Opinión - Bloomberg

Mundo consome mais petróleo do que nunca. A demanda vai cair como se espera?

Nos primeiros quatro meses de 2023, consumo de barris foi superior ao pico pré-pandemia de 2019, mesmo com o recente boom de veículos elétricos

Consumo global de petróleo chegou a um recorde de cerca de 102,5 milhões de barris por dia
Tempo de leitura: 3 minutos

Bloomberg Opinion — Em tempos de crise climática, o mundo está consumindo mais petróleo do que nunca. Seria o pico da demanda por petróleo? Ainda não. Talvez um dia, talvez até em breve, por volta de 2030. Mas por enquanto, a economia global ainda é movida a petróleo.

Levará algum tempo até que os governos atestem isso, mas todos os dados apontam na mesma direção: nas últimas semanas, a demanda global de petróleo ultrapassou o pico mensal estabelecido em 2019, antes da pandemia de covid-19.

Expressa em barris por dia, a nova alta recorde no consumo global de petróleo totaliza cerca de 102,5 milhões, provavelmente atingida nas últimas semanas de julho e acima dos 102,3 milhões de agosto de 2019.

Imagine o seguinte: usamos petróleo bruto suficiente para encher cerca de 6.500 piscinas olímpicas todos os dias. Mais de um terço dessas piscinas seria necessário para atender à demanda de dois países: os Estados Unidos e a China.

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Consumo já superou níveis pré-pandemia. Fonte: Bloomberg via Agência Internacional de Energia

Isso não é inesperado. A Agência Internacional de Energia (AIE), que compila estatísticas de referência de oferta e demanda, previu esse fato há meses. Era apenas questão de tempo, já que a demanda por petróleo aumenta durante o verão do Hemisfério Norte, quando milhões de famílias europeias e americanas consomem gasolina e combustível de avião durante as férias. O custo no atacado de produtos refinados, como a gasolina, também está subindo.

É verdade que o novo marco de demanda é apenas um dado específico frágil. As estatísticas globais de consumo de petróleo são rotineiramente revisadas, e o número final provavelmente não será definido até o próximo ano, ou mesmo até 2025. A margem de erro também é relativamente grande, provavelmente de pelo menos 1 milhão de barris por dia. Mas a experiência indica que a demanda geralmente é revisada para cima, e não para baixo.

Até o momento, temos apenas números parciais para maio e junho e evidências direcionais para julho. Extrapolando do início deste ano, as novas informações, incluindo dados de congestionamento em tempo real em vários países e viagens aéreas globais, sugerem que a demanda global de petróleo ultrapassou o pico pré-covid recentemente, mesmo considerando a margem de erro.

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De fato, temos informações muito melhores sobre o período de janeiro a abril. A demanda global por petróleo foi em média de 100,8 milhões de barris por dia durante os primeiros quatro meses de 2023, acima do mesmo período de 2019, quando a média foi de 99,9 milhões, de acordo com meus cálculos baseados em dados mensais da AIE.

Fonte: cálculos da Bloomebrg Opinion com base em dados da Agência Internacional de Energia

Ironicamente, a gasolina, o combustível que é o primeiro a sofrer com o aumento dos veículos elétricos, está desempenhando um papel importante no aumento da demanda. Há apenas alguns meses, a sabedoria convencional dizia que 2019 marcava o pico do consumo de gasolina. Agora, parece cada vez mais que a demanda por gasolina irá, no mínimo, igualar a alta pré-pandemia.

A gasolina está se beneficiando de três fatores: mesmo com o boom dos carros elétricos, o número absoluto de carros movidos a gasolina ainda está aumentando; os consumidores estão mantendo seus veículos por mais tempo, adiando a melhoria que vem com modelos mais novos e mais eficientes em termos de combustível; e, na Europa, os consumidores trocaram seus carros a diesel por carros a gasolina, dando a estes últimos certo impulso.

A AIE chamou o recente aumento no consumo de gasolina de “último suspiro” – pode até ser, mas lembremos que o fim do combustível já foi declarado outras vezes. Independentemente do que aconteça com os automóveis, o que está claro é que, de acordo com as tendências atuais, a demanda global por petróleo aumentará mais 3% a 4% nos próximos cinco anos, antes de se estabilizar em um patamar elevado.

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Por enquanto, não há sinais de que o consumo diminuirá tão cedo. Gostaria que provassem que estou errado, mas atualmente não há nenhuma chance de que o mundo reduza o consumo de petróleo até 2030 até o patamar necessário para atingir suas metas de emissões líquidas zero. E é por isso que muitos governos, embora preguem a sustentabilidade em público, peçam aos executivos do petróleo que continuem investindo em mais produção.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Jabier Blas é colunista da Bloomberg Opinion que cobre energia e commodities. Anteriormente, ele foi repórter da Bloomberg News e editor de commodities do Financial Times e é coautor de “The World for Sale: Money, Power, and the Traders Who Barter the Earth’s Resources”.

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