Qual é o único hotel brasileiro eleito um dos 50 melhores do mundo?

Falta de diversidade nas localizações dos hotéis foi a principal crítica à nova premiação da World’s 50 Best, que contou com 21 hotéis na Europa entre os 50 da lista

Dominada por hotéis europeus e asiáticos, a primeira lista dos 50 melhores hotéis do mundo foi divulgada em cerimônia em Londres (Foto: Rosewood/Divulgação)
Por Nikki Ekstein
23 de Setembro, 2023 | 09:38 AM

Bloomberg — Os criadores das listas dos 50 melhores restaurantes e bares do mundo coroaram o melhor hotel do mundo pela primeira vez – o Passalacqua, no Lago de Como, na Itália.

O minúsculo hotel de 24 quartos foi inaugurado em junho de 2022, após uma restauração de anos em seu edifício do século XVIII, que já recebeu hóspedes ilustres como Napoleão Bonaparte, Winston Churchill e Vincenzo Bellini, que o transformou em sua casa no século XIX.

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O aumento instantâneo e meteórico da popularidade do hotel entre os mais abastados se deu, em grande parte, graças aos carismáticos proprietários Paolo, Antonella e Valentina De Santis, que fizeram do hotel um verdadeiro trabalho de amor e que já tinham seguidores como proprietários do amado Grand Hotel Tremezzo, também no Lago de Como.

As diárias no Passalacqua começam em cerca de US$ 1.800 por noite para a próxima temporada de verão no hemisfério norte.

“Se você pode sonhar, pode fazer! Aqui estamos nós!”, disse Valentina De Santis, visivelmente emocionada ao receber o prêmio principal. “Não temos grandes ombros atrás de nós, e mesmo assim chegamos aqui.”

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Logo abaixo do Passalacqua, havia uma série de estadias asiáticas icônicas.

Completando os cinco primeiros colocados estavam Rosewood Hong Kong; Four Seasons Chao Praya River, Bangkok; The Upper House, Hong Kong; e Aman Tokyo.

O La Mamounia, em Marrakesh, veio em seguida – um triunfo para uma cidade que ainda se recupera do terremoto devastador de 8 de setembro deste ano.

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Apesar de os destinos asiáticos dominarem o top 10, a lista teve um forte viés europeu, o que levou os espectadores da transmissão ao vivo a se perguntarem se a lista era sobre os 50 melhores hotéis da Europa, pois as propriedades no continente ocuparam 21 das 50 colocações.

Além de dois hotéis da cidade de Nova York – o Aman e o Equinox –, nenhum outro hotel dos Estados Unidos entrou na lista.

Apenas um hotel na América do Sul foi classificado na lista: o Rosewood São Paulo, no Brasil.

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O novo hotel de luxo fica em um antigo casarão reformado próximo à avenida Paulista, que abrigou uma maternidade na década de 1940, dentro do complexo de luxo Cidade Matarazzo. Um dos nomes por trás do projeto é o designer Phillip Starck. O hotel tem seis restaurantes, espaço para eventos e spa. Em breve, terá como vizinho no complexo a primeira unidade brasileira do Soho House.

Também digno de nota é o fato de que os hotéis independentes superaram em muito aqueles de redes; o Marriott e o Hilton não tiveram nenhuma indicação, embora o Aman e o Four Seasons tenham recebido quatro indicações cada um. O Maybourne Hotel Group e a Oetker Collection receberam três cada um – ambas marcas menos conhecidas, mas adoradas pelos consumidores de luxo.

O anúncio, que ocorreu em Londres, marca a primeira lista focada em hotéis da equipe do 50 Best, que é conhecida por suas listas globais e regionais de restaurantes e bares – todas compiladas pela empresa William Reed Business Media, sediada no Reino Unido.

O principal patrocinador da lista inaugural dos 50 melhores hotéis do mundo é a SevenRooms, uma plataforma de tecnologia de back-end para restaurantes e hotéis.

Em seus 21 anos, a lista World’s 50 Best Restaurants cravou novos destinos globais, como Copenhague ou Lima, transformando-os de cidades secundárias em destinos gastronômicos que estão no topo da lista de desejos.

