Bloomberg — À medida que mais bancos de Wall Street reduzem seus serviços de gestão de patrimônio para clientes da América Latina, uma empresa em Miami vem colhendo os benefícios.
A Insigneo, que oferece uma plataforma com diferentes serviços para consultores de investimentos independentes, triplicou sua equipe e aumentou os ativos sob gestão em seu ecossistema para mais de US$ 20 bilhões, ante menos de US$ 3 bilhões há apenas seis anos.
O número de profissionais de investimento independentes que usam a plataforma cresceu para quase 500 nesse período, e os executivos da Insigneo estão em busca de possíveis aquisições para continuar a aumentar a sua participação no setor.
“De alguma forma, encontramos um caminho que foi deixado aberto para nós, o que é bastante incomum em um setor tão bem estabelecido”, disse o fundador e CEO, Raul Henriquez, de 62 anos, em entrevista na sede da empresa no bairro de Brickell. “Foi uma espécie de fenômeno acidental que permitiu que um player muito pequeno como nós começasse a se tornar mais relevante.”
Nos últimos anos, bancos como Wells Fargo (WFC) e Morgan Stanley (MS) abandonaram ou restringiram os serviços de gestão de patrimônio a alguns clientes na América Latina.
Em outros casos, os valores mínimos para trabalhar com clientes aumentaram. Mudanças regulatórias e a exigência de conhecer os clientes levaram bancos a parar de atender alguns clientes, com impacto nos negócios relativamente pequeno, disse Henriquez.
Foi aí que entrou a Insigneo. A empresa permite que gestoras de patrimônio mantenham sua carteira de clientes e recebam serviços que vão desde assistência tributária até compliance, tecnologia e modelos de portfólio, disse o diretor de operações, Javier Rivero, de 45 anos.
“Tudo o que o consultor tinha na instituição maior, nós replicamos, mas de uma forma mais simples e de forma que eles possam se beneficiar das economias de escala”, disse Rivero. “Essa é a receita para atender esses clientes porque não são só clientes do Brasil, da Argentina. Eles são globais.”
No ano passado, a Insigneo adquiriu uma corretora em Porto Rico e uma empresa de consultoria de investimentos no Uruguai que pertencia ao Citigroup. Além disso, a Bain Capital Credit e a JC Flowers investiram US$ 100 milhões na Insigneo em 2022, por meio de participação minoritária.
Incerteza política
Henriquez, que nasceu em El Salvador e co-fundou a empresa sob o nome de Hencorp em 1985, continua sendo o acionista majoritário. A Insigneo não revelou números de receita anual.
Em 2021, o Wells Fargo fechou seu negócio internacional de gestão de fortunas, enquanto o Morgan Stanley começou recentemente a revisar certas contas na região.
A partir de 1º de janeiro do ano que vem, o mínimo exigido de clientes do Panamá e da Bolívia para uma conta no Morgan Stanley aumentará de US$ 2 milhões para US$ 10 milhões, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto ouvida pela Bloomberg News.
O mínimo para mercados como Brasil, Chile e México cairá pela metade, para US$ 1 milhão, mas o banco não abrirá mais novas contas para pessoas na Venezuela e na Nicarágua, disse a pessoa.
Um porta-voz do Morgan Stanley confirmou as mudanças, dizendo que o banco continua “comprometido” com seus negócios internacionais de gestão de patrimônio, mas desenvolveu modelos de clientes direcionados “que refletem considerações de risco apropriadas”.
Guinada para a esquerda
A incerteza política na América Latina também ajudou a impulsionar os negócios da Insigneo. Uma guinada à esquerda em governos da região nos últimos anos aumentou os fluxos de capital de países como Chile, Colômbia e Peru para ativos dos Estados Unidos e em dólar, disse Rivero.
Mesmo no Brasil, onde a Insigneo enfrenta forte concorrência de grandes players locais, aumenta o número de consultores de gestão de patrimônio independentes que usam sua plataforma, disseram os executivos.
A Insigneo está à procura de mais possíveis aquisições e vê os mercados privados e a possibilidade de atender a clientes de patrimônio ultraelevado por meio de consultores como grandes oportunidades. A empresa abriu outro escritório no bairro de Coral Gables, em Miami, neste mês.
“Estamos vendo uma clara tendência de democratização dos ativos privados”, disse Henriquez. “Por outro lado, estamos chegando a um ponto em que atender às necessidades de family offices ou do segmento de patrimônio ultraelevado é algo que estrategicamente começa a fazer sentido como outro canal de crescimento.”
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