Bloomberg — Um vasto céu azul, um cenário de imponentes montanhas dos Andes cobertas de neve e um espetacular edifício em forma de pirâmide que parecia um templo maia cercado de videiras: essa foi minha primeira impressão da Catena Zapata, uma das vinícolas mais famosas da Argentina, em minha primeira visita há quase duas décadas.
O enólogo Nicolas Catena fez o malbec argentino se tornar conhecido. Sua carismática filha Laura agora dirige a vinícola, em que é possível jantar no novo restaurante nas videiras, bancar o enólogo por um dia, harmonizar vinho com música ou fazer um passeio até o vinhedo Adrianna, a uma altitude de 1.500 metros.
Na quarta-feira (12), a Catena Zapata foi coroada a melhor propriedade vinícola do mundo a ser visitada na cerimônia de premiação dos 50 Melhores Vinhedos do Mundo, realizada com muito alarde em Rioja, na Espanha.
Esta é a quinta edição da premiação anual, organizada pela empresa familiar de dados digitais e eventos William Reed Media, sediada em Londres, que também divulga a importante e influente lista dos 50 Melhores Restaurantes do Mundo.
“A lista destaca os melhores destinos de enoturismo em todo o mundo”, disse Andrew Reed, diretor administrativo de vinhos e exposições da William Reed. “Entendemos que o vinho é mais do que o suco de uva. É também a história por trás da vinícola, as experiências que o visitante pode ter lá.” Em 2023, disse ele, “há mais novos vinhedos na lista do que nunca”.
Um dos objetivo da lista, naturalmente, é promover o turismo do vinho em todo o mundo. A Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas realizou sua primeira conferência global sobre vinhos em 2016.
Em um e-mail, Sandra Carvao, diretora de Inteligência de Mercado e Competitividade da OMT, disse que “não há dados globais sobre o turismo do vinho”, algo que eles esperam abordar em uma próxima conferência.
Ao mesmo tempo, a Future Market Insights Global and Consulting estima que o mercado de enoturismo chegará a US$ 85,1 bilhões em 2023 e projeta que chegará a US$ 292,5 bilhões em 2033.
O crescimento do enoturismo e o número de vinícolas nas últimas duas décadas são, em parte, o motivo pelo qual a William Reed expandiu seu portfólio.
Como são escolhidos os melhores
A estrutura do prêmio é semelhante à forma como os 50 Melhores Restaurantes do Mundo são selecionados. Uma academia de votação global inclui presidentes de 22 regiões geográficas; cada um deles recruta um painel de cerca de 36 especialistas em vinhos e viagens não identificados.
Os mais de 500 juízes indicam até sete vinícolas que visitaram pessoalmente nos últimos dois anos. Os votos são contados e agrupados, e o vinhedo com o maior número de votos lidera a lista, que conta com os 100 melhores vinhedos, mas destaca os 50 melhores.
As vinícolas devem estar abertas ao público, mas não há um conjunto definido de critérios, o que é um pouco problemático.
“Ter um vinho decente é o mínimo”, disse Reed, e os juízes classificam as vinícolas com base na experiência geral do visitante – o que significa uma arquitetura impressionante, vistas que impressionam, talvez um restaurante com estrela Michelin ou adegas históricas, atividades práticas criativas, concertos, ambiente e muito mais.
Por exemplo, no segundo lugar deste ano (pelo segundo ano consecutivo) está o histórico Marqués de Riscal, na Espanha, com seu impressionante hotel projetado por Frank Gehry, adornado por largas tiras de alumínio em tons de roxo, dourado e prateado.
Em terceiro lugar, subindo uma posição em relação à classificação de 2022, está o Vik, um destino de vinhos de luxo autônomo no Chile, criado em 45 quilômetros quadrados de território virgem.
Além da vinícola, o local abriga um hotel repleto de arte contemporânea e um restaurante de comida típica e oferece passeios a cavalo pelos vinhedos.
Sustentabilidade
Visitei a maioria das 50 principais vinícolas da lista e, nesta era de mudança climática, eu diria que a sustentabilidade deve ser um critério essencial. Fiquei feliz em ver que alguns vencedores, como os vinhedos que ocupam o quarto, quinto e sexto lugares, são estrelas da sustentabilidade.
A Creation Wines (em quarto lugar), da África do Sul, fica no coração de Cape Floral Kingdom, uma das regiões vinícolas com maior biodiversidade do mundo. A propriedade conta com uma casa de campo movida a energia solar nos vinhedos, trilhas para caminhadas e ciclismo e harmonizações de vinhos com pratos à base de plantas.
O Château Smith Haut Lafitte (em quinto lugar), em Bordeaux, líder em viticultura orgânica e biodinâmica, oferece uma trilha de caminhada na “floresta dos sentidos”, cavalos para arar os vinhedos e uma vinícola “furtiva” onde o CO2 da fermentação é transformado em bicarbonato de sódio.
Seu hotel e spa adjacente Source de Caudalie apresenta produtos de beleza derivados das uvas e videiras da vinícola.
A multimilionária Bodega Garzón, no Uruguai (em sexto lugar), de propriedade do bilionário Alejandro Bulgheroni, foi projetada para o enoturismo desde o início e obteve nível prata na certificação LEED, para empreendimentos sustentáveis.
Inclui um hotel de luxo, um restaurante de fogo aberto administrado pelo famoso chef Francis Mallman, aulas de culinária, aprendizado de como prensar azeitonas e piqueniques nos vinhedos.