“Há várias facetas que fazem com que uma lista como essa seja bem-sucedida”, disse William Drew, diretor de conteúdo da William Reed, acrescentando que a lista de hotéis está sendo elaborada há quase uma década.

“A forma como ela gera negócios para os hotéis é importante e, em um nível um pouco menos empírico, como ela incentiva a descoberta – a descoberta cultural –, encorajando viagens a novas partes do mundo que, de outra forma, talvez você não fizesse”.

Isso é especialmente verdadeiro quando se trata dos 50 melhores restaurantes. No entanto, no que diz respeito à lista de hotéis deste ano, o potencial de mapear novos destinos não foi amplamente aproveitado.

Além do La Mamounia (6º lugar), Marrakesh teve outro hotel, o Royal Mansour (23º lugar); seria um grande benefício para a cidade se os elogios ajudassem a dar confiança aos viajantes em sua capacidade de viajar para a Cidade Vermelha, que foi amplamente poupada dos danos do terremoto e depende muito de sua economia turística.

O Sri Lanka, da mesma forma, pode se beneficiar; em 38º lugar, Amangalla pode ter um posicionamento menos proeminente na lista, mas merecidamente lançaria um holofote sobre um país onde o turismo tem tido dificuldade para se enraizar, apesar da vasta riqueza de hospitalidade, culinária e apelo cultural.

Metodologia (e as críticas)

O processo de compilação da World’s 50 Best tem como base a experiência pessoal de 580 jurados designados para suas funções por chefes de divisões regionais chamados de presidentes de academia.

Cada um desses jurados registra votos para os sete melhores hotéis, em ordem de preferência, nos quais se hospedaram nos últimos 24 meses (em futuras iterações da lista, o período será reduzido para 18 meses).

Os jurados podem trabalhar no setor como hoteleiros, funcionários, agentes de viagem ou jornalistas – incluindo aqueles que normalmente são hospedados gratuitamente em viagens de imprensa e viagens de familiarização – ou serem considerados especialistas simplesmente por terem um estilo de vida particularmente itinerante.

Além dos 50 melhores hotéis, foram concedidos prêmios especiais a seis propriedades – entre elas, o Soneva Fushi, nas Maldivas, foi nomeado Lost Explorer Best Beach Hotel (o melhor hotel a menos de 20 metros de uma praia), e o Capella Bangkok foi distinguido como o Nikka Best New Hotel, um reconhecimento ao hotel com a melhor classificação durante a janela de votação inaugural de dois anos, de maio de 2021 a maio de 2023.

Outros reconhecimentos especiais incluíram o Flor de Caña Eco Hotel, um prêmio de sustentabilidade que foi para o Singita Lodges Kruger National Park na África do Sul – onde a conservação e a capacitação social são as principais prioridades, com a contratação de cozinheiros de sua própria escola de culinária, que treina jovens locais em situação de risco; e o Carlo Alberto Vermouth Best Boutique Hotel, concedido ao The Newt em Somerset como o hotel independente de melhor classificação com 50 ou menos quartos.

Um sétimo prêmio especial (que contempla “uma força positiva no setor global de hotéis”) foi concedido a Sonu Shivdasani, CEO da Soneva e única pessoa a ser reconhecida individualmente na cerimônia. Seus três resorts, incluindo o Soneva Fushi, em sétimo lugar, e o Soneva Jani, em 36º lugar, são templos de luxo sustentável; este último, nas Maldivas, tem vilas sobre a água com toboáguas próprios e sua própria usina de reciclagem de vidro, tudo isso em um pequeno atol privado.

Questionado sobre se os efeitos contínuos da pandemia – como a lenta reabertura das fronteiras na Ásia – poderiam afetar as classificações, Drew expressou sua confiança no sistema.

“Estou confiante de que ele é bastante equilibrado e que as partes do mundo que demoraram mais para sair do confinamento se recuperaram um pouco devido à demanda reprimida”, disse. E, de fato, a Ásia teve um desempenho espetacular.

Críticas à falta de diversidade

Mas a diversidade geográfica foi um desafio.

