Bloomberg Línea — Os fundos de venture capital (VCs) que operam na América Latina tiveram um semestre desafiador nos primeiros seis meses de 2023, com queda acentuada nas operações de saída (ou exits) na região, como são classificadas as vendas da participação nas startups ou IPOs.
De acordo com dados da plataforma Pitchbook divulgados nesta quinta-feira (6), a América Latina registrou 23 saídas de fundos de venture capital de janeiro a junho, uma redução de 57% sobre as 54 operações do tipo nos primeiros seis meses do ano passado.
Analisando o mercado de saída em escala global, o valor total das operações atingiu US$ 51 bilhões no segundo trimestre de 2023. O resultado é o segundo mais baixo para um trimestre desde os primeiros três meses de 2018, de acordo com o PitchBook.
A queda é atribuída à escassez de oportunidades no mercado de capitais e ao aumento do escrutínio antitruste, que tem mantido as grandes aquisições em segundo plano.
Além disso, as tensões geopolíticas e a inflação global também afetaram negativamente as saídas, segundo os analistas do PitchBook Kyle Stanford e Nalin Patel.
Captações em recuperação
Já em relação às captações de novos recursos por parte dos fundos de investimento na América Latina, os dados mostram uma recuperação depois de um período de baixa no ano passado.
As empresas do ramo na região captaram US$ 1,3 bilhão de janeiro a junho deste ano. O valor é próximo da quantia levantada em todo o ano passado, quando os fundos captaram US$ 1,4 bilhão. Já em 2021, o volume de captações somou US$ 2,2 bilhões no ano todo.
Neste ano, foram realizados 415 aportes de investimentos em startups latino-americanas até junho.
Para Hernán Kazah, cofundador e sócio-diretor da Kaszek, uma das principais empresas de venture capital da América Latina, o mercado enfrenta um processo de racionalização, com empresas se concentrando em projetos-chave e reduzindo a queima de capital para buscar sustentabilidade.
“Muitos estavam fazendo coisas que não deveriam ter feito”, disse ele em entrevista recente à Bloomberg Línea. “O que fizemos no ano passado foi um processo enorme de racionalização em que vimos as empresas se concentrarem em dois ou três projetos-chave de cada uma e em reduzir o capital que estavam queimando mês a mês, ano a ano, para tentar alcançar, com o capital levantado, a sustentabilidade.”
Conjuntura desfavorável
Enquanto a América Latina viu uma recuperação nas captações, a desaceleração na aquisição de recursos na Europa e na América do Norte pressionou o total global de captação para baixo este ano.
A conjuntura global continua desfavorável para os gestores de fundos que buscam captar recursos para investir em startups, uma vez que os LPs (Limited Partners, como fundos de pensão, endowments e grandes instituições que tem os recursos geridos por VCs) têm recebido volumes menores de capital para reinvestir em novos empreendimentos, segundo os analistas do PitchBook.
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