Bloomberg Línea — O co-fundador e managing partner da Kaszek Ventures, Hernan Kazah, disse à Bloomberg Línea que o modelo de SPACs, conhecidos como empresas de “cheque em branco”, continua no radar como uma alternativa para levar startups da América Latina à bolsa de valores mesmo depois que a companhia lançada por ele e executivos do Mercado Livre (MELI) foi dissolvida no mês passado.
No início de junho, a empresa MEKA, um SPAC criada pela Kaszek e pelo Mercado Livre, retirou suas ações do mercado e reembolsou os acionistas que haviam investido na companhia em seu IPO (oferta pública inicial de ações) depois de falhar em encontrar uma empresa de tecnologia latino-americana para fusão e consequente listagem em Nova York.
A empresa havia levantado US$ 287 milhões (aproximadamente R$ 1,38 bilhão) em uma oferta pública inicial em 2021, mas foi dissolvida porque não conseguiu concluir uma fusão. A MEKA tinha captado o suficiente em seu IPO para levar uma grande empresa ao mercado de ações.
“Há algumas coisas desafiadoras à frente e não temos um plano concreto no momento. Mas o problema não foi a ferramenta [do SPAC] em si”, disse Kazah em entrevista à Bloomberg Línea.
Para ele, o modelo das “empresas de cheque em branco”, questionado por muito investidores, continua válido. Na sua visão, equipes combinadas como a da Kaszek com a do Mercado Livre poderiam ajudar boas companhias de tecnologia a chegar aos mercados públicos em melhores condições.
SPAC é a sigla para Special-Purpose Acquisition Company, como são chamadas as empresas que levantam recursos de investidores em ofertas públicas iniciais com um objetivo específico de encontrar e daí promover uma fusão com outra companhia para levá-la para a bolsa de valores. Por essa razão, os SPACs ficaram conhecidos no mercado de capitais como “companhias de cheque em branco”.
Criados nos Estados Unidos há mais de duas décadas, os SPACs se tornaram mais populares entre investidores na América Latina no ano passado - e no mercado americano em 2020 e 2021.
“Fechamos o SPAC há duas semanas porque não conseguimos achar o alvo que procurávamos”, disse Kazah.
“Quando começamos o SPAC da MEKA, havia um mercado super bullish [otimista] e naquele momento um valor lógico [para fusões] acabava sendo superado por ofertas de investidores privados que pagavam um valuation um pouco mais alto [para aportes em startups]. E depois o contrário aconteceu, o mercado fechou e ficou bearish [pessimista]”, disse o investidor de longa data em startups.
O MEKA procurava uma empresa na área de tecnologia na América Latina. Nesse contexto, empreendedores de boas companhias, segundo Kazah, dispunham de capital, estavam fazendo reformulação de seus projetos e não tinham planos de vender ações em um momento em que consideravam que o preço seria injusto, de acordo com o executivo.
“[Primeiro] o mercado estava muito caro e oferecíamos preços que os investidores privados achavam que eram muito baixos. E depois o mercado ficou muito frio e os empreendedores de boas companhias preferiram tentar aguentar [sem fusão para viabilizar uma listagem]”, resumiu.
O MEKA foi criado pelo co-fundador do Mercado Livre Hernan Kazah e o ex-CFO da companhia Nicolas Szekazy, que deixaram o gigante do e-commerce em 2011 para fundar a empresa de investimentos em capital de risco Kaszek.
Kazah e o atual CFO do Mercado Livre, Pedro Arnt, eram os co-CEOs da MEKA, enquanto o co-fundador e CEO do Mercado Livre, Marcos Galperin, e Szekazy estavam entre os conselheiros especiais do SPAC.
A MEKA informou no último dia 5 de junho a dissolução e a liquidação da companhia. A empresa disse que resgataria todas as suas ações ordinárias da Classe A, com valor nominal de US$ 0,0001, que foram emitidas em sua oferta pública inicial, a um preço de resgate por ação, a ser pago em dinheiro, igual ao valor agregado então depositado na conta fiduciária.
O maior prejuízo da dissolução do veículo foi dos patrocinadores: a Kaszek e o Mercado Livre.
Dezenas de SPACs cancelaram IPOs previstos ou reembolsaram seus investidores nos últimos meses, em uma lista que incluiu a SVF Investment, supervisionada pelo SoftBank Investment Advisers, que também administra o Vision Fund do conglomerado japonês. Os planos de fusão do SPAC do golfista Tiger Woods também foram cancelados.
Mas há empresas que conseguiram atingir o seu objetivo, como revelou reportagem da Bloomberg Línea em março, ao apontar a fusão bem-sucedida dos SPACs da Mercato Partners, de Utah, com a startup brasileira Nuvini, e da HPX Corp., de Carlos Augusto Piani, Rodrigo Xavier e Bernardo Hees, com a Emergência Participações, da Ambipar.
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