Opinión - Bloomberg

Por que a COP28 foi um sucesso que foi além das palavras

Sem dúvida, ainda há muito trabalho a ser feito; mas a conferência climática deste ano colocou o mundo em um caminho mais promissor

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Bloomberg Opinion — O acordo global alcançado na COP28 atingiu um marco histórico: um compromisso explícito com a transição rumo ao fim dos combustíveis fósseis.

Embora já tenha sido feito há muito tempo, o acordo envia um forte sinal aos líderes governamentais e empresariais sobre a direção que o mundo está tomando – e a necessidade de avançar muito mais rapidamente. No entanto as ações importam mais do que as palavras, e outras novidades históricas alcançadas na cúpula têm potencial para um nível de ação sem precedentes.

Graças, em grande parte, ao maior envolvimento do setor privado e dos líderes locais, e à forte liderança do topo – o Secretário Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, o Secretário Executivo da UNFCCC, Simon Stiell, e o Presidente da COP28, Sultan Al Jaber – esta COP produziu uma série de avanços importantes que, juntos, podem levar o mundo a um caminho significativo em direção à redução das emissões globais em 43% até 2030, o que, segundo os cientistas, é necessário para manter o aumento da temperatura global abaixo da meta de 1,5°C estabelecida no Acordo de Paris.

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Alguns dos exemplos mais importantes de progresso incluem:

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  • Aceleração da transição energética. No acordo final, as nações se comprometeram a triplicar a capacidade global de energia limpa e dobrar a eficiência até 2030. Fora do acordo, mais países se comprometeram a trabalhar juntos para eliminar gradualmente as usinas elétricas movidas a carvão, a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo. Juntos, esses compromissos reduzirão as emissões, levarão a um ar mais limpo e a uma saúde melhor, gerarão novos empregos e criarão oportunidades econômicas para centenas de milhões de pessoas em todo o mundo que ainda não têm eletricidade.
  • Metano. Quando o metano é liberado, ele tem cerca de 85 vezes o poder de retenção de calor do dióxido de carbono. As maiores fontes de emissões de metano incluem a ventilação, a queima ou o vazamento acidental de poços e tubulações de petróleo e gás. Na COP28, 50 empresas de petróleo e gás se comprometeram a atingir um nível quase zero de metano até 2030, e o restante do setor deve seguir o exemplo. Para ajudar a tornar isso possível, a Bloomberg Philanthropies juntou-se a um grupo de parceiros globais para melhorar os dados e a responsabilidade pelos vazamentos de metano e acelerar o processo de tratamento desses vazamentos, principalmente nos países em desenvolvimento.
  • Indústria. Até o momento, a maior parte do progresso em energia limpa tem sido na geração de eletricidade, mas os setores essenciais – como cimento, aço, aviação e transporte marítimo - produzem cerca de 40% das emissões globais e, por serem tão intensivos em energia, são difíceis de eletrificar com energia eólica e solar. O Acelerador da Transição Industrial, lançado na COP28, é o esforço mais abrangente já realizado para enfrentar esse desafio global. Ele reunirá líderes do governo, do setor e do setor financeiro que se comprometeram a financiar a transição para uma economia de baixo carbono por meio da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ). O objetivo do acelerador é ampliar as tecnologias de baixo carbono - incluindo novos recursos energéticos promissores, como o hidrogênio verde - que podem reduzir as emissões em todos esses setores, sem reduzir os benefícios econômicos que vêm com o crescimento robusto do setor
  • Finanças. A luta contra a mudança climática exige muito mais capital do que o que está sendo alocado atualmente, e essa COP deu esperança de que a maré pode estar começando a mudar. Financiadores multinacionais, como o Banco Mundial, assumiram novos compromissos de reforma, incluindo o uso de seu capital como catalisador para desbloquear o financiamento privado para os países em desenvolvimento, o que poderia possibilitar de US$ 300 bilhões a US$ 400 bilhões em novos empréstimos na próxima década. E a presidência da COP28 estima que mais de US$ 83 bilhões em novas promessas e contribuições financeiras foram colocadas sobre a mesa.
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  • Transparência. O GFANZ lançou uma nova estrutura para ajudar investidores e reguladores a avaliar com mais precisão o quanto o investimento global está alinhado com as metas do Acordo de Paris. A COP28 também foi palco do lançamento de uma nova ferramenta para trazer mais transparência aos mercados financeiros, chamada de Utilidade Pública de Dados Net-Zero. Ela reúne dados de emissões corporativas em um único lugar e os disponibiliza gratuitamente para todos, fornecendo as informações de que os investidores precisam para direcionar as fontes de emissões e capacitando o público a responsabilizar as empresas pelo progresso.
  • Liderança local. Pela primeira vez, as cidades desempenharam um papel de liderança nos procedimentos da COP, por meio da Cúpula de Ação Climática Local da COP28 (que a Bloomberg Philanthropies ajudou a patrocinar). Cerca de 70 países aderiram a uma nova iniciativa para promover ambições mais elevadas, maior colaboração entre governos nacionais, locais e regionais e uma voz mais forte no cenário global.

Ainda há muito trabalho a ser feito, é claro. Nenhuma conferência resolverá a crise climática. Mas a COP28 nos colocou em um caminho mais promissor – e agora cabe a todas as partes envolvidas traduzir as palavras em ação.

Michael R. Bloomberg é fundador e proprietário majoritário da Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News, Enviado Especial da ONU para Ambições e Soluções Climáticas e presidente do Conselho de Inovação em Defesa dos EUA.

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