Succession em Wall St: CEO do Morgan Stanley quer desafiar ‘maldição’ do mercado

Atual CEO James Gorman quer transição sem conflitos, na qual os finalistas rejeitados permaneçam, evitando a habitual saída de executivos sêniores

James Gorman, CEO do Morgan Stanley: executivo quer fazer uma transição sem conflitos
Por Sridhar Natarajan
12 de Agosto, 2023 | 07:30 AM
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Bloomberg — Enquanto James Gorman, do Morgan Stanley (MS), considera quem indicar para sucedê-lo como CEO, burburinhos crescem dentro do banco e ao redor de Wall Street.

Executivos que cruzam com ele nos fins de semana tentam descobrir para qual lado ele está mais inclinado, enquanto colegas passam o tempo livre especulando sobre o futuro do banco americano.

Outros, dão conselhos não solicitados ao chefe, na esperança de inclinar a balança a favor de seu favorito – Ted Pick, Andy Saperstein ou Dan Simkowitz.

Gorman, de 65 anos, está comandando a corrida mais acompanhada de Wall Street, prometendo ter seu sucessor no cargo em menos de um ano.

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Mas o que é mais marcante nesta sucessão é que Gorman quer desafiar normas profundamente enraizadas com uma transição sem conflitos — na qual os finalistas rejeitados permaneçam, evitando a habitual cascata de mudanças e saídas de executivos sêniores.

“Wall Street tem um histórico contrário a isso”, disse Gorman no mês passado sobre a tarefa de persuadir os executivos perdedores a permanecerem. “Vamos desafiar isso.”

A estratégia é notável para o Morgan Stanley, que enfrentava um cenário de conflitos internos pouco antes da chegada de Gorman em 2006, e que agora espera proteger um valuation que dá inveja a muitos pares.

É uma aposta audaciosa em uma indústria onde egos frágeis e ambições cruas resultam em transições caóticas, às vezes desviando até mesmo as empresas de um desempenho melhor.

Mike Mayo, considerado um dos mais céticos entre os analistas de bancos de Wall Street, não está convencido sobre essa manobra.

“Há uma série de sucessões de CEOs que resultam em tensão entre os executivos”, disse Mayo. “Eu só acho que será um desafio manter a equipe tão coesa quanto está atualmente.”

Painel de ações do Morgan Stanley

Os exemplos são numerosos. Mais recentemente, no rival Goldman Sachs (GS), o descontentamento tem se espalhado pela empresa desde que o banqueiro de investimentos David Solomon sucedeu uma geração de traders no topo.

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Jamie Dimon, do JPMorgan (JPM), e Brian Moynihan, do Bank of America (BAC), há muito tempo são evasivos sobre suas intenções e evitaram nomear sucessores, mesmo enquanto seu domínio sobre os dois maiores bancos do país se estende para quase duas décadas.

E então há o próprio Morgan Stanley, onde fricções persistentes após a nomeação de Philip Purcell como CEO culminaram eventualmente em sua saída em 2005, orquestrada por ex-executivos descontentes conhecidos como o “Grupo dos Oito”.

As “guerras civis” no Morgan Stanley e em outros bancos eram “parte de uma indústria que esqueceu que receber milhões de dólares era resultado de se estar no lugar certo na hora certa”, disse Zoe Cruz, ex-executiva do Morgan Stanley que teve uma visão privilegiada das disputas internas na empresa no início dos anos 2000.

De fato, sua saída abrupta em 2007 abriu caminho para a ascensão de Gorman ao cargo de CEO. Ele foi promovido a co-presidente e, em seguida, escolhido para dirigir o banco pouco depois.

Nenhuma mulher – incluindo no processo atual – chegou tão perto de chegar ao topo do Morgan Stanley quanto Cruz.

O legado de Gorman

O Morgan Stanley, que tem suas raízes no magnata da Era Dourada, John Pierpont Morgan, transformou-se nas últimas décadas com a saída de banqueiros superestrelas.

