Musk: como a guerra de preços da Tesla quase quebrou a startup de um amigo

Scott Painter, empreendedor serial, apostou em startup de assinatura de carros elétricos, até que a onda de descontos da Tesla mudou as condições de mercado

Tesla começou a anunciar corte nos preços de seus principais modelos no ano passado e mudou a dinâmica do mercado
Por Sean O'Kane
12 de Julho, 2023 | 12:02 PM

Blomberg — Há um ano, um empreendedor serial que tentou repetidamente mudar a venda de automóveis anunciou uma nova empreitada.

Scott Painter, fundador da startup de tecnologia automotiva Fair, do serviço de precificação TrueCar e do portal de compras CarsDirect, disse que sua mais recente empreitada investiria US$ 1,2 bilhão para encomendar veículos elétricos de empresas como Tesla (TSLA), General Motors e Volkswagen.

A empresa, chamada Autonomy, ofereceria assinaturas de modelos, incluindo o Tesla Model 3 e o Chevrolet Bolt, proporcionando aos consumidores a opção entre um aluguel de curto prazo e um arrendamento ou empréstimo de vários anos.

No entanto houve um problema: meses após Painter tentar lançar a Autonomy, Elon Musk - amigo e ocasional confidente de Painter - começou a reduzir os preços dos veículos elétricos da Tesla de maneira agressiva, no que foi descrito por especialistas do setor como uma “guerra de preços”.

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“Em vez de termos uma frota de US$ 85 milhões, de repente tínhamos uma frota de, digamos, US$ 56 milhões a US$ 57 milhões em um único dia”, disse Painter em entrevista à Bloomberg News.

A combinação dos cortes de preços promovidos por Musk e do acúmulo de estoque da Tesla, em níveis inéditos, levou a startup de Painter à beira do abismo.

“Naquele momento, estávamos muito vulneráveis aos nossos credores”, disse Painter. A Autonomy acabou passando por um processo de suspensão enquanto ele trabalhava para recapitalizar a empresa com uma nova rodada de financiamento. Ele também teve que cortar custos operacionais, o que incluiu reduzir a equipe da Autonomy para apenas 45 funcionários, de cerca de 120.

Esse encontro com o risco de depreciação deixou a Autonomy muito aquém do objetivo anunciado por Painter em agosto do ano passado de encomendar 23.000 veículos elétricos de 17 montadoras diferentes. A empresa está com cerca de 1.300 carros e o CEO acredita que o serviço precisará de cerca de 3.000 para atingir o ponto de equilíbrio financeiro.

Para chegar lá, Painter acredita que a Autonomy precisará de mais cerca de US$ 20 milhões em financiamento, o que ele acredita que será suficiente para liberar a capacidade de empréstimo de aproximadamente US$ 100 milhões necessária para expandir a frota.

Embora o pool de carros da Autonomy ainda seja relativamente pequeno, Painter disse que o serviço está funcionando bem. Uma nova parceria com a American Express trouxe mais de 1.000 reservas. Ele está otimista de que os esforços do Federal Reserve (Fed) para controlar a inflação, aumentando os custos do empréstimos, possam beneficiar a Autonomy.

“À medida que as taxas de juros aumentam, um empréstimo para [comprar um] carro se torna cada vez menos uma opção”, disse ele. “Qualquer pessoa que ganhe mais de US$ 100 mil por ano ficará bem, mas qualquer pessoa que esteja na marca de US$ 100 mil ou abaixo simplesmente não terá acesso a um veículo elétrico.”

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Empresas como a Autonomy ainda podem enfrentar problemas em relação à desvalorização de seus veículos. Embora as vendas de carros elétricos continuem a crescer, o ritmo diminuiu.

E a Tesla não é a única com problemas de estoque: a Cox Automotive estima que havia um estoque equivalente a 103 dias de entregas de novos veículos elétricos disponíveis no final de junho, em comparação com 53 dias para a indústria em geral.

“O fornecimento do mercado continua elevado, então esperamos ver incentivos contínuos no futuro”, disse Jeremy Robb, diretor sênior de insights econômicos e da indústria da Cox Automotive.

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