Nem Taylor Swift, Barbie e Oppenheimer conseguem resgatar o setor de eventos

Fenômenos pop podem até dar a impressão de que gastos com lazer aumentaram, mas números mostram apenas um retorno ao nível pré-pandemia

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Bloomberg Opinion — Nos Estados Unidos, os eventos com espectadores estão em crescimento. Os frequentadores de shows lotam estádios para prestigiar a turnê Eras Tour de Taylor Swift; o lançamento de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’ nos cinemas acabou de elevar a receita de bilheteria do fim de semana a um recorde de quatro anos; o beisebol profissional recuperou seu charme; e a chegada de Lionel Messi ao sul da Flórida tem criado uma onda de interesse na Major League Soccer.

Sem dúvida, esses eventos fizeram contribuições individuais significativas para a economia de consumo (Taylor Swift até recebeu uma menção no Beige Book de junho do Federal Reserve Bank da Filadélfia).

Porém, em um sentido econômico amplo, a atividade em estádios e cinemas ainda parece mais uma normalização das interrupções causadas pela pandemia do que uma mudança significativa no consumo americano de entretenimento presencial.

Em uma base ajustada pela inflação, apenas os eventos esportivos ao vivo tiveram um aumento em relação ao nível pré-pandemia, ajudados por grandes anos em 2022 para o futebol universitário e profissional e sinais de que a Major League Baseball saiu de sua longa queda.

O primeiro foi impulsionado pela expansão das vendas de bebidas alcoólicas em estádios universitários, enquanto o segundo recebeu um impulso de uma revisão de estratégia, incluindo medidas para acelerar o ritmo do jogo.

De modo geral, o gasto real com eventos presenciais só agora retornou ao nível pré-pandemia, segundo dados do Bureau of Economic Analysis divulgados na sexta-feira (28).

É uma informação um pouco diferente daquela que ouvimos com frequência, que sugere que a experiência da covid desencadeou uma avalanche de gastos imprudentes em serviços discricionários. Claro, foi o que pareceu por um tempo, mas isso se deveu principalmente ao fato de que a atividade estava se recuperando de níveis extraordinariamente baixos.

O que mudou, é claro, foi a combinação.

Mesmo em termos nominais, os gastos com cinemas ainda estão em baixa, e os americanos estão realocando seus orçamentos de cinema para eventos esportivos (pelo menos a partir dos dados de junho divulgados, referentes ao período anterior à estreia de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’).

A inflação também fez com que parecesse que estamos sendo mais gastadores do que antes, mas, na verdade, estamos consumindo a mesma quantidade de ingressos.

O que tudo isso significa para o futuro?

Em termos gerais, o consumo – que representa cerca de dois terços da economia dos EUA – tem sido sustentado pelos gastos com serviços nos últimos dois anos, e uma questão fundamental para o futuro é se isso pode continuar.

Se os últimos dois anos foram de normalização, então o crescimento dos serviços de recreação provavelmente não será tão fácil daqui para frente. Estúdios, artistas e equipes esportivas terão que se esforçar muito mais no próximo ano para obter um crescimento contínuo.

Como alternativa, um arrefecimento poderia ser uma consequência bem-vinda para o Federal Reserve. Em sua coletiva de imprensa na última quarta-feira (26), o presidente do Fed, Jerome Powell, mais uma vez destacou o setor de serviços essenciais não relacionados à habitação (que inclui shows, jogos e filmes) como uma parte fundamental do quebra-cabeça da desinflação que ele está tentando resolver.

Nesse sentido, uma moderação – ou até mesmo uma estabilização – do consumo para essas experiências pode ajudar a proporcionar o tão sonhado ‘soft landing’ para a economia dos EUA. Portanto, embora a sabedoria convencional possa estar errada sobre o boom da recreação, isso pode não ser necessariamente uma coisa ruim.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Jonathan Levin trabalhou como jornalista da Bloomberg News na América Latina e nos EUA, cobrindo finanças, mercados e fusões e aquisições. Mais recentemente, ele atuou como chefe da sucursal da empresa em Miami. É analista financeiro certificado pelo CFA Institute.

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