Bloomberg Opinion — A WeWork (WE) entrou com um pedido de recuperação judicial na noite da segunda-feira (6). Mas, após se livrar dos passivos acumulados durante seus anos de aparente prosperidade, será que desta vez a empresa de locação de espaços de trabalho terá sucesso?
Essa parece ser uma pergunta ingênua. Depois de ostentar um valuation de US$ 47 bilhões, a WeWork entrou em colapso em 2019, antes de uma abertura de capital planejada e em meio a um horror generalizado em relação a suas finanças e governança corporativa.
Desde então, a empresa tentou se reerguer em pelo menos duas ocasiões: primeiro, quando nomeou uma nova administração e abriu o capital por meio de uma empresa de propósito especial de aquisição (SPAC, na sigla em inglês) em 2021 e, novamente, quando os credores equacionaram alguns dos bilhões de dólares que lhes eram devidos no início deste ano. Ambas as tentativas fracassaram.
Na segunda-feira, o cofundador Adam Neumann disse que o pedido é “decepcionante”, esquecendo-se de mencionar como ele condenou uma boa ideia ao fracasso, sobrecarregando a startup com dezenas de bilhões de dólares em passivos de aluguel (a taxas quase superiores às do mercado), enquanto esbanjava dinheiro em artigos corporativos, como um jato Gulfstream. O japonês SoftBank ficou encarregado de pagar a conta.
A WeWork fracassou porque não lucra – perdeu quase US$ 17 bilhões desde 2010 – mas, desde a saída de Neumann em 2019, reduziu drasticamente seu tamanho e alterou centenas de contratos de aluguel. Agora, ela precisa fazer um corte ainda maior.
O pedido de recuperação judicial abre caminho para o cancelamento de aluguéis nos Estados Unidos que, segundo a administração, têm poucas chances de serem lucrativos. O processo também trocará mais US$ 3 bilhões de dívidas por capital, o que significa que a WeWork deve sair da proteção contra falência com um balanço patrimonial muito menos feio. E, tendo entrado com o pedido de proteção ao credor, ela agora tem mais poder para persuadir outros proprietários a reduzir os aluguéis nos locais que deseja manter.
A recuperação judicial da WeWork é uma má notícia para um mercado urbano de escritórios já deprimido. A relutância dos trabalhadores em voltar ao trabalho presencial – principalmente nos EUA – criou um excesso de imóveis comerciais. A WeWork tem uma grande presença em Nova York, Boston, São Francisco e Londres. Dezenas de propriedades atualmente ocupadas pela WeWork podem ser desocupadas, e uma recessão pode piorar o caos imobiliário.
Existe o risco de os clientes continuarem deixando a WeWork depois de um fracasso de tão grande repercussão ou de exigirem descontos ou adiamentos de taxas. Mas a demanda pelo trabalho híbrido está mais forte do que nunca.
Basta olhar para a concorrente IWG, que registrou um aumento de 7% na receita trimestral e uma queda na dívida líquida, de acordo com os números publicados na terça-feira (7).
“A realidade é que as grandes empresas em todo o mundo estão adotando uma abordagem muito mais flexível em relação à forma como dão apoio ao seu pessoal”, disse o CEO da IWG, Mark Dixon, aos investidores em agosto. “Elas estão adotando o trabalho híbrido. Isso é universal e está ganhando impulso”.
A IWG tem algumas vantagens em relação à WeWork. Ela tem mais unidades nos subúrbios – uma vantagem em um momento em que os trabalhadores visam reduzir o deslocamento. E ultimamente tem priorizado franquias e acordos de parceria que reduzem seus gastos com aluguel.
O valuation da IWG também preocupa – embora a empresa britânica gere um volume de receita semelhante, sua capitalização de mercado é de apenas 1,4 bilhão de libras (US$ 1,7 bilhão).
Se você estivesse abrindo uma empresa para lucrar com o boom do trabalho híbrido, certamente não o faria como a WeWork. Mas o trabalho flexível não está enfraquecendo. Reformada e renascida das cinzas, a WeWork talvez dê certo desta vez.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Chris Bryant é colunista da Bloomberg Opinion e cobre empresas industriais. Anteriormente, trabalhou para o Financial Times.
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