Bloomberg — Como executivo do Morgan Stanley (MS) durante o crescimento das fintechs na América Latina, Santiago Stel ajudou alguns dos maiores nomes do setor a abrir capital, incluindo XP (XP) e Nubank (NU).
Mas, à medida que a onda de ofertas públicas iniciais esfriava e Stel avaliava os próximos passos em sua carreira, foi um de seus clientes de IPO que chamou sua atenção: o Inter & Co. (INTR), banco digital fundado pela família Menin, de Belo Horizonte.
Intrigado com o modelo de negócios, ele deixou Wall Street em 2022 e ingressou na empresa. Agora, após um ano à frente da estratégia do banco, ele acaba de ser nomeado diretor financeiro (CFO).
“Houve um momento em que percebi que era significativamente mais interessante estar do lado do cliente do que do banco de investimento, mas queria escolher a plataforma certa”, disse Stel em entrevista à Bloomberg News em Miami. “Me apaixonei pelo que vi — uma plataforma totalmente digital que vai além do banco para resolver toda a vida transacional do cliente.”
Para Stel, argentino que passou uma década no Morgan Stanley, a oportunidade de ajudar a expandir o banco digital no Brasil e nos Estados Unidos é seu maior desafio até agora. E poucas pessoas conhecem melhor os concorrentes do Inter do que o homem que ajudou a abrir o capital de muitos deles.
Foco nos EUA
Ao contrário do gigante de Wall Street para a qual costumava trabalhar, o Inter é pequeno em comparação com os líderes do setor na região, como Itaú Unibanco (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Nubank e Mercado Pago, empresa de pagamentos do Mercado Livre (MELI). Para conquistar espaço, o Inter está focando os EUA como sua maior oportunidade fora do Brasil, enquanto muitos de seus rivais optaram por se expandir no México, Colômbia e Argentina.
O plano de cinco anos do Inter visa mais que dobrar sua lista de clientes para 60 milhões e quadruplica sua carteira de empréstimos até 2027, para R$ 100 bilhões, disse Stel. A empresa divulga resultados do segundo trimestre na próxima semana.
Fundado pela família Menin, o Inter foi originalmente criado como um banco de varejo na década de 90, mas se tornou um banco digital e se expandiu para seguros, serviços de gestão de recursos e comércio eletrônico por meio de sua própria plataforma, sob o comando de João Vitor Menin.
Depois de um IPO em 2018 no Brasil, seguido de um follow-on, a Inter listou suas ações nos EUA em 2022. Os papéis saltaram mais de 40% este ano e o valor de mercado atingiu US$ 1,4 bilhão. A família Menin detém cerca de 30% da empresa, enquanto o SoftBank é o segundo maior acionista, com 16%.
Stel, de 43 anos, traz uma vasta experiência em IPOs de seu tempo no Morgan Stanley, incluindo PagSeguro Digital, StoneCo, DLocal, assim como o follow-on do Mercado Livre. Antes do Morgan Stanley, ele trabalhou no Itaú Unibanco em Buenos Aires.
O “super app” do Inter, como eles gostam de chamar sua plataforma, realiza transações bancárias normais no Brasil e pode ajudar os clientes a transferir dinheiro para uma conta nos EUA, buscar empréstimos e até fazer compras no varejo. Outros serviços incluem consultas médicas online e planos de roaming internacional para celular.
A empresa tem cerca de 3.500 funcionários, a maioria em Belo Horizonte. Mas Stel - que é formado em economia pela Universidade de Buenos Aires e tem mestrado em finanças pela Duke University - ocupa um pequeno escritório em Miami junto com o novo chefe nos EUA, Cássio Segura, que anteriormente ocupou cargo semelhante no Banco do Brasil.
Oportunidades
O Inter, que abriu cerca de 1,5 milhão de contas nos EUA para seus clientes brasileiros, começou a oferecer financiamento imobiliário e planeja emprestar para pequenas empresas em breve. O banco recentemente obteve sua licença de corretora e adquiriu há alguns anos uma empresa de remessas que é popular entre os brasileiros nos EUA para enviar dinheiro para casa.
“Quando olhamos para os EUA, vemos que nossos clientes no Brasil viajam para Miami, Orlando ou Nova York”, disse Stel. “No Brasil, não se pode ter conta em dólar. Então, se você quer economizar, tem que enviar dinheiro para o exterior. Há o imposto sobre cartões de crédito se você usá-los fora do Brasil. Então, há muitas maneiras de usar isso a nosso favor.”
Os EUA e outros países têm muito a aprender com os avanços dos bancos e pagamentos digitais no Brasil, disse ele, citando o Pix, do Banco Central, que permite que até os sem-teto no Brasil recebam esmolas de forma digital em segundos. Dar gorjetas aos manobristas nos EUA geralmente requer dinheiro mesmo.
“Você pode fazer transferências no Brasil 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem taxas, então a inovação está acontecendo rapidamente e está claramente à frente”, disse ele. “Tive que fazer uma transferência hoje de prestação da minha casa nos EUA e, se quiser para o mesmo dia, me cobram US$ 30.”
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