Musk: como a guerra de preços da Tesla quase quebrou a startup de um amigo

Scott Painter, empreendedor serial, apostou em startup de assinatura de carros elétricos, até que a onda de descontos da Tesla mudou as condições de mercado

Por

Blomberg — Há um ano, um empreendedor serial que tentou repetidamente mudar a venda de automóveis anunciou uma nova empreitada.

Scott Painter, fundador da startup de tecnologia automotiva Fair, do serviço de precificação TrueCar e do portal de compras CarsDirect, disse que sua mais recente empreitada investiria US$ 1,2 bilhão para encomendar veículos elétricos de empresas como Tesla (TSLA), General Motors e Volkswagen.

A empresa, chamada Autonomy, ofereceria assinaturas de modelos, incluindo o Tesla Model 3 e o Chevrolet Bolt, proporcionando aos consumidores a opção entre um aluguel de curto prazo e um arrendamento ou empréstimo de vários anos.

No entanto houve um problema: meses após Painter tentar lançar a Autonomy, Elon Musk - amigo e ocasional confidente de Painter - começou a reduzir os preços dos veículos elétricos da Tesla de maneira agressiva, no que foi descrito por especialistas do setor como uma “guerra de preços”.

“Em vez de termos uma frota de US$ 85 milhões, de repente tínhamos uma frota de, digamos, US$ 56 milhões a US$ 57 milhões em um único dia”, disse Painter em entrevista à Bloomberg News.

A combinação dos cortes de preços promovidos por Musk e do acúmulo de estoque da Tesla, em níveis inéditos, levou a startup de Painter à beira do abismo.

“Naquele momento, estávamos muito vulneráveis aos nossos credores”, disse Painter. A Autonomy acabou passando por um processo de suspensão enquanto ele trabalhava para recapitalizar a empresa com uma nova rodada de financiamento. Ele também teve que cortar custos operacionais, o que incluiu reduzir a equipe da Autonomy para apenas 45 funcionários, de cerca de 120.

Esse encontro com o risco de depreciação deixou a Autonomy muito aquém do objetivo anunciado por Painter em agosto do ano passado de encomendar 23.000 veículos elétricos de 17 montadoras diferentes. A empresa está com cerca de 1.300 carros e o CEO acredita que o serviço precisará de cerca de 3.000 para atingir o ponto de equilíbrio financeiro.

Para chegar lá, Painter acredita que a Autonomy precisará de mais cerca de US$ 20 milhões em financiamento, o que ele acredita que será suficiente para liberar a capacidade de empréstimo de aproximadamente US$ 100 milhões necessária para expandir a frota.

Embora o pool de carros da Autonomy ainda seja relativamente pequeno, Painter disse que o serviço está funcionando bem. Uma nova parceria com a American Express trouxe mais de 1.000 reservas. Ele está otimista de que os esforços do Federal Reserve (Fed) para controlar a inflação, aumentando os custos do empréstimos, possam beneficiar a Autonomy.

“À medida que as taxas de juros aumentam, um empréstimo para [comprar um] carro se torna cada vez menos uma opção”, disse ele. “Qualquer pessoa que ganhe mais de US$ 100 mil por ano ficará bem, mas qualquer pessoa que esteja na marca de US$ 100 mil ou abaixo simplesmente não terá acesso a um veículo elétrico.”

Empresas como a Autonomy ainda podem enfrentar problemas em relação à desvalorização de seus veículos. Embora as vendas de carros elétricos continuem a crescer, o ritmo diminuiu.

E a Tesla não é a única com problemas de estoque: a Cox Automotive estima que havia um estoque equivalente a 103 dias de entregas de novos veículos elétricos disponíveis no final de junho, em comparação com 53 dias para a indústria em geral.

“O fornecimento do mercado continua elevado, então esperamos ver incentivos contínuos no futuro”, disse Jeremy Robb, diretor sênior de insights econômicos e da indústria da Cox Automotive.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

BYD entra de vez na corrida do lítio para carros elétricos na América Latina

Tesla tem vendas recordes no 2º tri após cortes de preços e supera expectativas

No maior mercado de carro elétrico, dois vencedores e centenas de perdedores