Bloomberg Opinion — A Amazon (AMZN) passou a reforçar sua política de retorno ao trabalho presencial, segundo a Business Insider, incentivando gestores a confrontar e até demitir funcionários que não trabalhassem presencialmente no mínimo três vezes na semana.
Isso coloca os gestores intermediários da empresa em uma posição complicada: demitir as pessoas que não frequentam o escritório, mas que podem estar fazendo um ótimo trabalho remotamente e podem ser difíceis de substituir; ou arriscar a própria carreira se não aumentarem as taxas de presença no escritório.
Seria um erro manter essa abordagem. Os últimos três anos mostraram que não é necessário monitorar cada funcionário para que o trabalho seja feito.
Embora a presença de americanos nos escritórios não tenha aumentado no último ano, a tensão aumentou. Uma recente pesquisa da Gartner constatou que a maioria dos líderes estão enfrentando “um aumento nos conflitos internos das equipes” como resultado da obrigatoriedade do trabalho presencial.
A causa do conflito é que ainda há uma ampla discordância sobre a produtividade dos funcionários que trabalham remotamente. Os próprios funcionários dizem que é possível ser produtivo: 86% afirmam que são tão produtivos ou mais em casa, em comparação a 14% que afirmam ser menos produtivos, segundo uma pesquisa recente liderada por Nicholas Bloom, economista da Universidade de Stanford.
Muitos gerentes de RH e líderes seniores veem a situação de forma diferente. Em uma pesquisa recente realizada pela McKinsey & Co. e pelo LeanIn.org, 83% dos funcionários remotos afirmaram que o trabalho remoto os tornou mais eficientes e produtivos; mas apenas 52% dos líderes de RH concordaram com a afirmação.
Em suma, muitos líderes seniores acreditam que os trabalhadores têm melhor desempenho no trabalho presencial – mesmo que esses funcionários não percebam.
As pesquisas acadêmicas não vão cravar quem está certo e quem está errado: os vários estudos que analisaram a questão da produtividade no trabalho remoto nos últimos anos chegaram a diferentes conclusões. Se precisasse resumir as evidências dos acadêmicos, diria que “os resultados podem ser variados”.
A maioria das pessoas sabe como trabalhar melhor, diz David Burkus, autor do livro ‘Best Team Ever: The Surprising Science of High-Performing Teams’ (‘A melhor equipe de todos os tempos: a surpreendente ciência das equipes de alto desempenho’, em tradução livre). No geral, quando os funcionários podem controlar onde e como trabalhar, seu desempenho tende a melhorar. As pessoas que preferem trabalhar de casa são mais produtivas em casa, e aqueles que preferem ir para o escritório normalmente se saem melhor trabalhando presencialmente. Vendo por esse lado, não há muitos motivos para obrigar os funcionários a adotar um acordo de trabalho ao qual estão resistindo.
“Eu não considero o retorno ao trabalho presencial um dilema sobre qual o percentual correto de presença no escritório”, diz Burkus. “É um dilema entre o novo gosto dos trabalhadores pela autonomia e a necessidade de manter sua responsabilidade sobre o desempenho e sua conexão com o resto da equipe”.
É claro que é possível que alguns funcionários estejam produzindo menos em casa e nem percebam isso, segundo Amy Gallo, autora de ‘Getting Along: How to Work with Anyone (Even Difficult People)’ (‘Relações corporativas: como trabalhar com qualquer pessoa (até as mais difíceis)’, em tradução livre). Com tantos modelos – trabalho presencial, remoto e híbrido – ela diz que “faz sentido que todos nos avaliemos: ‘essa é a melhor forma que eu posso trabalhar?’”. Diria até que acredito que os trabalhadores têm a responsabilidade de fazer essa pergunta.
Mas qualquer pessoa que esteja com um desempenho menor em casa e não perceba isso provavelmente faz parte da minoria, segundo os especialistas. Além disso, simplesmente levá-los de volta ao escritório não vai resolver o problema. “O desempenho inferior não melhora só porque um gestor está monitorando seu trabalho”, diz Liz Kislik, consultora de gestão e coach executiva. “O gestor precisa saber o que fazer com o funcionário”.
Empresas como a Amazon devem parar com a obsessão pelo trabalho presencial e focar na gestão. Reuniões individuais com funcionários, reuniões semanais com as equipes para compartilhar atualizações, implementar sistemas para monitorar a produção dos funcionários – nada disso exige novas contratações. Mesmo assim, em muitas empresas, parece haver uma pressuposição de que os gestores não vão conseguir fazer seu trabalho de gestão até que a presença no escritório aumente.
“Os gestores ainda não sabem como supervisionar adequadamente os funcionários que não estão ao alcance de seus olhos”, afirma Dorie Clark, autora de ‘The Long Game: How to Be a Long-Term Thinker in a Short-Term World’ (‘Pensar no amanhã: como focar no futuro em um mundo imediatista’, em tradução livre). “As pessoas utilizam a localização como uma muleta”. Mas trabalhando remota ou presencialmente, os projetos precisam de supervisão.
Os últimos anos foram complicados para gestores intermediários – cujo trabalho já não era fácil antes da pandemia.
A abordagem da Amazon só vai dificultar o trabalho deles. E não vai ajudar a convencer os funcionários de que são mais produtivos no escritório.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Sarah Green Carmichael é colunista e editora da Bloomberg Opinion. Anteriormente, foi editora executiva da Harvard Business Review.
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