Parte disso reflete tendências mais amplas em Wall Street desde 2008, quando a tomada imprudente de riscos saiu de moda e o comportamento no escritório começou a acompanhar os novos tempos.

Mas parte disso também foi muito deliberado, com Gorman transformando o banco de investimento em um supermercado financeiro em busca de ganhos mais estáveis.

Ele despreza tipos egocêntricos, de acordo com Colm Kelleher, número dois de Gorman e aficionado por história, que alterna conversas entre derivativos de renda fixa e rebeliões italianas do século XIII.

“O que James fez no Morgan Stanley foi retirar o super ego da equação”, disse Kelleher, agora presidente do UBS Group. “Ninguém tinha feito isso na empresa antes.”

A saída de Kelleher em 2019 deu início à corrida atual. A reorganização que se seguiu colocou em destaque quatro homens – o trio atual junto com o então diretor de operações Jon Pruzan.

Depois que Pruzan sinalizou em janeiro planos de deixar o cargo, Gorman anunciou que três pessoas na empresa poderiam substituí-lo. Em maio, ele disse que pretendia passar o bastão em um ano.

Gorman enfatizou que o conselho tomará a decisão final, mas os executivos esperam amplamente que sua preferência tenha mais influência.

Harmonia aparente

Os três candidatos são conhecidos por jantar frequentemente juntos e até parecem gostar da companhia um do outro. Dentro da empresa, eles fazem questão de apresentar uma imagem de harmonia.

Pick, 54 anos, assume o grupo de valores mobiliários institucionais mais arriscado, lidando com negociação e operações de negócios.

Saperstein, 56 anos, supervisiona a máquina de gestão de patrimônio de US$ 4,9 trilhões do Morgan Stanley. Simkowitz, um carismático homem de 58 anos, supervisiona a gestão de ativos e é o único com experiência nos dois lados da empresa.

Por muito tempo, acreditava-se que Pick fosse o favorito, mas uma investigação federal sobre como parte de sua divisão lida com grandes transações de ações – conhecidas como “block trades” – fez com que alguns se perguntassem se suas chances serão mantidas enquanto o banco negocia um acordo potencialmente custoso.

Saperstein, uma vez considerado improvável, agora lidera a parte mais ascendente da empresa.

E, embora Simkowitz permaneça como o menos provável, executivos que conversam sobre a corrida sucessória dizem que seu nome surge surpreendentemente com frequência.

Alguns apontam para seu papel central em lidar com o Tesouro dos Estados Unidos e com reguladores há mais de uma década.

Em um sinal de incerteza, dois colegas de alto escalão lamentaram em particular que talvez não estejam próximos o suficiente do possível vencedor. Eles não gostariam de estar ligados ao candidato errado e perder influência.

Estratégia definida

O que Gorman não está interessado é na estratégia adotada por Jack Welch.

Segundo diz a lenda, o imponente CEO da General Electric atravessou o país em uma noite chuvosa para rejeitar discretamente dois candidatos em hangares de aeroportos antes de nomear Jeff Immelt como seu sucessor. Os candidatos derrotados foram embora logo na sequência.

Gorman está deixando a decisão se desenrolar lentamente e, até certo ponto, um tanto às claras, enquanto discute com colegas e pares.

Em conversas pelo banco, ele destacou os méritos de cada candidato. Nenhum dos três pode dizer que não recebeu a devida consideração. E essa abordagem pode ajudar a destacar que quem quer que seja deixado de lado foi visto como valioso, não falho.

Gorman provou ser hábil em navegar por disputas de poder mesmo antes de chegar ao banco.

Purcell ainda era CEO quando tentou atrair Gorman para o Morgan Stanley, mas ele recusou, esperando para ver como a batalha conturbada dentro da empresa se desenrolaria. Ele estava certo em esperar: logo depois, Purcell foi substituído por seu inimigo John Mack.

Quando Mack estendeu o convite a Gorman, ele assumiu a divisão menor e mais problemática do banco e defendeu sua recuperação, eventualmente remodelando a empresa – e sua cultura.

-- Com a colaboração de Sonali Basak.

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