Drew disse que foi dada grande ênfase ao estabelecimento de um júri com diversidade geográfica, para garantir que a lista tivesse o potencial de refletir todo o globo, e não apenas as principais capitais que recebem o maior número de visitantes internacionais. No entanto, ele admitiu que essa era uma tarefa difícil. “Nunca será um sistema perfeito e totalmente equitativo. Não é possível fazer isso. Este é o melhor que podemos fazer.”

E de todos os incríveis e luxuosos lodges de safári do continente africano, apenas o Singita Lodges Kruger National Park foi reconhecido.

O mesmo problema de representação afetou uma recente classificação de hotéis da La Liste, na qual o Belmond Hotel Cipriani foi classificado como o melhor do mundo; esse hotel não foi classificado no World’s 50 Best.

Apesar do fato de que as viagens internacionais para o Japão e Hong Kong só foram retomadas em outubro de 2022 e janeiro de 2023, respectivamente, esses destinos foram representados com três propriedades entre os dez melhores, talvez indicando o fato de que até mesmo os profissionais mais viajados só podem chegar a alguns cantos do mundo em um período de dois anos.

Na verdade, esses especialistas em viagens priorizam o que é novo ou, no caso de viagens pós-pandemia, o que está disponível recentemente para eles - o que provavelmente explica por que essa lista se inclinou mais para o que é badalado do que para o melhor no geral.

Como comparar um resort de praia colorido em St. Barth com um oásis urbano cujo lobby fica no 33º andar da Torre Otemachi em Tóquio? Drew disse que a complexidade da proposta é o que torna a lista interessante. “Queremos que haja uma discussão sobre o que torna um hotel excelente, porque a resposta de cada um é ligeiramente diferente”, explicou ele. “E isso é positivo para nós. É isso que torna a lista dinâmica e a mantém em movimento e em constante evolução.”

Confira a lista dos 50 melhores hotéis do mundo

1. Passalacqua, Lake Como, Itália

2. Rosewood Hong Kong

3. Four Seasons Chao Praya River, Bangkok

4. The Upper House, Hong Kong

5. Aman Tokyo, Japão

6. La Mamounia, Marrakesh, Marrocos

7. Soneva Fushi, Maldivas

8. One & Only Mandarina, Puerto Vallarta, México

9. Four Seasons Firenze, Itália

10. Mandarin Oriental Bangkok

11. Capella Bangkok (Prêmio Nikka Best New Hotel)

12. The Calile, Brisbane, Austrália

13. Chablé Yucatan, Chocolá, México

14. Aman Venice, Veneza

15. Singita Lodges Kruger National Park (Flor de Caña Eco Hotel Award)

16. Claridge’s, Londres

17. Raffles Singapore, Cingapura

18. Nihi Sumba, Indonésia

19. Hotel Esencia, Tulum, México

20. La Sirenuse, Positano, Itália

21. Borgo Egnazia, Savalletri, Itália

22. The Connaught, Londres

23. Royal Mansour, Marrakesh, Marrocos

24. Four Seasons Madrid, Espanha

25. Aman New York, EUA

26. Maybourne Riviera, Roquebrune-Cap-Martin, França

27. Rosewood, São Paulo, Brasil

28. Capella Singapore, Cingapura

29. Le Bristol, Paris

30. Park Hyatt Kyoto, Japão

31. La Reserve, Paris

32. Gleneagles, Auchterarder, Escócia

33. Hotel du Cap Eden Roc, Antibes, França

34. Cheval Blanc, Paris

35. Four Seasons Astir Palace, Atenas

36. Soneva Jani, Maldivas

37. The Newt, Bruton, Reino Unido (Prêmio Best Boutique Hotel)

38. Amangalla, Sri Lanka

39. Hoshinoya Tokyo, Japão

40. Desa Potato Head, Bali

41. Eden Rock, Ilha de São Bartolomeu

42. The Siam, Bangkok

43. Badrutt’s Palace, St. Moritz, Suíça

44. Atlantis The Royal, Dubai

45. Oberoi Amarvilas, Agra, Índia

46. Nomad Londres

47. The Savoy, Londres

48. Equinox New York, EUA

49. Six Senses Ibiza, Espanha

50. Hôtel de Crillon, Paris

- Com a colaboração de Sarah Rappaport.

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