Opportunity aposta no boom do mercado imobiliário de Miami

Gestora administra R$ 58 bilhões em ativos. Agora compra terrenos e desenvolve projetos diretamente na Flórida, onde já investia em fundos imobiliários

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Bloomberg — O bilionário Daniel Dantas passou os últimos 30 anos ampliando sua fortuna por meio do Opportunity. Agora está investindo diretamente em imóveis nos EUA pela primeira vez.

O Opportunity administra cerca de R$ 58 bilhões em ativos, desde propriedades rurais até operadores portuários e produtores de óleo de palma, o que o torna um dos maiores gestores de ativos independentes do Brasil, de acordo com documentos. Suas atividades estão separadas em private equity, gestão de ativos, gestão de fortunas e investimentos imobiliários.

Através do ramo imobiliário, Dantas e seus sócios estão levando o Opportunity muito além de sua sede para construir torres de apartamentos e condomínios no aquecido mercado de Miami.

Embora o Opportunity tenha investido através de fundos imobiliários de terceiros nos EUA ao longo dos últimos sete anos, agora está comprando terrenos e desenvolvendo projetos diretamente, através de uma joint venture com o Leste Group, com sede em Miami, também fundado por brasileiros.

A LORE, como é conhecido o empreendimento, já comprou sete lotes por cerca de US$ 100 milhões na área de Miami e planeja investir mais de US$ 1 bilhão em cinco anos. Um de seus primeiros empreendimentos será uma torre de apartamentos de 70 andares com 500 apartamentos no bairro de Brickell.

A atual carteira imobiliária tem cerca de R$ 3 bilhões sob gestão e os retornos desde seu início, em 1996, têm sido em média de 19% ao ano, segundo Jomar Monnerat, chefe da divisão, que está no Opportunity há 29 anos. O fundo paga dividendos duas vezes por ano, que representam em média cerca de 8% dos lucros.

Monnerat disse que teve sucesso em investimentos nos EUA no passado, mas o desenvolvimento era feito por um terceiro, que ficava com o prêmio. “Aí falamos: ‘Isso a gente sabe fazer também’, e começamos a montar uma empresa.”

Embora a construção de projetos multifamily nos EUA tenha sido um investimento popular nos últimos anos, Monnerat disse que o Opportunity está de olho em condomínios em Miami que possam proporcionar melhores retornos a curto prazo, enquanto as taxas de juros permanecem altas e a economia desacelera. Eles estão desenvolvendo vários em Coconut Grove, Brickell e no sul da cidade, disse ele.

Já sendo a maior incorporadora imobiliária do Rio, o Opportunity já concluiu mais de 100 projetos comerciais e residenciais. Agora está reformando um hotel histórico de 1922 em um complexo residencial. O Hotel Glória, que foi o primeiro cinco estrelas do Brasil e hospedou nomes como Marilyn Monroe e Albert Einstein em seu apogeu, foi comprado em leilão após a queda do ex-bilionário Eike Batista.

Após adquirir o imóvel por R$ 100 milhões, o Opportunity investiu mais R$ 300 milhões. Terá 266 apartamentos e será inaugurado em 2026.

A empresa teve vendas recordes de R$ 800 milhões em 2022 e está a caminho de superar esse valor este ano.

Dantas, que evita os holofotes desde um período tumultuado em 2008, fundou o Opportunity em 1994 com o sócio Dorio Ferman e sua irmã Veronica Dantas.

O Opportunity foi contratado pelo Citigroup em 1997 para ajudar o banco a investir em telecomunicações durante a privatização do setor. Depois de administrar sua carteira de private equity durante anos, a gestora de Dantas foi afastada em 2005 e se envolveu em uma batalha legal com o banco.

Três anos depois, o financista de 69 anos foi brevemente preso duas vezes como parte de investigações de suborno e lavagem de dinheiro, mas mais tarde foi inocentado das acusações. Num e-mail de 2017 para a Bloomberg News, Dantas disse que a investigação era um estratagema para ajudar os concorrentes do Opportunity.

Não está claro quanto dos R$ 58 bilhões em ativos do Opportunity é dinheiro dele ou qual é a fatia que possui. Uma porta-voz da empresa não quis comentar, citando “restrições legais”.

Um único investidor na gestora Opportunity Gestora de Recursos, que lista Dantas como controlador, é responsável por R$ 6,8 bilhões dos R$ 13 bilhões sob gestão, mostram documentos. Em outra gestora, a Opportunity HDF Administradora de Recursos, onde Ferman é listado como controlador, um único investidor tem R$ 11,2 bilhões dos R$ 19,8 bilhões.

O fundo imobiliário do Opportunity nasceu de um único projeto na Barra, no Rio, e depois partiu para edifícios de escritórios, disse Monnerat. Quando os aluguéis atingiram o pico, por volta de 2012 e 2014, eles começaram a vender espaços comerciais e a se concentrar em projetos residenciais na zona sul da cidade.

Além do Rio, o Opportunity possui mais de 400.000 hectares de terras no norte do estado do Pará, onde cria gado e produz soja e milho através da empresa AgroSB.

A cerca de 170 quilômetros a leste do Rio, o Opportunity está desenvolvendo um projeto de condomínio de luxo chamado Arete, em Búzios. Com um toque de estilo da Flórida, as casas são construídas em canais artificiais com um campo de golfe de 18 buracos e uma pista de pouso próxima. Cerca de 300 das 3.000 casas planejadas foram vendidas, disse Raphael Zanola, gestor imobiliário do Opportunity.

Mais ao norte, estão em obras um grande projeto residencial no Espírito Santo e outro condomínio fechado em Brasília. O Opportunity preferiu não entrar no mercado de São Paulo e, em vez disso, focar em lugares que conhece e pode dominar, disse Monnerat.

Um novo empreendimento com o desenvolvedor local Rafael de Carvalho Ramos, chamado BRIX, começou a revigorar propriedades antigas nos bairros nobres de Ipanema e Copacabana, no Rio, com o Opportunity detendo 75% do empreendimento.

Seus sócios em Miami, no Leste, são liderados por Stephan de Sabrit e pelo ex-executivo do BTG Pactual Emmanuel Hermann, que conhecem a equipe do Opportunity há décadas. Monnerat e Zanola passam uma semana a cada 45 dias em Miami e trabalham no escritório do Leste em Brickell.

“Lá, nos Estados Unidos, é muito pró-negócios”, disse Monnerat.

Originalmente, eles planejavam construir 250 apartamentos no local, mas como o terreno era adjacente a uma estação ferroviária, conseguiram expandir o projeto, afirmou.

“Então, assim, ao invés de ter 40 e poucos andares, a gente podia fazer 60, 70 andares no prédio”, disse Monnerat. “Coisas que aqui no Brasil às vezes a gente não vai ter.”

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