Mark Mobius: as novas apostas do guru dos emergentes após deixar sua gestora

Veterano de emergentes disse à Bloomberg News que investidores terão que ser mais seletivos diante de sinais de que as taxas de juros nos EUA podem permanecer elevadas

Mark Mobius, o guru dos emergentes
Por Netty Ismail
18 de Novembro, 2023 | 07:30 AM

Bloomberg — Mark Mobius, cujo nome tem sido sinônimo de investir em países emergentes há um terço de século, não planeja desacelerar mesmo depois que se afastar de sua empresa de investimentos. O gestor de 87 anos disse que está mais ocupado do que nunca enquanto planeja criar uma nova empreitada em Dubai.

A empresa estará “envolvida em investimentos”, disse Mobius, recusando-se a fornecer detalhes porque, segundo ele, ainda está na fase de negociação. “Será algo bem interessante nos mercados emergentes”, disse o gestor em uma entrevista à Bloomberg News por Zoom de Bengaluru, um polo de tecnologia na Índia, um dos países em que ele se mostra mais otimista para o futuro.

Dubai, onde Mobius tem morado nos últimos três anos, tornou-se um destino preferido para bancos de investimento, gestores de ativos e de fundos hedge, atraídos pela facilidade de fazer negócios, pela isenção de impostos e pelo apelo como um hub global de viagens.

Também possui um fuso horário mais amigável para gestores de portfólio com investimentos globais que abrangem da América do Norte à Ásia.

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Mobius, como sempre, está viajando pelo mundo em busca de empresas listadas para apostar, bem como oportunidades em private equity, disse ele. A Mobius Capital Partners, sediada em Londres e co-fundada por ele em 2018 após três décadas na Franklin Templeton, está “bem estabelecida e funcionando bem”, e chegou a hora de buscar novos ares, disse ele.

Em 1987, quando investir em países em desenvolvimento ainda era um conceito relativamente novo, Mobius ajudou a expandir o portfólio de ativos em emergentes da Franklin Templeton para cerca de US$ 40 bilhões, saindo de US$ 100 milhões.

Menos de quatro meses após deixar a empresa, ele fundou sua própria gestora para investir em mercados emergentes e de fronteira.

As ações do Mobius Investment Trust, sediado em Londres e gerenciado pela Mobius Capital Partners, sobem cerca de 30% desde sua criação em 2018. Isso se compara a um ganho de 55% no índice de referência S&P 500 dos Estados Unidos, ou uma perda de 6% no índice de mercados emergentes da MSCI.

Otimismo com o Oriente Médio

Mark Mobius mencionou que, no momento, a maior preocupação dele é com a guerra, tanto o conflito na Ucrânia quanto as preocupações de que os confrontos entre o Hamas e Israel possam se intensificar em um conflito regional, prejudicando as perspectivas econômicas globais.

Apesar disso, ele diz estar otimista em relação ao Oriente Médio e já tem comprado e vendido propriedades em Dubai, onde espera que os preços aumentem 15% ao ano nos próximos anos.

Ele mantém dois apartamentos de luxo de frente para o Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, e diz que também está pensando em investir em empresas de serviços financeiros no emirado.

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Para o “guru dos emergentes”, a região está se preparando para um futuro além do petróleo – e isso é mais evidente em Dubai. “Outros países no Oriente Médio deverão seguir essa tendência em breve”, disse ele. “É definitivamente uma grande transformação.”

Rali de mercados emergentes perde força

Na geopolítica fora do Oriente Médio, a “grande questão” é Taiwan, a democracia autônoma sobre a qual a China reivindica soberania e que não descartou a possibilidade de tomar pela força, segundo ele. No entanto, isso não o impediu de mencionar Taiwan como uma de suas principais escolhas, pois oferece “acesso ao mercado chinês”.

“O risco vale a pena porque a chance de a China querer fazer um ataque militar a Taiwan não é grande –simplesmente porque eles precisam dos recursos que Taiwan possui”, disse Mobius. Mas “você deve se lembrar que acidentes acontecem, então é preciso estar preparado para eles”.

“Grande decepção”

A “grande decepção” para ele ao longo dos anos tem sido testemunhar o “erro” comum de seguir rigidamente os índices de referência (banchmarks). Acompanhar os principais índices de ações de países em desenvolvimento significou perdas à medida que as ações chinesas caíram devido a dificuldades econômicas, problemas no setor imobiliário e tensões geopolíticas.

Empresas chinesas representam 27% do amplamente acompanhado Índice MSCI de Mercados Emergentes, em comparação com menos de 4% para a Rússia antes de o país ser removido depois da invasão da Ucrânia no ano passado.

“O índice não conta toda a história”, disse Mobius. “Faça seu ‘stock picking’ – para ações e países – e não siga o índice, porque, caso contrário, você ficará envolvido em situações que já vimos anteriormente, como quando um país com grande peso prejudica a sua carteira.”

Mobius, que ficou conhecido por identificar ações que estão subvalorizadas em relação ao seu potencial de crescimento, disse que a diversificação é “realmente a única maneira de escapar de qualquer possível desastre”.

Excesso de dívida

Os investidores também precisarão ser mais seletivos diante de sinais de que as taxas de juros nos EUA podem permanecer elevadas, disse ele.

Países endividados terão dificuldade em pagar, deixando-os “em uma grande crise por um bom tempo”. A carga de dívida da China continua a pesar sobre o crescimento, enquanto Argentina e Nigéria também são vulneráveis. Em comparação, outras economias asiáticas “aprenderam a lição” e têm sido mais cautelosas, afirmou Mobius.

“Agora é a hora de separar os homens dos meninos”, disse ele. “Você terá que olhar com muito cuidado para cada país individualmente para ver quais estão com uma dívida pesada e quais estão saudáveis.”

Mobius é famoso por algumas previsões acertadas: previu corretamente o início de um bull market que começou em 2009, aproveitou pechinchas durante a crise financeira asiática após a Tailândia desvalorizar sua moeda em 1997 e comprou ações russas quando houve uma venda generalizada no país em 1998.

Ele também foi um dos primeiros investidores institucionais a identificar a África como um mercado promissor, fundando o fundo Templeton Africa em 2012. Em 2021, ele previu um “rali de 50 anos” nas ações indianas.

Filho de pais alemães e porto-riquenhos, Mobius nasceu em Hempstead, Nova York, e obteve seu Ph.D. no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ele disse que planeja publicar dois livros em breve: um sobre o que os bancos centrais estão fazendo para desenvolver suas próprias moedas digitais, e o outro, um guia para a construção de riqueza.

“Vou estar tão ocupado quanto sempre”, disse ele. “Pode até ser mais movimentado.”

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