A França e alguns países da América Latina - Argentina e Chile em particular - dominam os 50 primeiros lugares. Fiquei feliz em ver a Maison Ruinart em 22º lugar; suas crayères – adegas em cavernas de calcário – são as mais impressionantes da região e frequentemente são o local de experiências artísticas e sonoras brilhantes.
E é animador que a prestigiada casa de champanhe Bollinger (em 23º lugar) tenha se expandido recentemente para o oneoteurismo. Estranhamente, nenhuma das crescentes vinícolas da Provença que oferecem acomodações luxuosas e arte de classe mundial entraram no top 50 neste ano, embora uma tenha entrado no ano passado.
Apesar de uma menção a regiões vinícolas recém-reconhecidas, com vinhedos no Japão (38º lugar) e na Geórgia (47º lugar), fiquei surpresa com o fato de que apenas duas propriedades dos Estados Unidos (20º e 28º lugares) – nenhuma delas localizada no popular Napa Valley – , entraram no top 50.
E a lista contém apenas uma na Nova Zelândia e uma na Itália, destino favorito para muitos amantes do vinho.
Escolhas mais aventureiras e de butique ficaram entre o 51º e o 100º lugares, que podem ser acessados no site da lista, como a Canaan Winery da China (80º lugar), a uma hora de Pequim, e a Man O’ War da Nova Zelândia (77º ligar), na Ilha Waiheke, com espaços de degustação à beira-mar.
Na 73ª posição está a grande Ridge Vineyards dos Estados Unidos, no alto das montanhas de Santa Cruz, no norte da Califórnia, uma das minhas favoritas.
A importância de liderar a lista
O efeito de conquistar o primeiro lugar é imediato, de acordo com Sebastian Zuccardi, cuja impressionante vinícola de pedra da família no Vale do Uco, em Mendoza, Argentina, foi a grande vencedora em 2019, 2020 e 2021.
Agora, ela entrou para o Hall da Fama. “Houve um grande aumento no número de visitantes após o primeiro prêmio”, disse ele por e-mail, “e continuou aumentando após os outros que lideramos”.
O enoturismo é necessário para o lucro das vinícolas americanas? “A resposta clara é sim”, disse Rob McMillan, vice-presidente executivo e fundador da divisão de vinhos do Silicon Valley Bank, por e-mail.
Ele destacou que todas essas “experiências do visitante” despertam o interesse do consumidor e atraem pessoas para a sala de degustação e o clube de vinhos de uma vinícola, o que se traduz em vendas de garrafas que representam cerca de 70% da receita de um pequeno produtor premium.
Adrian Bridge, CEO da Flagship Partnership em Portugal, proprietário de várias casas de vinho do Porto, compartilhou certa vez por que achava que o enoturismo havia se tornado importante.
“A geração moderna está voltando a uma época anterior, quando as pessoas viajavam para explorar e entender. O vinho se tornou uma forma de desvendar uma região e uma cultura.”
Confira a seguir os 50 Melhores Vinhedos do Mundo:
1. Catena Zapata, Argentina
2. Bodegas de los Herederos del Marqués de Riscal, Espanha
3. Vik, Chile
4. Creation Wines, África do Sul
5. Château Smith Haut Lafitte, França
6. Bodega Garzón, Uruguai
7. Montes, Chile
8. Domäne Schloss Johannisberg, Alemanha
9. Bodegas Salentein, Argentina
10. El Enemigo Wines, Argentina
11. Rippon, Nova Zelândia
12. Weingut Dr. Loosen, Alemanha
13. Finca Victoria - Durigutti Family Winemakers, Argentina (estreante na lista com a melhor colocação)
14. Domäne Wachau, Áustria
15. Quinta do Crasto, Portugal
16. Quinta do Noval, Portugal
17. d’Arenberg, Austrália
18. Château d’Yquem, França
19. Château Pape Clément, França
20. Jordan Vineyard & Winery, EUA
21. González Byass – Bodegas Tio Pepe, Espanha
22. Maison Ruinart, França
23. Champagne Bollinger, França (estreante na lista)
24. Bodega Colomé, Argentina
25. Viñedos de Alcohuaz, Chile (estreante na lista)
26. Henschke, Austrália
27. Abadía Retuerta, Espanha
28. Brooks Wine, EUA (estreante na lista)
29. Ceretto, Itália
30. Bodega Bouza, Uruguai (estreante na lista)
31. Champagne Billecart-Salmon, França
32. Klein Constantia Winery, África do Sul
33. Château Pichon Baron, França
34. Château de Beaucastel, França (estreante na lista)
35. Szepsy Winery, Hungria (estreante na lista)
36. Delaire Graff Estate, África do Sul
37. Viña Casas del Bosque, Chile
38. Château Mercian Mariko Winery, Japão
39. Clos Apalta, Chile
40. Graham’s Port Lodge, Portugal
41. Château Kefraya, Líbano (estreante na lista)
42. Quinta do Seixo (Sandeman), Portugal
43. Viu Manent, Chile
44. Penfolds Magill Estate, Austrália
45. Disznókő, Hungria (estreante na lista)
46. Veuve Clicquot, França (estreante na lista)
47. Château Mukhrani, Geórgia (estreante na lista)
48. Bodega Diamandes, Argentina (estreante na lista)
49. Bodegas Muga, Espanha (estreante na lista)
50. Viña Errázuriz, Chile (estreante na lista)
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