Na Europa, fundos tentam se adaptar a regras ESG para evitar perda de investidores

Análise do Goldman Sachs mostra que investidores estão ficando mais criteriosos em suas alocações, aumentando pressão sobre a indústria de fundos

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Bloomberg — Gestores estão tendo cada vez mais dificuldade em vender seus fundos de investimento na Europa a menos que eles estejam registrados como ESG, de acordo com um estudo realizado pelo Goldman Sachs (GS).

A pesquisa foi feita mais de dois anos após a União Europeia (UE) implementar seu Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR), um conjunto de regras de investimento ESG de alcance global projetado para combater a prática de “greenwashing” e direcionar capital para atividades sustentáveis.

Desde 2019, o mesmo ano em que os legisladores adotaram pela primeira vez o SFDR, suas duas categorias ESG (artigos 8 e 9) receberam 3,4 vezes mais fluxo de clientes do que suas contrapartes não-ESG (artigo 6), de acordo com a análise do Goldman.

O novo cenário regulatório teve “impactos significativos nos fluxos de capital”, escreveram analistas do Goldman, incluindo Evan Tylenda e Grace Chen, em nota.

As conversas que o time de análise teve com participantes da indústria mostram que está “cada vez mais difícil vender fundos″ sem essas melhores práticas ambientais, sociais e de governança, disseram eles.

A nova realidade está aumentando a pressão sobre a indústria de fundos para rotular o máximo possível de produtos como ESG, ou arriscar a perda de alocações de clientes.

Isso está levando alguns gestores a testar os limites da classificação ESG mais fraca da UE — que agora foi aplicada a cerca de US$ 6 trilhões em ativos sob gestão, segundo a Bloomberg Intelligence. Exemplos recentes incluem um fundo de Bitcoin, que recebeu críticas de especialistas em meio ambiente.

Ao mesmo tempo, cerca de um terço dos fundos do Artigo 8 não têm como alvo investimentos sustentáveis, enquanto o restante vincula suas práticas ESG a uma ampla variedade de metas difíceis de definir, de acordo com pesquisas da Morningstar.

Para registrar um fundo como Artigo 8, uma gestora precisa se comprometer a “promover” o ESG, enquanto um fundo do Artigo 9 deve tornar o ESG seu “objetivo” e almejar 100% de investimentos sustentáveis, de acordo com a definição do SFDR.

Investidores mais criteriosos

A análise do Goldman também indica que os investidores finais estão se tornando mais criteriosos e mirando nos fundos do Artigo 8 as maiores alegações de sustentabilidade.

Isso está criando uma subcategoria não oficial — “Artigo 8+” — observaram os analistas, referindo-se a fundos registrados como Artigo 8, mas que atendem a critérios de sustentabilidade mais rigorosos do que o necessário.

Desde 2019, os fundos chamados de Artigo 8+ tiveram 3,2 vezes o nível de fluxos cumulativos dos fundos regulares do Artigo 8 sem metas de investimento sustentável, mostra o estudo do Goldman. O SFDR foi promulgado em novembro de 2019 e publicado no Diário Oficial da União Europeia um mês depois.

Ao mesmo tempo, os fundos registrados como Artigo 9 — a designação ESG mais alta da UE — estão “recebendo os fluxos mais consistentes em ações e renda fixa”, segundo o Goldman.

Para os fundos do Artigo 8, os setores preferidos são tecnologia da saúde e serviços diversificados ao consumidor. Os fundos tendem a evitar os setores de tabaco, aeroespacial e defesa, combustíveis fósseis e REITs (os fundos imobiliários dos EUA) residenciais, disseram os analistas.

Para os fundos do Artigo 9, os setores preferidos são REITs de hipotecas e produtores independentes de energia e eletricidade renovável.

As empresas de investimento que estão se adaptando ao SFDR passaram por um período turbulento que culminou em uma grande reclassificação de fundos do Artigo 9 para o Artigo 8 no final do ano passado, à medida que os gestores lutaram para interpretar a orientação em torno das regulamentações da UE.

A indústria parece ter se estabilizado, com o ritmo das reclassificações muito mais moderado este ano, segundo os analistas do Goldman.

Enquanto isso, a indústria de investimentos enfrenta uma longa lista de atualizações das regulamentações ESG da UE existentes, incluindo uma revisão de quão bem os gestores de fundos estão se adaptando à nova exigência de divulgar os chamados “indicadores de impacto adverso”, bem como novos padrões técnicos regulatórios que colocarão mais pressão sobre as empresas para respaldar suas alegações de ESG.

Ao mesmo tempo, a demanda por produtos ESG levará os gestores a se tornarem cada vez mais ambiciosos nas metas de sustentabilidade que estabelecem, disseram os analistas do Goldman.

--Com a colaboração de Frances Schwartzkopff

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