Bloomberg Línea — A busca de ultrarricos por aeronaves privadas com maior autonomia de voo, que possam levar a família e os amigos de cidades da região Sudeste para as praias do Nordeste, como Trancoso, na Bahia, tem impulsionado o mercado de jatinhos novos e seminovos no Brasil.
No primeiro semestre de 2023, o volume de transações de aeronaves novas no mercado doméstico foi 45% maior em comparação ao mesmo período de 2019, antes da pandemia, enquanto o de seminovos disparou 120%, apontou um levantamento da Líder Aviação, um das principais players do segmento executivo.
“Muitos clientes decidiram buscar um upgrade em seus jatinhos e comprar modelos com maior autonomia para chegar ao Nordeste”, disse Junia Hermont, COO da Líder Aviação, à Bloomberg Línea.
Uma fonte do setor ouvida pela Bloomberg Línea, que pediu anonimato ao comentar assuntos privados, disse que o mercado tem sido estimulado também por empresários em dificuldades financeiras que colocam suas aeronaves à venda para levantar recursos e quitar dívidas com bancos e outros credores.
O caso da Americanas (AMER3), que tem os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira como acionistas de referência, é um exemplo indireto.
A companhia, em recuperação judicial desde janeiro, revelou em março o plano de vender seu jato Phenom 330, adquirido por R$ 25,6 milhões em 2014, para usar o dinheiro no pagamento de credores.
A aeronave da Americanas ainda não foi leiloada, pois os credores não aprovaram até aqui o Plano de Recuperação Judicial.
O aumento de venda de aeronaves novas e seminovas deve continuar neste segundo semestre, segundo a COO da Líder Aviação.
Em 2022, o volume de transações de aeronaves novas e seminovas pela Líder chegou a US$ 80 milhões. Para 2023, a expectativa é alcançar um volume de US$ 120 milhões - ou 50% a mais.
“O segmento já havia superado as expectativas no ano passado, quando o volume de negócios de aeronaves novas e seminovas no mercado brasileiro foi 2,5 vezes maior do que o de 2021″, disse Hermont.
O quadro de crescimento da aviação executiva no país se refletiu na edição deste ano da Labace, principal evento do segmento na América Latina, ocorrido recentemente no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com mais de 40 aeronaves expostas e cerca de 100 empresas participantes.
Entre as novidades, foi apresentado o HondaJet Elite II, jato mais recente lançado pela Honda Aircraft e pela primeira vez exibido no Brasil. O modelo, avaliado em US$ 7 milhões (aproximadamente R$ 34,2 milhões), foi apresentado ao mercado em outubro do ano passado, nos Estados Unidos.
Segundo o diretor de vendas de aeronaves da Líder, Anderson Markiewicz, o jato tem sido demandado no mercado em razão do alcance de 1.547 milhas náuticas – 110 milhas náuticas (cerca de 200 km) a mais do que o modelo anterior - e do consumo de combustível considerado mais eficiente.
Outra demanda de serviços em alta entre os ultrarricos é a instalação de internet nos jatinhos. Segundo a Líder, empresários e executivos usam cada vez mais as aeronaves em deslocamentos a trabalho e pedem cobertura global, com a redução dos chamados “pontos cegos”.
Frota de aeronaves privadas
Atualmente, o Brasil contabiliza uma frota de aeronaves de negócios de 9.696 unidades, incluindo turboélices, jatos e helicóptero, segundo a Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), que organiza a Labace.
Entre maio de 2022 e maio de 2023, a frota nacional de jatos executivos cresceu 7,4%, enquanto o número de helicópteros a turbina aumentou 6,4%. O destaque dos dados é a frota de aeronaves turboélice, que teve uma expansão de 12,6%, segundo a associação.
A Abag avaliou em nota que esses números ilustram um “cenário de fortalecimento e diversificação no setor da aviação de negócios no país”.
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