Bloomberg Opinion — Todo mundo adora uma novela, e o Goldman Sachs (GS) tem sido alvo de intrigas intermináveis e traições anônimas nas reportagens sobre as supostas falhas pessoais do CEO David Solomon. Mas pode haver algo de inócuo nisso. William Cohan, autor de uma reportagem sobre a empresa em 2011, disse isso da melhor forma na Bloomberg TV na semana passada: os bankers da divisão de investment banking (IB) são muito diretos. Se seus bônus aumentarem neste ano, as reclamações diminuirão.
Solomon pode aliviar a irritação de seus funcionários aplicando generosamente o tradicional remédio de Wall Street, o dinheiro. O obstáculo é o alto custo de desfazer a grande investida do Goldman no setor de serviços bancários de varejo.
No Goldman, sempre foi aceitável assumir riscos que se tornassem ruins, desde que houvesse estratégias para limitar as perdas e mudar o jogo rapidamente.
O maior pecado de Solomon não é ser muito ríspido, sua atividade paralela de DJ ou o uso pessoal de aviões da empresa – os temas recorrentes de sua má fama. Na verdade, o problema foi levar o Goldman a uma grande aposta sem saída fácil ou proteção contra perdas.
Quando o banco apresentou seus planos para o ramo de serviços bancários de varejo por meio do Marcus e seu negócio de cartões de crédito com parceiros como a Apple (AAPL) durante o primeiro Investor Day do Goldman em janeiro de 2020, ele foi franco sobre as perdas que sofreria no início. Mas essas perdas deveriam atingir um pico de cerca de US$ 1 bilhão antes dos impostos em 2020, com os negócios de consumo e transações bancárias passando a dar lucro a partir de 2023.
No final do ano passado, quando Solomon foi convencido a reverter grande parte de sua ambição de serviços bancários de varejo, as perdas antes dos impostos ao longo dos três anos entre 2020 e 2022 totalizaram US$ 3,8 bilhões. Até agora, neste ano, a empresa perdeu mais US$ 1,2 bilhão na divisão Platform Solutions, criada para o banco de varejo e outras transações.
O Goldman agora está explorando a venda da GreenSky, a empresa de empréstimos para reformas residenciais que comprou por US$ 1,75 bilhão há menos de dois anos, no auge dos valuations das fintechs. Há uma boa chance de que a empresa sofra mais perdas com essa venda, mesmo depois de ter dado baixa recentemente de metade do ágio registrado na compra.
A meu ver, as aventuras do Goldman pelo varejo já estão perto de custar tanto quanto as multas e indenizações pagas por seu papel no escândalo de corrupção 1MDB ligado ao governo da Malásia, o que fez com que os principais executivos do Goldman tivessem seus bônus cortados em 2020.
As perdas relacionadas aos serviços de varejo não são tão claras quanto as multas do 1MDB, para ser justo. Algumas delas poderão ser reduzidas se a economia melhorar e o Goldman puder liberar as provisões reservadas contra dívidas em seus empréstimos restantes aos consumidores.
Também é possível que o banco consiga vender seu negócio de consultoria para o mercado de massa, anteriormente chamado de United Capital, por mais do que os US$ 750 milhões que pagou para adquirir a empresa em 2019.
O Goldman também argumentaria que a tecnologia que construiu para cartões de crédito e contas correntes tem valor, de modo que o investimento, que contribuiu para as perdas, não foi um desperdício total. Os depósitos que a empresa reuniu em banco de varejo e transações também reduziram seus custos de financiamento e trouxeram outros benefícios.
Até o final do ano, a reversão poderá ser menos dolorosa do ponto de vista financeiro. Uma retomada em deals e na atividade de mercado de capitais, “reabastecendo” os bônus, poderia ajudar a acalmar a dissidência, mesmo que o Goldman reprima os funcionários que resistem a trabalhar presencialmente em tempo integral. Caso contrário, Solomon terá que tomar algumas decisões difíceis sobre pagar mais aos banqueiros às custas do retorno dos acionistas.
Dizem por aí que o dinheiro fala mais alto. No ramo de banco de investimento, a falta de dinheiro grita que a culpa é do CEO.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Paul J. Davies é colunista da Bloomberg Opinion, cobrindo bancos e finanças. Trabalhou anteriormente para o Wall Street Journal e o Financial Times.
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