Bloomberg Línea — As novas criações da robótica começam a chegar ao Brasil, o que abre um leque de aplicações que vão da vigilância em eventos de entretenimento a missões de risco na área industrial, como no setor de geração de energia. Um cão-robô é um dos destaques, do festival de música The Town em São Paulo, neste fim de semana e no próximo no autódromo de Interlagos.
Na usina hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu, no Paraná, por sua vez, dois cães cibernéticos serão utilizados em operações realizadas em áreas consideradas críticas e de difícil acesso em sua infraestrutura.
O cão-robô Yellow, que pertence à SegurPro, responsável pela vigilância do The Town, funciona com a conexão 5G para a coleta de dados e a transmissão em tempo real aos agentes de monitoramento. O objetivo é prevenir indícios de incêndio ou situações que possam colocar a vida humana em risco.
O Yellow já foi usado em outros eventos musicais no exterior, como o Mutua Open Madrid e no Rock in Rio Lisboa, além da edição brasileira no Rio de Janeiro em 2022. O robô dispõe de câmeras e capacidades analíticas que conseguem detectar objetos em áreas escuras e não perceptíveis ao humano. A organização do The Town não divulgou o valor do uso do robô.
Inspeção em locais de risco
O cão-robô Spot, por sua vez, foi o primeiro modelo a desembarcar no Brasil por meio de uma parceria da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) com o PTI (Parque Tecnológico Itaipu) e com a Petrobras (PETR3, PETR4) para impulsionar as redes 5G industriais no país. Ele permite a inspeção de infraestruturas consideradas críticas em ambientes perigosos.
A parceria prevê a aquisição de duas primeiras unidades. No último dia 15 de agosto, o presidente da ABDI, Igor Calvet, apresentou o cão-robô Spot durante o evento Digital Transformation Summit Brazil.
Técnicos de Itaipu vão receber dados em tempo real graças ao trabalho dos cães cibernéticos. Segundo a ABDI, isso permitirá ganhos de eficiência por meio da tecnologia 5G, o que vai viabilizar estudos destinados ao uso da rede em ambiente industrial.
Cada robô tem quatro pernas articuladas, inteligência artificial, câmeras, sensores térmicos, microfones, caixas de som e sensores. Os modelos utilizados em Itaipu são vistos pelos técnicos como mais rápidos e com capacidade de deslocamento em qualquer terreno, diferentemente de robôs com rodas ou esteira, que se movem lentamente e têm desempenho inferior em superfícies de cascalho, por exemplo.
“Controlados por meio de um tablet, os cães-robôs têm navegação fácil e intuitiva, 14 kg de capacidade de carga, operação com replanejamento dinâmico em torno de obstáculos e autocorreção, em caso de queda. A adaptabilidade a qualquer terreno faz diferença em usinas com equipamentos espalhados em grandes áreas”, afirmou o ABDI em comunicado.
Os cães-robôs podem ser utilizados em operações manuais e missões autônomas, do “chão de fábrica” a canteiros de obras, laboratórios de pesquisa, centrais elétricas, polos petroquímicos, plantas de processamento de gás e outros locais complexos e potencialmente perigosos, marcados por equipamentos que precisam ser continuamente monitorados e inspecionados, segundo a associação.
Boston Dynamics
Os dois cães-robôs adquiridos para atuar em Itaipu foram produzidos pela empresa norte-americana de engenharia robótica Boston Dynamics. Procurada pela Bloomberg Línea, a companhia não respondeu ao pedido de informação sobre o número de unidades já vendidas no Brasil e os preços.
Em junho de 2022, a CNBC informou, citando como fonte um executivo da Boston Dynamics, que o modelo do cão-robô Spot era avaliado em US$ 74.500. O equipamento existe desde 2015, mas só iniciou sua operação comercial no final do primeiro semestre de 2022, segundo a CNBC. A entrega do cão-robô demorava entre seis e oito semanas, depois do pagamento de um depósito prévio.
Robôs do agro
Além dos cães-robôs da Boston Dynamics, outra empresa que aposta na robótica é a brasileira Solinftec, fundada na cidade de Araçatuba, no interior de São Paulo, voltada para o agronegócio e com unidades nos EUA, na Colômbia, no Canadá e na China.
O robô Solix Sprayer é um dos carros-chefes da empresa, capaz de realizar a aplicação com precisão de herbicidas, o que permite o controle de plantas daninhas. O equipamento foi exibido em maio deste ano na Agrishow, uma das principais feiras do agronegócio do país, em Ribeirão Preto (interior paulista).
A companhia não respondeu ao pedido de informações do número de unidades vendidas no Brasil e o preço. A Solinftec também apresentou na Agrishow o robô Solix Hunter, que deve ter o início da comercialização a partir de 2024. O Hunter, segundo a empresa, é capaz de eliminar insetos que causam danos às lavouras por meio de luz específicas e eletrochoques sem a necessidade de inseticidas.
Segundo a Solinftec, cerca de 20 robôs percorreram o cinturão do milho - o Corn Belt - americano em 2023 e reduziram o volume de herbicida nas lavouras americanas em mais de 95% por meio de aplicações localizadas que eliminam as plantas daninhas em seus estágios iniciais.
A empresa brasileira de robótica para agronegócio já atraiu atenção de investidores estrangeiros e domésticos. No ano passado, a Solinftec recebeu aporte de US$ 60 milhões do fundo internacional Lightsmith Group e do nacional Unbox Capital, que tem como investidores os controladores do grupo varejista Magazine Luiza (MGLU3), na estrutura de debêntures conversíveis em ações.
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