Bloomberg — O apetite mundial por painéis solares está aumentando a demanda por prata, um fenômeno que amplia o déficit de oferta do metal, com pouca produção extra de minas no horizonte.
A pasta de prata é usada como uma camada condutora na frente e atrás das células solares de silício. No entanto, o setor está produzindo versões mais eficientes que utilizam muito mais do metal, o que amplia o consumo já crescente.
A energia solar ainda responde por uma parte relativamente pequena da demanda geral por prata, mas está crescendo.
A previsão é que represente 14% do consumo este ano comparado a cerca de 5% em 2014, de acordo com relatório do The Silver Institute, uma associação do setor.
Grande parte do crescimento vem da China, que está a caminho de instalar mais painéis este ano do que o total nos EUA.
A energia solar é um “ótimo exemplo de como a demanda por prata é inelástica”, disse Gregor Gregersen, fundador da negociadora Silver Bullion, com sede em Singapura. A indústria solar evoluiu e se tornou muito mais eficiente com o uso de quantidades menores de prata, mas isso está mudando, afirmou.
O emissor passivado padrão e a célula traseira (PERC) provavelmente serão ultrapassados nos próximos dois a três anos por contato passivado por óxido de túnel (TOPCon) e estruturas de heterojunção, de acordo com a BloombergNEF.
Enquanto as chamadas células PERC precisam de cerca de 10 miligramas de prata por watt, as células TOPCon requerem 13 miligramas e a heterojunção, de 22 miligramas.
Ao mesmo tempo, a oferta começa a ficar apertada. No ano passado, ela ficou estável mesmo quando a demanda aumentou quase 20%, segundo números do The Silver Institute. Neste ano, a produção deve crescer 2%, enquanto para o consumo industrial a expectativa é de alta de 4%.
O problema para os compradores de prata é que aumentar a oferta está longe de ser fácil, dada a raridade das minas primárias.
Cerca de 80% do fornecimento do metal vem de projetos de chumbo, zinco, cobre e ouro, sendo a prata um subproduto.
E em um ambiente onde as mineradoras já estão relutantes em se comprometer com grandes projetos novos, com as margens mais baixas da prata em comparação com outros metais preciosos e industriais, os sinais de preço positivos não são suficientes para elevar a produção.
Mesmo os projetos recém-aprovados podem demorar uma década para a produção.
O resultado é uma pressão sobre a oferta tão significativa que um estudo da Universidade de New South Wales prevê que o setor solar poderá esgotar entre 85% e 98% das reservas globais de prata até 2050.
Os volumes de prata usados por célula aumentarão, e pode levar cerca de cinco a 10 anos para trazê-los de volta aos níveis atuais, de acordo com Brett Hallam, um dos autores do artigo.
Alternativas
Empresas chinesas de energia solar, no entanto, estão explorando ativamente o uso de alternativas mais baratas, como o cobre galvanizado, embora até agora os resultados tenham sido mistos.
As tecnologias que usam metais mais baratos já estão suficientemente avançadas e logo serão colocadas em produção em massa quando os preços da prata subirem, de acordo com Zhong Baoshen, presidente da Longi Green Energy Technology, maior fabricante de painéis do mundo.
A prata é negociada atualmente a cerca de US$ 22,70 a onça. O metal caiu cerca de 5% este ano, mas está bem acima do patamar antes de subir em 2020, quando a pandemia impulsionou a demanda.
“A substituição vai parecer mais interessante quando a prata estiver em US$ 30 a onça, em vez de US$ 22 a US$ 23″, disse Philip Klapwijk, diretor-gerente da consultoria Precious Metals Insights, com sede em Hong Kong, e um dos autores do relatório do The Silver Institute.
Não haverá um “cenário apocalíptico” em que ficaremos sem prata, mas “o mercado vai restaurar o equilíbrio a um preço mais alto”, calcula.
-- Com a colaboração de Dan Murtaugh
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