Nova rota estratégica do Alibaba mostra a falta que Jack Ma faz para seu império

Na China, é raro que uma corporação tão grande tente realizar transformações revolucionárias sem um acionista importante. As que tentaram não tiveram desfecho positivo

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Bloomberg Opinion — Imagine um gigante da tecnologia querendo “redefinir” sua estratégia enquanto seus principais acionistas estão vendendo participações. É isso o que está acontecendo com o Alibaba Group (BABA).

Na última quinta-feira (16), o gigante chinês do e-commerce recuou nos planos de desmembrar suas operações de nuvem e pausou a listagem de sua unidade de supermercados, duas das rotas mais importantes para desbloquear o valor de seus negócios em expansão.

Enquanto isso, o trust familiar do fundador Jack Ma divulgou planos de vender 10 milhões de ações por cerca de US$ 871 milhões na próxima semana.

A tentativa do presidente do conselho do Alibaba, Joe Tsai, de aliviar a decepção dos investidores, anunciando que o grupo começará a pagar dividendos anuais, não funcionou. As ações recuaram em Nova York, eliminando US$ 20 bilhões em valor de mercado da empresa, antes de continuarem a cair durante as negociações de sexta-feira (17) em Hong Kong.

Embora Ma não esteja mais ativamente envolvido nas operações do Alibaba, sua decisão de vender é um lembrete assustador de que a empresa não tem um acionista controlador no topo, justamente quando bilhões de dólares precisam ser gastos para entrar em novos campos, como a IA generativa.

No início deste ano, o SoftBank Group, que já foi proprietário de um terço do Alibaba, vendeu grande parte de suas ações. De acordo com os registros do Alibaba, em julho, o SoftBank foi listado como único stakeholder com mais de 5% de propriedade efetiva.

Os investidores ficam se perguntando quem será responsabilizado por todos os cheques que o Alibaba precisará preencher. Na China, é raro que uma corporação tão grande tente realizar transformações revolucionárias sem um acionista importante. De fato, algumas que tentaram acabaram falindo.

A Tsinghua Unigroup, um braço comercial da prestigiosa Universidade de Tsinghua, é um bom exemplo. A empresa, uma joia da coroa do plano “Made in China 2025″ do presidente Xi Jinping, estava tentando se estabelecer como líder no nascente setor de chips de memória da China desde 2015.

Em 2019, a Yangtze Memory Technologies, seu principal negócio de memória flash, já havia gastado mais de 20 bilhões de yuans (US$ 2,5 bilhões) em uma nova fábrica em Wuhan e reservado US$ 30 bilhões em gastos totais. Enquanto isso, a universidade fez várias tentativas para se desvincular da empresa, ciente de que a fabricação de chips era um empreendimento caro e de capital intensivo. A Unigroup deixou de pagar seus títulos em 2020 e entrou em processo de recuperação judicial no ano seguinte.

Sem dúvida, dado que Ma já se afastou, uma redução em sua participação era apenas uma questão de tempo. Mas a ótica é terrível.

O Alibaba passa por uma fase difícil, tendo optado por substituir grande parte de sua diretoria executiva e realizar uma grande reforma nos negócios.

Fazer com que o homem que começou tudo pareça estar se afastando despreocupadamente é o oposto do impulso de confiança de que a administração e os acionistas precisam neste momento. Certamente não deve ter sido isso que o outrora homem mais rico da China imaginou para seu império.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Shuli Ren é colunista da Bloomberg Opinion e cobre mercados asiáticos. Ex-banqueira de investimentos, ela foi repórter de mercados para a Barron’s. É analista financeira com certificação CFA.

Tim Culpan é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia na Ásia. Anteriormente cobriu tecnologia para a Bloomberg News.

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