Mudança de CEO e de diretor criativo na Gucci é aposta arriscada

Marca de luxo – a maior da controladora Kering – anunciou saída do CEO Marco Bizzarri poucos dias antes de divulgar o balanço do segundo trimestre

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Bloomberg Opinion — Após a saída do ex-estilista Alessandro Michele da Gucci em novembro passado, a controladora Kering disse nesta terça-feira (18) que o CEO da marca italiana, Marco Bizzarri, deixará o cargo como parte de uma mudança mais ampla na alta administração.

As ações da Kering subiam cerca de 6% na quarta-feira (19) enquanto investidores apostaram que as mudanças mudariam a sorte do grupo francês, que ficou atrás de rivais como a LVMH.

Mas essa reação parece exagerada. Embora a mudança possa ajudar a revigorar a Gucci, mudar o CEO ao mesmo tempo em que ocorre uma ruptura criativa crucial é arriscado. A Gucci é o motor da fortuna da Kering, e essas duas transições devem ser gerenciadas com cuidado.

Sob a gestão de Bizzarri, que assumiu o comando da Gucci em 2015, e Michele, que entrou na mesma época, a marca realizou uma transformação notável, turbinando o crescimento das vendas e introduzindo o maximalismo ousado no setor da moda. Mas a Gucci nunca se recuperou realmente da queda nas vendas durante a pandemia, e seus sapatos e acessórios com logotipos pesados, bem como suas roupas de estilo “granny chic”, caíram em desuso entre os fashionistas, especialmente jovens chineses que eram seus maiores fãs.

Com a saída de Michele, a saída de Bizzarri não é inesperada, mesmo que o CEO da Kering, François-Henri Pinault, tenha dito em janeiro que Bizzarri permaneceria no cargo e lideraria a Gucci no período pós-Michele.

A saída de Bizzarri está marcada para 23 de setembro, mais ou menos na época em que o novo diretor criativo da Gucci, Sabato de Sarno, apresentará sua primeira coleção. Isso significa que o ex-designer da Valentino, de Sarno, e o novo CEO interino da Gucci, Jean-François Palus, executivo de longa data da Kering, terão total controle sobre o novo capítulo da marca.

Palus é uma aposta segura para conduzir a Gucci neste momento importante. Pinault o descreveu como “meu braço direito... por várias décadas”.

Mas é comum que um CEO escolha o diretor de criação. A ordem das nomeações nesse caso pode criar uma dinâmica complicada. E Palus não permanecerá no cargo – a Kering diz que sua gestão será de “transição”, o que aponta para outra mudança mais adiante.

A decisão sobre o CEO da Gucci foi anunciada como parte de uma mudança mais ampla na administração. Francesca Bellettini, CEO da Yves Saint Laurent desde 2013, foi elevada a CEO adjunta, responsável pelo desenvolvimento da marca. Os líderes das divisões da Kering, incluindo a Balenciaga e a Bottega Veneta, se reportarão a ela, e ela será responsável por conduzi-las aos próximos estágios de crescimento. O diretor financeiro Jean-Marc Duplaix também foi nomeado CEO adjunto.

Bellettini, que aumentou a receita anual da Saint Laurent de cerca de 550 milhões de euros (US$ 3,7 bilhões) para 3,3 bilhões de euros (US$ 3,7 bilhões) durante seu mandato, poderá influenciar a Gucci em seu novo cargo. Também é possível que ela venha a se tornar CEO da Gucci. Mas, se for o caso, por que não fazer essa mudança agora?

De qualquer forma, as mudanças da administração devem ser feitas com cuidado.

A Gucci é a maior marca da Kering, gerando uma receita de 10,5 bilhões de euros (US$11,7 bilhões) no ano passado, sendo responsável por cerca de metade das vendas do grupo e por cerca de dois terços do lucro operacional. A Gucci também tem muito trabalho a fazer: elevar seus produtos (da categoria de preço mais premium para a de super luxo) e adotar uma estética mais minimalista, de acordo com a tendência atual de riqueza discreta.

O fato de a mudança ter ocorrido dias antes de a Kering anunciar o faturamento do segundo trimestre também levanta dúvidas de que o desempenho da Gucci possa ser pior do que o esperado, dada a desaceleração nos Estados Unidos e a recuperação da China talvez não seja tão forte quanto previsto.

Mesmo com a alta das ações registrada nesta quarta-feira, as ações da Kering subiram apenas cerca de 10% este ano – metade do ganho do índice MSCI World Textiles, Apparel & Luxury. Elas são negociadas com uma relação preço/lucro futura de 15,8 vezes, um desconto de 32% em relação ao setor, segundo dados da Bloomberg.

No passado, a Kering provou ser mestre em combinar a administração certa com o talento criativo. Para diminuir a diferença com os rivais, ela precisa repetir essa façanha novamente, além de provar que a Gucci não está mais fora de moda.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Andrea Felsted é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre os setores de varejo e bens de consumo. Anteriormente, escrevia para o Financial Times.

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