Como navegar nas incertezas atuais e antecipar os rumos da economia

Observar a taxa de poupança de um país e sua alocação de capital humano pode ajudar a esclarecer o futuro em uma era com muitas dúvidas sobre a economia

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Bloomberg Opinion — Uma maneira de lidar com a atual incerteza econômica global é procurar indicadores consistentes e confiáveis para ajudá-lo a navegar pelo caos. Outra maneira é focar em algumas verdades consagradas pelo tempo sobre poupança e capital humano. Em uma era de pandemia e crise financeira, essas velhas verdades da economia são frequentemente esquecidas.

Primeiro, os países que têm altas taxas de poupança colherão retornos compostos. Se conseguirem manter essas altas taxas de poupança, acabarão detendo partes substanciais da economia mundial. Cingapura e Noruega são exemplos desse fenômeno – parte da riqueza da Noruega vem da boa sorte de seu petróleo.

A Alemanha é outro país com uma taxa de poupança historicamente alta (embora não tenha tido o sucesso de investimento de Cingapura). Sim, a Alemanha enfrenta sérios problemas: um sistema educacional desgastado, um desempenho de infraestrutura duvidoso, o risco de desindustrialização devido à concorrência chinesa, por exemplo. No entanto, os padrões relativamente sóbrios de poupança e gastos da Alemanha, inclusive do setor público, lhe conferem certa solidez.

Já o Reino Unido está no extremo oposto desse espectro. Em comparação com os outros países do G7 (grupo que reúne sete das maiores economias desenvolvidas), o Reino Unido tem baixas taxas de poupança e investimento bruto doméstico.

Isso significa que um percentual relativamente alto de sua atividade econômica é financiada por estrangeiros, que colhem uma grande parte dos retornos compostos desse investimento. É por isso que Londres e algumas outras partes do sul da Inglaterra podem parecer tão esplêndidas mesmo com padrões de vida da população nada impressionantes.

A Holanda tem uma cultura semelhante à do Reino Unido, mas poupa mais e mantém manter uma posição líquida mais positiva de ativos estrangeiros. A posição internacional líquida do Reino Unido é muito menos positiva e isso se tornará um fator significativo em um futuro mais distante, além da renda per capita atualmente mais alta da Holanda. Pode-se até discutir quais são as causas e quais são os efeitos, mas vale notar que é possível ver muito menos cidades degradadas na Holanda do que no Reino Unido.

Outro país semelhante ao Reino Unido é a Irlanda, e no país o contraste também é instrutivo: embora bastante dependente do capital estrangeiro, a Irlanda está tomando muito cuidado para melhorar seu desempenho no ensino superior, e a poupança bruta das famílias é satisfatória.

Isso ajudará a Irlanda a reduzir sua dependência do capital estrangeiro e a obter ganhos para os trabalhadores domésticos. Suas perspectivas econômicas parecem boas.

O capital humano é outra forma de poupar e armazenar riqueza – e um país que se sai muito bem no departamento de capital humano são os Estados Unidos, embora com uma alta variação de resultados.

Os americanos trabalham muito e têm uma educação relativamente boa entre os mais abastados. Os EUA também adotam uma cultura de criatividade e têm um histórico muito bom de atração e assimilação de imigrantes.

Todas essas características ajudam os EUA a superar sua baixa taxa de poupança familiar. Muitos americanos armazenam sua riqueza na forma de capital humano, o que dificulta a captura do excedente produtivo dos EUA por investidores estrangeiros.

O Canadá, por sua vez, tomou a decisão de aumentar o valor de seu capital humano ao receber muito mais imigrantes e usar um sistema de pontos para selecionar pessoas mais instruídas e com salários mais altos. A posição dos ativos estrangeiros líquidos do Canadá também é forte e está melhorando. Esses dois fatores são motivos para ter uma visão otimista da economia canadense.

Todos esses são fatos simples sobre a riqueza das nações, com um raciocínio que não teria surpreendido Adam Smith. Em meio às disputas políticas de curto prazo sobre inflação e estímulo econômico, esses fundamentos são frequentemente ignorados. Se você quiser ter uma noção mais clara do rumo da economia mundial, comece com algumas perguntas simples sobre os tipos de recursos que um país possui e como ele os utiliza.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. É professor de economia na George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution. É coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives, and Winners Around the World”.

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