Brasil liderou crescimento do número de milionários em 2022, segundo UBS

País ganhou 120 mil novos milionários no ano, maior aumento absoluto registrado; total de brasileiros com patrimônio acima de US$ 1 milhão pode quase dobrar em 5 anos

Prédio em bairro de alta renda, em São Paulo
16 de Agosto, 2023 | 05:58 PM

Bloomberg Línea — Embora a riqueza privada global tenha diminuído em US$ 11,3 trilhões em 2022, marcando a primeira contração desde a crise financeira mundial de 2008, a América Latina foi uma exceção, uma vez que o patrimônio das famílias da região aumentou em US$ 2,4 trilhões, em parte devido à valorização média das moedas em 6% em relação ao dólar americano.

Apenas no Brasil, no México e no Chile, três dos maiores mercados da América Latina, existem somados 868 mil adultos com patrimônio acima de US$ 1 milhão. No final de 2022, a riqueza por pessoa adulta era de US$ 29.452 no Brasil, US$ 54.082 no México e US$ 55.274 no Chile.

Entre os países que ganharam mais milionários em 2022 estão dois países latino-americanos. O Brasil liderou com 120 mil novos milionários (adultos com riqueza superior a US$ 1 milhão em 2022), seguido por Irã e Noruega (ambos com 104 mil), México (70 mil) e Rússia (54 mil).

No mundo, a riqueza privada líquida caiu 2,4% em 2022, para US$ 454,4 trilhões. O número de milionários em todo o mundo diminuiu em 3,5 milhões, chegando a 59,4 milhões em 2022.

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A queda da riqueza global ocorre em meio a um cenário de alta inflação e devido principalmente à valorização do dólar americano em relação a muitas outras moedas, de acordo com o Global Wealth Report 2023.

A maior perda de riqueza mundial concentrou-se nas regiões mais ricas, como América do Norte e Europa, que juntas perderam US$ 10,9 trilhões, enquanto na Ásia-Pacífico a perda foi de US$ 2,1 trilhões, indicaram UBS e Credit Suisse, autores do relatório.

Quantos milionários haverá em 2027?

As projeções indicam que o número de milionários em todo o mundo superará 85 milhões em 2027, representando um aumento de 26 milhões em relação à cifra atual.

A riqueza mundial alcançará US$ 629 trilhões em 2027, um aumento de 38% impulsionado pelos mercados de renda média.

Para UBS e Credit Suisse, “esse rápido aumento reflete em parte o fato de que uma inflação maior torna mais fácil ultrapassar a marca de um milhão de dólares”.

E “embora o número de milionários em países de baixa renda ainda esteja muito aquém dos níveis dos Estados Unidos, Europa ou dos países de alta renda da Ásia-Pacífico, espera-se que as cifras acelerem nos próximos cinco anos”.

Nos EUA, o número de milionários passará de 22,7 milhões registrados no ano passado para 26,3 milhões em 2027, sendo o mercado que mais concentra pessoas nessa faixa de renda.

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Em seguida vem a China, que deve passar de 6,2 milhões de milionários para 13,2 milhões em 2027.

A América Latina, incluindo o Brasil, está entre as regiões que devem registrar o maior crescimento proporcional no número de milionários. A quantidade de pessoas com patrimônio na região deve passar de 1,17 milhão para 2,0 milhões, um aumento de 89%, de acordo com as projeções do estudo. Já no Brasil, o número deve passar de 413 mil para 788 mil (ganho de 91%.

Os autores do relatório explicam que no início do século, 81% dos adultos do mundo tinham riqueza inferior a US$ 10.000.

No entanto, desde então, a proporção de adultos neste grupo vem diminuindo e agora representa apenas 52%.

De acordo com as previsões dos autores do relatório, espera-se que essa porcentagem continue caindo para chegar a 46,6% em 2027.

Por outro lado, a proporção de adultos na classe média mundial (com patrimônio líquido entre US$ 10.000 e US$ 100.000) passou de 13,4% em 2000 para 34,4% em 2022.

“Esperamos que 268 milhões de adultos se juntem a este grupo em 2027, ampliando o número para quase 37% dos adultos globais”, diz o documento.

Eles também projetam que o número de adultos com patrimônio líquido entre US$ 100.000 e US$ 1 milhão cresça em 204 milhões, indo de 12% para 14,8%.

Além disso, prevê-se que a riqueza agregada nesse segmento aumente em cerca de 36%.

No caso dos adultos com ganhos acima de US$1 milhão, projeta-se que o número passe de 1,1% em 2022 para 1,5% em 2027 globalmente.

“O rápido crescimento da riqueza nos países de baixa e média renda é refletido no aumento da proporção de membros do segmento superior da distribuição de riqueza global”, acrescenta o relatório.

Riqueza por pessoa

O relatório da UBS e Credit Suisse indica que a riqueza por adulto também diminuiu em US$ 3.198, ou seja, -3,6%, situando-se em US$ 84.718 no final do ano.

Um aspecto relevante é que a população da chamada Geração X e dos millennials dos EUA e Canadá não foram imunes à redução geral da riqueza.

“Os caucasianos não hispânicos dos EUA viram sua riqueza diminuir em 2022, enquanto os afro-americanos saíram quase ilesos da recessão. Pelo contrário, os hispânicos tiveram um crescimento de 9,5% em 2022, devido à sua maior posse de ativos imobiliários em comparação com os financeiros”, diz o documento.

No mundo como um todo, a riqueza mediana quintuplicou neste século a um ritmo aproximadamente duas vezes maior do que a riqueza por adulto, devido em grande parte ao rápido crescimento da riqueza na China.

Por países, as maiores perdas de riqueza foram registradas nos Estados Unidos, seguidos pelo Japão, China, Canadá e Austrália, enquanto os maiores aumentos foram relatados na Rússia, México, Índia e Brasil.

“Os ativos financeiros foram os que mais contribuíram para a diminuição da riqueza em 2022, enquanto os ativos não financeiros (principalmente imóveis) permaneceram resilientes, apesar da rápida alta das taxas de juros”, diz o relatório.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.