Bloomberg Opinion — Com o retorno do polêmico Alex Jones ao X nesta semana, Elon Musk está brincando com fogo. Precedentes sugerem que o site está à beira de ser banido por violar as regras da App Store da Apple (AAPL), o que seria o último prego no caixão do antigo Twitter. O CEO da big tech, Tim Cook, observa atentamente e torce para que isso não aconteça.
Jones reapareceu no X no fim de semana, trazido de volta por Musk após uma pesquisa com seus seguidores. Seu retorno ocorreu cinco anos depois que a mistura caótica e tóxica de desinformação e ódio de Jones foi considerada excessiva para o Twitter e várias outras plataformas de tecnologia.
Desde então, Jones desapareceu do mainstream, tomando as manchetes apenas quando um juiz o condenou a pagar US$ 1,5 bilhão às famílias das crianças assassinadas na escola primária Sandy Hook em 2012. Jones alegou que o massacre foi uma encenação com atores.
Para comemorar o retorno, Musk juntou-se a Jones em um bate-papo em áudio ao vivo no domingo (10). Outros participantes incluíam Andrew Tate, que enfrenta acusações de estupro e tráfico sexual, e o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos Vivek Ramaswamy, que na semana passada lançou uma série de teorias de conspiração infundadas no palco do debate.
A equipe de marketing da Apple claramente não quer fazer parte da plataforma. Ela está entre as empresas que decidiram “pausar” a publicidade no X, tendo sido anteriormente a maior anunciadora. Embora não tenha sido mencionada diretamente, a Apple estava implícita no grupo – juntamente com a Disney (DIS), o Walmart (WMT) e outras empresas – que Musk recentemente desdenhou.
Mas a Apple detém um poder ainda maior do que esse. Após decidir que o X é muito perigoso para sua marca, o retorno de Jones agora a força a enfrentar uma questão maior: o X se tornará perigoso demais para os usuários da Apple? Ou quando os supostos princípios corporativos da Apple exigem que ela deixe de receber os 30% de que desfruta com as assinaturas dos serviços premium do X? A empresa não respondeu a um pedido de comentário.
A Apple já respondeu a essa pergunta antes. O aplicativo InfoWars de Jones foi banido da App Store em 2018. O conteúdo dele, disse a empresa na época, entrou em conflito com “conteúdo difamatório, discriminatório ou mesquinho, incluindo referências ou comentários sobre religião, raça, orientação sexual, gênero, origem nacional ou étnica ou outros grupos, especialmente se o aplicativo puder humilhar, intimidar ou colocar um indivíduo ou grupo em perigo”. A empresa não especificou qual material específico a forçou a agir. A proibição parece permanecer em vigor até hoje.
A Apple também passou a bloquear plataformas inteiras quando considerou necessário, como na ocasião da remoção do Parler – um aplicativo semelhante ao Twitter – em 2021, na esteira dos tumultos no Capitólio dos EUA.
A Apple observou que os usuários da plataforma “incentivaram a violência, denegriram vários grupos étnicos, raças e religiões, glorificaram o nazismo e pediram violência contra pessoas específicas”.
O aplicativo foi reintegrado posteriormente, mas somente depois de vários meses e após mudanças significativas na forma de moderar as publicações. A Apple também estava sob pressão de legisladores republicanos que criticaram a medida como contrária à liberdade de expressão.
As consequências seriam muito maiores se a Apple tomasse alguma medida contra o X. Mas, em sua trajetória atual – com o próprio Musk amplificando alguns dos elementos mais perversos da plataforma –, chegará um momento em que a inação será igualmente prejudicial para a Apple.
O apoio de Musk a Jones provavelmente se estenderá à permissão de transmissões ao vivo na plataforma. De fato, ele provavelmente está ansioso para que isso aconteça, mesmo que abraçar Jones signifique assumir um risco enorme. O modelo de negócios de Jones é simples: chamar a atenção. Para ganhar essa atenção, ele precisa se tornar cada vez mais chocante. Certamente é apenas uma questão de tempo até que ele vá longe demais.
Qualquer bloqueio atrairia a indignação da direita, mas provavelmente também de um segmento significativo da esquerda: durante dois conflitos globais significativos, limitar o acesso ao aplicativo causaria consternação entre aqueles para quem o X ainda tem uma utilidade importante. Mas a Apple não é a Internet, e sua primeira obrigação é com seus usuários. O X ainda estaria acessível por meio de um navegador móvel na Internet aberta, e a Apple tem seu próprio direito de liberdade de expressão para fazer o que achar melhor.
De acordo com Musk, a Apple já ameaçou reter o aplicativo X por motivos não revelados. Ela faz esse tipo de coisa com frequência: Em 2022, a Apple disse que havia bloqueado ou removido quase 2 milhões de aplicativos por não atenderem aos seus padrões de segurança, privacidade e qualidade. Por meio de suas próprias ações, Musk agora fez com que o X esteja mais próximo de se tornar um deles.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Foi correspondente em São Francisco no Financial Times e na BBC News.
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