Bloomberg — As discussões sobre as mudanças climáticas estão prestes prestes a ficar agitadas, à medida que mais de 70.000 pessoas se dirigem aos Emirados Árabes Unidos para a COP28 - a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 - que começa na semana que vem (de 30 de novembro a 12 de dezembro). Dar sentido às muitas declarações a serem feitas será um desafio.
As manchetes devem se concentrar nos acordos realizados pelos quase 200 países participantes. No final de um ano em que as temperaturas e as emissões de gases causadores do aquecimento global superaram os níveis históricos, o foco deve se concentrar nos líderes mundiais e no que eles podem fazer de significativo para evitar efeitos mais catastróficos, apesar das crescentes tensões geopolíticas.
Mas o comunicado final da COP não é o único lugar para se avaliar o avanço da reunião. A grande maioria dos participantes da COP28 não é de negociadores governamentais; é de representantes de empresas, organizações sem fins lucrativos e instituições acadêmicas que desejam mostrar seu apoio à causa, cada um à sua maneira.
Parte disso virá na forma de iniciativas voluntárias para enfrentar os inúmeros problemas que as mudanças climáticas nos apresentam, desde o financiamento de projetos de energia renovável até a criação de sistemas alimentares mais benignos.
Esses acordos laterais são bem-vindos, diz Christiana Figueres, ex-chefe do órgão climático da ONU responsável pelas reuniões da COP. “Mas não é suficiente colher os frutos e colocá-los em uma salada de frutas”, disse ela. “Precisamos de mais responsabilidade.”
Duas promessas feitas na COP26 em Glasgow, uma para deter o desmatamento e outra para lidar com vazamentos de metano, mostram os limites e o potencial desses acordos.
Enquanto mais de 100 países prometeram interromper e reverter o desmatamento em 2021, até o ano passado dois dos países com mais florestas, Brasil e República Democrática do Congo, já estavam em retrocesso. Mais árvores foram derrubadas naquela ano do que em anos anteriores, e os países estavam abraçando o petróleo e o gás com mais intensidade.
Para tentar remediar isso, o Reino Unido propôs uma nova iniciativa na COP27 para “garantir um mecanismo de entrega de longo prazo” para a promessa de Glasgow que o país supervisionou. Mas, desta vez, apenas 26 países aderiram.
(O Brasil começou a reverter o desmatamento este ano com um novo governo.)
Foi uma história diferente com a Promessa Global de Metano, na qual mais de 80 países concordaram em reduzir coletivamente as emissões do superpotente gás de efeito estufa em 30% até 2030. Desde então, o número de signatários quase dobrou, cobrindo mais da metade das emissões mundiais de metano.
Um motivo para seu sucesso é que a indústria de petróleo e gás aderiu à missão de reduzir o metano. É uma maneira barata e fácil para eles mostrarem que estão agindo, e tem o benefício adicional de reduzir o uso de carbono de seus produtos à medida que crescem os apelos por uma transição mais rápida e o abandono dos combustíveis fósseis.
O anúncio do metano em 2021 forneceu um sinal claro e alcançável para as empresas, diz Edmond Rhys-Jones, que colidera o centro climático do Boston Consulting Group.
Ele diz que a empresa foi capaz de dizer a seus clientes: “esperamos ver isso se desdobrando nas políticas nacionais, o que vai afetar você diretamente.” A BCG agora trabalha com a liderança da COP28 em uma nova iniciativa que visa as emissões causadoras de aquecimento provenientes de setores industriais como cimento e aço.
O papel dos governos
Outro motivo pelo qual a promessa de metano ganhou impulso é o apoio governamental. Os Estados Unidos e a União Europeia foram grandes defensores da medida. O presidente Joe Biden, inclusive, pediu, no início deste ano, que as principais economias e organizações filantrópicas se comprometessem com a doação de US$ 200 milhões para ajudar os países em desenvolvimento a atingir a meta.
E houve progresso fora da promessa. A China é o maior emissor mundial de metano, especialmente por meio da mineração de carvão, e não é signatária da Promessa Global de Metano. Mas, após esforços diplomáticos dos EUA e da UE, ela anunciou um plano para reduzir as emissões de metano no início deste mês.
Algo semelhante pode acontecer com o Turcomenistão, outro grande emissor de metano que é cortejado pelos EUA para intensificar as reduções de emissões.
Existem limites para o voluntarismo. Alguns dos outros grandes emissores de metano, como Rússia e Irã, provavelmente não aderirão à Promessa Global de Metano ou serão persuadidos a agir em acordos bilaterais.
É por isso que, mesmo que os espetáculos paralelos nas reuniões da COP tenham se tornado maiores, há crescentes apelos para reformar o próprio processo para estabelecer metas mais agressivas de redução de emissões de carbono e arrecadar dinheiro para ajudar os países pobres a se adaptarem a um planeta mais quente.
Christiana Figueres, a ex-chefe do órgão climático da ONU, destaca que as COPs foram projetadas para fazer com que os governos aprovassem metas climáticas legalmente vinculativas, não para estabelecer políticas específicas sobre como alcançá-las.
As circunstâncias de cada país são tão diferentes, e as COPs nunca foram “destinadas a implementar” medidas detalhadas, diz ela. Por exemplo, cada governo que aderiu à promessa de desmatamento ou metano teria que tomar suas próprias decisões sobre incentivos e penalidades para cumprir o acordo.
Mas à medida que o mundo continua aquém do objetivo de alto nível estabelecido no Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos tempos pré-industriais, um debate recorrente no mundo da diplomacia climática é se é necessário dar mais ênfase à implementação de soluções por meio de políticas e financiamento.
“A questão é: a COP será redesenhada para esse novo propósito de apoiar a implementação?”, disse Figueres.
Akshat Rathi escreve a newsletter Zero, da Bloomberg, que examina a corrida mundial para reduzir as emissões causadoras de aquecimento. Seu livro “Climate Capitalism” já está disponível.
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