Kinea vê exagero em piora do mercado e volta a apostar em queda dos juros no Brasil

Para Denis Ferrari, gestor de renda fixa da Kinea, a piora recente das taxas domésticas parece exagerada diante da evolução favorável da inflação no país

Prédio do Banco Central em Brasília
Por Felipe Saturnino
29 de Setembro, 2023 | 03:30 PM

Bloomberg — A Kinea Investimentos voltou a montar posições que ganham com a queda dos juros futuros no Brasil nos últimos pregões, depois que as taxas domésticas dispararam devido aos sinais mais duros do Banco Central e à perspectiva de que a política monetária do Fed permanecerá apertada por mais tempo.

A chamada posição “aplicada” é pequena, dado que o cenário internacional segue incerto em razão do avanço dos rendimentos dos títulos públicos dos Estados Unidos, disse o gestor de renda fixa da Kinea, Denis Ferrari, à Bloomberg News.

Ainda assim, a piora recente das taxas domésticas parece exagerada diante da evolução favorável da inflação no Brasil, avalia ele.

Ferrari chama a atenção para o fato de que a curva de juros passou a embutir um ciclo total de cortes que manteria a Selic acima de 10% — sendo que, há duas semanas, a taxa terminal projetada nos preços dos ativos era de cerca de 9,25%.

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Além disso, o gestor observa que o mercado descartou a chance de o BC acelerar o ritmo de flexibilização para além do atual 0,50pp a cada reunião do Copom.

“Parece um pouco exagerado, e por isso achamos que vale a pena colocar o pé devagar no mercado de novo”, diz Ferrari.

O gestor diz que suas posições no mercado de juros brasileiro estavam “zeradas” depois de o Copom usar uma linguagem conservadora tanto no comunicado quanto na ata do último encontro — que cortou a Selic para 12,75% ao ano.

Selic de um dígito

A montagem das posições pequenas no mercado de juros se deu na própria terça-feira (26), ele disse, que menciona a forte alta recente dos juros futuros negociados na B3 e a composição favorável do IPCA-15 como fatores para a aposta.

Ferrari diz que a qualidade da prévia de inflação de setembro foi benigna, com redução da média dos núcleos de inflação — medidas que descartam itens voláteis e captam a tendência dos preços — monitorados pelo BC e um índice de difusão bastante baixo.

Ele observa ainda que a surpresa altista do indicador se deveu a itens voláteis, como passagens aéreas e higiene pessoal.

“Tenho uma visão diferente da do mercado, que concentrou a atenção nos serviços subjacentes, e estou muito mais otimista com a inflação”, disse. “Apliquei taxa porque o mercado leu o IPCA-15 como ruim, enquanto vi o índice positivamente.”

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Uma Selic terminal de 8,5% e uma aceleração de ritmo de juros agora parecem carta fora do baralho, mas é possível alcançar um juro básico de 9,5% ou 10%, disse Ferrari, adicionando que um aumento do ritmo de flexibilização poderá ser observado em fevereiro ou março.

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