Bloomberg Línea — O segmento de wealth management tem se tornado um dos mais aquecidos do mercado. Mas ainda há oportunidades a serem exploradas do ponto de vista de gestão e da perspectiva de quem é ou foi cliente. Essa é a avaliação dos sócios-fundadores de uma nova empresa de investimentos, a Etti Partners, liderada por Luiz Aires, que foi sócio fundador e head de RI da RPS Capital, Rodrigo Knudsen, o Kiki, ex-head de gestão da Empiricus Investimentos (ex-Vitreo), e Bruno Quelhas, ambos ex-JSI, o antigo family office da família Safra.
A casa nasce já com cerca de R$ 1 bilhão em ativos sob gestão de “30 a 40 famílias”, segundo os sócios. O foco estará em clientes no segmento high, com tíquetes de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões, abaixo do segmento disputado por gestoras com “placa”, como Julius Baer, Turim, WHG, Perfin e outras.
“Acreditamos que o grande diferencial da Etti, dado o background do Kiki e do Bruno, é a visão de cliente para cliente”, disse Aires em entrevista exclusiva à Bloomberg Línea sobre a nova casa.
Ele faz referência ao fato de Kiki e Bruno terem trabalhado no family office de Joseph Safra em Mônaco e Genebra, a JSI Investimentos, cuidando do patrimônio de uma das famílias mais ricas do mundo.
“Todo mundo [no segmento de wealth] diz que não tem conflito de interesse, mas, quando se olha a carteira, acaba encontrando produtos que podem ser mais caros ou que não representam a melhor alocação para o suitability [perfil de risco] do cliente”, disse Kiki, que será o CIO (head de investimentos).
“Quando você está alinhado com o cliente olhando o longo prazo, consegue ter uma conversa para entender o que de fato é melhor para ele.”
O lançamento de uma nova gestora - o pedido de licença foi submetido e está em análise - é um sinal de alento para a indústria, que enfrenta há dois anos um movimento de perda de patrimônio de fundos multimercados e de ações diante dos juros de dois dígitos e de aumento das incertezas. Neste ano, algumas gestoras fecharam e outras se uniram em M&As para manter escala diante dos custos operacionais elevados.
Segundo Kiki, os recursos de clientes serão alocados como carteira administrada, em cima de produtos de terceiros tanto no Brasil - de onde deve vir o alfa (o retorno acima da média de mercado) - como no exterior (veja mais da estratégia abaixo).
Além de wealth management, a Etti Partners nasce com a oferta de serviços de consultoria patrimonial para os clientes, que incluem assessoria em wealth planning (assessoria tributária e sucessória), assim como o início da jornada filantrópica (demanda cada vez mais presente entre famílias).
Nesse modelo de consultoria, o patrimônio não necessariamente fica sob custódia do family office e pode estar atrelado à instituição de preferência do investidor, com aconselhamento dos gestores da Etti.
Outro exemplo da priorização do serviço é a decisão de contar com um profissional - cujo nome ainda não pode ser revelado - em Zurique, na Suíça, para complementar o time de investimentos e pesquisa no exterior.
Na avaliação dos sócios, apesar do crescimento da oferta dos serviços de wealth no mercado brasileiro, o diagnóstico é que nem todas as casas conseguem de fato trabalhar com essa visão de longo prazo e se desassociar do modelo de rebate (devolução das taxas para quem vende o produto).
Ou seja, no mercado em geral há foco mais em produtos, e menos no serviço prestado, segundo eles.
A nova casa vai trabalhar no modelo fiduciário de cobrança de taxa em cima do patrimônio administrado, com reembolso para o cliente de todas as taxas cobradas e devolvidas por gestoras.
A Etti terá de oito a dez profissionais em um primeiro momento e um modelo de partnership para estimular o crescimento profissional e o alinhamento de interesses entre os sócios.
O nome é uma homenagem a Salvador Paoletti, da família fundadora das marcas de produtos alimentícios Etti e Quero e falecido no ano passado. A casa deve começar a operar no início de 2024, segundo Aires e Kiki.
Mudança de paradigma e de portfólio
Ao se referir à atenção com a gestão, Kiki destacou a relevância de fazer a leitura dos movimentos globais. Ele apontou que, em sua avaliação, a economia global pode estar passando pela terceira grande mudança de paradigma dos últimos 25 anos.
A primeira, segundo ele, foi a evidência do impacto da globalização com a crise da Rússia em 1998, que derrubou ativos em todos os mercados e levou a uma mudança na forma de montar portfólios; e depois o início da era de inflação e juros muito mais baixos na esteira da crise financeira global de 2008, que se traduziu em aumento da liquidez global e do fechamento da curva de juros.
“O atual momento pode ser de mudança como os que eu citei: se vai ser exatamente uma volta ao que era antes de 2008 ou uma nova dinâmica, só vamos saber daqui a alguns anos, exatamente como aconteceu com os impactos depois de 1998 e 2008″, disse Kiki.
O gestor, portanto, disse discordar da visão de boa parte do mercado de que o aumento dos juros futuros - expressado nos yields dos Treasuries mais longos - vai esfriar a economia americana a tal ponto que, em seguida, as taxas retornarão aos patamares mais baixos pré-pandemia.
Esse cenário se traduzirá, em sua avaliação, em juros reais positivos nos Estados Unidos e em outras economias desenvolvidas, algo que não acontecia havia 15 anos, e prêmio de risco menor para ações globalmente, o que implicaria mudanças na alocação do portfólio, com peso maior da renda fixa. Seriam condições não vistas por profissionais que entraram no mercado depois de 2008.
No Brasil, por outro lado, as imperfeições de mercado representam maiores oportunidades de alfa, o que se traduz em estar atento justamente a esses momentos. “Ou seja, é momento de ser mais estrutural e estratégico no offshore e mais tático no local”, resumiu Kiki.
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