De CFO a RI: quais são os cargos com os maiores salários na área de finanças

Remuneração de tais carreiras em grandes empresas pode chegar a R$ 840 mil ao ano, segundo estudo da Michael Page divulgado em primeira mão pela Bloomberg Línea

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Bloomberg Línea — Em um ambiente econômico com juros elevados em 2023, que tornam a gestão financeira ainda mais relevante, carreiras dessa área seguem entre as que oferecem uma remuneração mais elevada em relação às demais. É o que revela um estudo de remuneração da Michael Page, consultoria global de recrutamento executivo, divulgado com exclusividade à Bloomberg Línea.

O levantamento mostra que algumas posições da área de finanças chegam a pagar um total compensation anual (remuneração total, incluindo bônus) de R$ 840 mil, caso de um Chief Financial Officer (CFO) de uma “grande empresa” (considerada pelos critérios do estudo aquelas com receita operacional bruta anual maior que R$ 300 milhões; em grandes bancos, esse esse limite pode chegar a cerca de R$ 700 milhões).

Outros cargos que ocupam o topo da lista de remunerações no setor são diretor fiscal tributário e diretor financeiro, ambos com uma remuneração total anual média de R$ 600 mil. Já em cargos como diretor de Tesouraria ou gerente de M&A (fusões e aquisições) de grandes empresas, o “total comp” pode superar os R$ 480 mil, segundo o estudo.

Um diretor de RI (Relações com Investidores) ganha até R$ 360 mil ao ano e “empata” na décima posição das maiores remunerações com gerentes de Project Finance e de Planejamento Financeiro.

O levantamento, que conta com as estimativas de remunerações para 2024, não inclui dados de gestoras de investimento, de wealth management nem da área de investment banking, que em alguns casos pagam valores ainda mais altos em razão de valores atrelados ao números de deals assessorados.

Por outro lado, a remuneração média é menor quando comparada com as da diretoria executiva dos maiores bancos do país, como Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Itaú Unibanco (ITUB4).

De acordo com o formulário de referência publicado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), os 50 diretores do Santander receberam, em média, R$ 6,63 milhões em 2022. Como é característica do mercado financeiro, a maior parte desse montante corresponde à remuneração baseada em ações: 30,05%, no caso da filial brasileira do banco espanhol.

A maior parte (30,05%) veio da remuneração baseada em ações. O restante foi formado por remuneração fixa (24,79%), benefícios (1,56%), previdência (15,74%) e remuneração variável (27,85%).

O mesmo aconteceu no Bradesco, em que a remuneração fixa da diretoria correspondeu a 20,1% em 2022, enquanto a variável foi de 35,6%. Cada um dos 95 diretores do banco recebeu, em média, R$ 7,7 milhões no ano passado, segundo o formulário enviado à CVM.

Já no Itaú, os 31 diretores receberam R$ 13,9 milhões cada um ano passado, sendo 90% desse valor relativo à renda variável.

Compasso de espera

Com juros ainda em dois dígitos no Brasil e maior volatilidade tanto na economia local quanto internacional, o mercado de capitais teve mais dificuldade para ganhar tração este ano, com operações como M&A e emissão de ações e de dívida. E o mesmo aconteceu de certa forma com profissionais da área, que evitaram fazer grandes mudanças de carreira neste ano.

“As empresas quiseram resolver problemas latentes ao longo deste ano. Por isso, as novas contratações têm sido marcadas por pessoas que já ocuparam a posição, que já viveram o desafio e que estão querendo uma movimentação lateral, já que não há tempo para crescer na cadeira”, afirmou Lucas Oggiam, diretor executivo da PageGroup, à Bloomberg Línea.

“Foi uma característica excepcional neste ano que se manteve no segundo semestre e que deve continuar dessa forma no início de 2024.”

Por mais que grande parte das posições tenha registrado aumento nas remunerações totais, isso representa apenas uma correção pela inflação, segundo Oggiam. Ele contou que não houve compensações sendo feitas no mercado, dado que “não está sobrando dinheiro” para a maioria das empresas, que estão “sentando em caixa” dado o cenário atual.

Além disso, completou, há um grande número de profissionais do setor financeiro que ainda não têm o nível de expertise desejado, mas que acabam sentando em cadeiras “mais altas” por causa da falta de talentos qualificados no mercado. E ganham menos do que os mais experientes.

Cultura e segurança de trabalho

Embora o salário fixo, os benefícios e o bônus ainda sejam fatores decisivos quando se trata de atratividade do setor financeiro, outras questões como cultura e segurança no trabalho têm ganhado relevância, disse Oggiam.

“Nunca vimos decisões tão pautadas em projetos específicos que as pessoas consideram mais interessantes e na segurança no trabalho como agora – e isso deve ampliar nos próximos anos”, disse.

O executivo afirmou que os profissionais do mercado financeiro estão mais receosos em fazer movimentações, principalmente depois de um período em que as maiores empresas do mundo passaram por layoffs.

“Segurança de trabalho se tornou algo mais relevante, por isso estar em um lugar em que a cadeira está reservada começou a pesar em algumas decisões”, afirmou.

M&As e crédito

Depois de dois anos de busca por profissionais de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), Oggiam contou que 2023 viu uma pausa nessas contratações, com as empresas “preferindo amadurecer a tese”, dado o cenário mais desafiador para o mercado de capitais.

A expectativa, segundo o executivo da Michael Page, é de que com uma retomada do mercado em 2024, novas vagas voltem a ganhar destaque na área.

Enquanto M&As viu uma pausa nas contratações, profissionais da área de crédito ganharam destaque este ano, com as instituições financeiras em busca de bons profissionais para crescer na área.

Um gerente de crédito e cobrança, por exemplo, tem uma remuneração média de R$ 25 mil por mês, segundo o levantamento.

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