O raio-X dos CEOs de melhor desempenho da América Latina

Diferentes aspectos e condições dos mercados da região tornaram o CEO latino-americano um profissional versátil e engenhoso, segundo a Adecco

Cidade do México
20 de Julho, 2023 | 03:00 PM

Bloomberg Línea — A Bloomberg Línea preparou uma lista dos principais CEOs com o melhor desempenho em grandes empresas de capital aberto na América Latina. Para isso, levou em conta aqueles executivos com pelo menos um ano no cargo, em oito países, entre quase uma centena de empresas e centenas de dados no Terminal Bloomberg. Ao todo, 87 empresas e 88 CEOs se enquadraram no recorte (uma das empresas tem dois CEOs).

Uma das principais preocupações que surgem após a aplicação da metodologia é o fato de não haver CEOs mulheres na amostra. E embora quase todas as empresas tenham mulheres em seus conselhos, nenhuma delas ultrapassa a cota de 50%.

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Consulte a lista dos principais CEOs aqui

O diretor executivo da divisão LHH Recruitment Solutions da Adecco, Andrés Alvarado, explica à Bloomberg Línea que o perfil do CEO na América Latina é muito amplo, dada a realidade de cada país e o fato de que em cada um desses mercados existe um universo de profissionais com características diferentes.

De acordo com diferentes estudos realizados pela empresa de recursos humanos e entrevistas com diferentes líderes, 80% ou mais das pessoas que ocupam esses cargos na região têm pós-graduação, como uma especialização em seus países ou um mestrado.

Enquanto isso, os 20% restantes são profissionais estritamente graduados, e muitos são até mesmo empresários que nunca concluíram seus estudos.

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De fato, o CEO de empresas de pequeno e médio porte geralmente é um empreendedor.

Remuneração e salários dos CEOs

Com relação aos salários, a Adecco aponta que eles podem ser de cerca de US$ 5.000 por mês em uma empresa de pequeno e médio porte e de até US$ 50 mil por mês em grandes multinacionais, que podem ter responsabilidade regional, ou em uma empresa multinacional de origem latina.

De acordo com a Adecco, um quarto desses profissionais foi promovido por meio de linhas de vendas ou marketing, principalmente por causa de suas habilidades, dinamismo, contatos e capacidade de vendas.

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Enquanto isso, os relatórios da divisão de recrutamento e seleção de executivos da Page Executive Colombia indicam que as partes fixas e variáveis do pacote de remuneração dependem em grande parte do faturamento da empresa e do tamanho do número total de funcionários responsáveis.

Entretanto, essa divisão do PageGroup explicou que, em média, os CEOs recebem um salário mensal mínimo de US$ 10 mil e uma parcela anual variável que varia entre 25 e 35 pontos percentuais do salário-base anual da pessoa.

Esses pacotes de remuneração geralmente incluem políticas de trabalho flexíveis, plano de saúde, carro da empresa, programas de incentivo de longo prazo (por exemplo, opções de ações), seguro de vida, entre outros benefícios.

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O que diferencia os CEOs da América Latina?

Gustavo Moreno, associate principal da Page Executive Colômbia, explica à Bloomberg Línea que os CEOs da América Latina têm uma vocação muito alta para a preparação acadêmica e a base técnica para o exercício de suas funções na corporação.

“Embora seja verdade que não é conveniente generalizar e que essas considerações podem variar muito dependendo do setor, dos tipos de negócios, entre outros aspectos, é importante destacar que uma parcela significativa dos CEOs fez um curso de graduação relacionado ao setor em que atuam e mestrado (vários deles com MBAs ou similares), com ampla experiência de liderança e atuação profissional em diferentes países e culturas”, afirma.

Para o executivo, esse último aspecto é particularmente relevante porque, dado o contexto de globalização, a capacidade de gerenciar estrategicamente diferentes mercados, tipos de pessoas e portfólios de produtos e/ou serviços é muito apreciada pelos empregadores.

“Seu perfil de liderança é caracterizado por alta capacidade estratégica, adaptabilidade, recursividade, e algo que a pandemia nos deixou é a capacidade de liderar com foco no ser humano, ou seja, nos funcionários”, disse Alvarado, da Adecco.

Ele acrescenta que a onda de startups na América Latina trouxe consigo um boom de CEOs empreendedores com uma visão global.

Nesse sentido, ele enfatiza que, embora normalmente as maiores empresas latino-americanas venham de setores muito focados em commodities e serviços, e não tanto no lado industrial ou de inovação, hoje se reflete uma mudança de paradigma: “Vemos que, com todo esse crescimento, destaca-se a visão global dos latino-americanos com o desejo de alcançar mercados nunca antes explorados, identificando necessidades locais e globais”.

Traços culturais dos CEOs

A Page Executive acredita que os CEOs da América Latina se diferenciam por fatores culturais que “circunscrevem suas ações em uma estrutura específica e com seu próprio estilo de relacionamento com os outros”.

Apesar das diferenças drásticas que existem entre os diferentes países que compõem a região, pode-se afirmar, em termos gerais, que a América Latina é uma área geográfica caracterizada pelo tratamento afável de seus habitantes e pela cordialidade de sua cultura”.

“Além disso, vale ressaltar que, por razões históricas, vários países latino-americanos passaram por circunstâncias socioeconômicas desafiadoras, o que forjou uma sociedade resiliente, ousada, engenhosa, inovadora e altamente orientada para a realização, por meio da qual as empresas são forjadas com o mesmo espírito empreendedor e resiliente da sociedade em que colocam em prática o exercício de seu objeto social”, explicaram.

A Adecco resume o perfil do CEO na América Latina como “um profissional extremamente engenhoso”, pois as condições de mercado são muito diferentes nessa região em comparação com os países desenvolvidos.

“O CEO latino-americano tem uma grande facilidade para empreender e criar. Por exemplo, na América Latina, a informalidade do trabalho os obriga a criar produtos para a base da pirâmide, o que levou ao nascimento de empresas muito grandes na região”, enfatizam.

Anatomia dos CEOs, segundo a lista da Bloomberg Línea

Sexo*: masculino

Idade média: 55,9 anos

Tempo médio de permanência dos CEOs no cargo*: 8,9 anos

Participação em conselhos*: 45%

Formação dos principais CEOs**: MBAs da Harvard Business School, Stanford University, Kellogg School of Management

Cargo por herança**: apenas 2 dos 15 principais CEOs são membros da família dos fundadores

Setores dos principais CEOs**: 4 em finanças, 4 em varejo, 3 em energia, 2 em logística, 2 em tecnologia

*A Bloomberg Línea avaliou 87 grandes empresas de capital aberto da América Latina e do Caribe.

** Dados referentes aos 15 CEOs, com mais de um ano no cargo, com os maiores percentuais de Retorno Total Anualizado (TRA%), de acordo com o Terminal Bloomberg.

Veja a avaliação completa dos 88 CEOs analisados

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.