mencionou que também houve um enorme choque negativo na demanda agregada: as altas taxas de crescimento da estimativa da oferta total de moeda se transformaram em taxas ligeiramente negativas de crescimento dessa estimativa. A política fiscal atingiu o pico e depois recuou. O Fed aumentou as taxas de juros de níveis próximos a zero para a faixa de 5%, e de forma bastante rápida. Ele também enviou todos os sinais possíveis de que seria rígido com as condições monetárias.
E, mesmo assim, não houve recessão.
Há um motivo pelo qual tantos economistas previram uma recessão – e não é porque eles estão fora de sintonia. Eles previram uma recessão porque é isso que especialistas como Yellen, Krugman, Romer e muitos outros vêm ensinando há décadas. Eu mesmo não me isento de errar, pois o tempo todo achei que havia uma chance razoável de uma recessão.
Lawrence Summers errou ao prever que a desinflação teria custos enormes em termos de emprego e produção, e agora ele é criticado por isso nas redes sociais. No entanto, pelo menos ele estava se baseando em um modelo consistente. O problema é que o mundo real não é tão consistente quanto os criadores de modelos gostariam.
A solução não é descartar a doutrina anterior; é ser mais direto. Os macroeconomistas muitas vezes não sabem o que está acontecendo, e isso se aplica a todos os diferentes estilos e variantes da macroeconomia.
A única teoria que poderia explicar, pelo menos em parte, os acontecimentos recentes – a de uma desinflação confiável baseada em expectativas racionais – caiu em desgraça entre os economistas, principalmente entre os keynesianos. Essa abordagem ainda está recebendo muito pouco crédito, embora tenha os prêmios Nobel de Robert E. Lucas e Thomas Sargent para apoiá-la.
Acima de tudo, é importante reconhecer como a macroeconomia se tornou politizada. Há um monte de economistas dizendo que estavam certos sobre como os EUA evitariam uma recessão este ano. Entretanto, uma análise mais profunda revela uma história muito mais longa e menos favorável.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion, professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution.
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